Vias Romanas em Portugal
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VIAE
As Estradas Romanas
Evolução da investigação
O levantamento da rede viária utilizada em período romano tem atraído diversos estudiosos ao longo dos séculos, no entanto, subsistem ainda muitas dúvidas e incertezas quanto aos verdadeiros trajectos. Deste modo, os itinerários aqui publicados são constantemente actualizados à medida que novos achados vêm à superfície ou trabalhos de investigação são publicados. A evolução do site, correcções e novas propostas são registadas na página
«Evolução do Site».
Citando José d'Encarnação: «No âmbito da História, como no das demais ciências, progride-se de acordo com uma teoria filosófica sobejamente conhecida: procede-se durante muito tempo à pormenorizada análise dos dados, que pouco a pouco se vão complementando até formarem um todo, que é a síntese. Síntese que, por seu turno, pela vitalidade que em si encerra, é promotora de novas análises, já com uma visão mais alargada, na consciencialização de aspectos até aí ignorados ou menosprezados, porque nunca haviam sido postos em conjunto. Novas análises, portanto, a desembocarem, necessariamente, em nova síntese. E assim se avança» (Encarnação, 2011:196).
O Cursus Publicus
A rede de estradas dividia-se assim em
Viae Publicae (também ditas Militares ou Consulares), as
Viae Vicinales, estradas secundárias que interligam as grandes vias e as
Viae Agrari ou
Privatae, ou seja, caminhos agrícolas ou privados. Claro que esta classificação é atribuída apenas do ponto de vista administrativo pois a realidade está longe de corresponder a este modelo dito "clássico" da 'via romana'.
A melhor fonte sobre esta questão encontra-se na obra do cônsul romano
Siculus Flaccus,
«De condicionibus agrorum», onde escreve: «As vias não têm um estatuto único. Existem as
Viae Publicae que são construídas com fundos públicos, recebendo o nome do seu promotor.
O
Curator Viarum é responsável pela supervisão da via cuja construção é adjudicada a empreiteiros. Para a manutenção de algumas delas é fixada uma determinada soma aos proprietários em função da via em causa. Em contrapartida as
Viae Vicinales, partindo das
Viae Publicae, servem os campos ou ligam a outras
Viae Publicae. São construídas noutras modalidades, pelos responsáveis regionais que, em geral, exigem aos proprietários os trabalhos de manutenção». (in
«De condicionibus agrorum» Cap. XIX). Na rede principal operava o
cursus publicus, o sistema de distribuição postal que permitia comunicar com todos os locais estratégicos do Império. Na imagem ao lado está uma possível representação um desses correios, dado que apareceu na estação viária da Biscaia.Para atestar a relevância da existência de uma estrutura deste tipo em período romano, basta referir que, por exemplo, em Portugal o serviço «público» de correios só viria a ser novamente implantado em 1520, após a decisão régia que levou à criação do «Ofício do Correio-mor» que ficaria a partir daí incumbido de manter um serviço postal operacional.
O Sistema viário romano
O
cursus publicus romano é assim um sistema totalmente hierarquizado e planeado para cobrir todo um território, apoiado numa rede de estações de apoio designadas por
mutationes e
mansiones, dispostas ao longo do trajecto e prestando apoio aos viandantes. As
mutationes destinavam-se à muda de montadas e saciar a fome dos viajantes; estavam habitualmente separadas entre 8 e 12 milhas (entre 12 e 18 km), o que corresponde a uma etapa de meio-dia de caminho. Poderia também existir uma terceira tipologia de estação viária designada por
stationes situadas em locais de acesso estratégico, muitas vezes fortificadas e com vestígios de pequenas guarnições militares que controlavam o trânsito nesse ponto de passagem. Aparecem por exemplo no acesso a zonas mineiras (e.g. Lomba do Canho, Outeiro dos Castelinhos, etc.).
Por fim, no outro extremo teríamos
mansiones distribuídas em intervalos de uma jornada de caminho, permitindo que os viajantes ilustres pudessem pernoitar em aposentos condignos ao fim de cada etapa do caminho (na imagem ao lado, a estação viária de
Centum Cellas. Estas estão muitas vezes situadas nos grandes aglomerados populacionais e correspondem a um edifício específico dispondo de termas e outras comodidades; todavia, esta concepção está longe de corresponder à realidade no terreno, pois este tipo de edifícios parecem ser mais a excepção numa realidade arqueológica que tem demonstrado uma clara associação das estações referidas aos antigos povoados da Idade do Ferro que se mantiveram funcionais pelo período romano adentro. Em muitos casos, o processo de romanização leva à formação de um pequeno aglomerado populacional nas proximidades do povoado fortificado, beneficiando do seu posicionamento estratégico junto da via e por isso habitualmente designado por «
vicus viarum».
Estas albergarias e estalagens teriam o ambiente típico destas paragens. Pelo menos é isso que parece transparecer de uma singular inscrição, representada na figura ao lado, e que apareceu num destes locais de descanso, onde se conta uma anedota intemporal:
Um hospedeiro apresenta a conta a um viajante: "
Um quartilho de vinho e pão por 1 asse, uma refeição por 2 asses, uma rapariga por 8 asses e feno para a sua mula por 2 asses.
"
Maldição! Essa mula vai ser a minha ruína!" :)
.
Após o fim do Império
A invasão das tribos germânicas pouco terá alterado a configuração da rede apesar da sua provável degradação por falta de manutenção, numa época militarmente atribulada. Naturalmente que as vias não deixaram de ser reparadas ao longo da Alta-Idade Média, mas a rede deverá ter chegado ao final do milénio muito debilitada e sem memória da existência destas estações romanas, agora arruinadas. Com efeito, a termo 'romano' está completamente omissa na documentação medieval, e em vez disso a via é referida por expressões como «
strata mourisca», «
via mourisca» ou «
via antiqua», mostrando que o período romano já não era mais que uma uma vaga memória, e tudo o que era antigo, dizia-se simplesmente ser 'dos Mouros'. O primeiro esforço coordenado para recuperação da rede viária só viria a ser encetado pelo primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, que restaura ou funda castelos em pontos estratégicos da via e lança um programa de reabilitação destes grandes eixos viários, por exemplo, com o estabelecimento de diversas barcas de passagem.
Da Idade Média à Idade Moderna
Este emaranhado de caminhos perdurou pela Idade Média com sucessivos restauros ainda bem visíveis por todo o território nacional. É notável a construção de diversas grandes pontes durante este período, muitas delas ainda em funcionamento, como é o caso da Ponte da Lagoncinha ou a Ponte de Ucanha. A primeira no alinhamento da rota romana e a segunda criando um percurso directo entre Lamego e o Couto do Mosteiro de Salzedas. O serviço de correio apenas viria a ser reinstalado a partir de 1520, data da criação do Ofício do Correio-mor com a missão de estruturar e manter o serviço de correio postal do reino. Isso implicava, caso necessário, a reestruturação das estações de muda como se pode ler no primeiro decreto régio que atribui esta função a Luís Homem: "e assim nos praz para melhor aviamento dos ditos correios, que nos lugares de nossos reinos onde parecer ao dito Luís Homem que são necessários cavalos de postas, haja em cada lugar até dois homens obrigados a terem os ditos cavalos e de os darem aos ditos correios por seu dinheiro" (Torre do Tombo, Chancelaria de D. Manuel, Livro 37, fl. 98).
No entanto, o serviço público de correios só volta a funcionar em pleno em 1797 com a criação por alvará régio da regulamentação «das postas, correios e diligências de terra e mar» (até então um ofício concedida a particulares) e no ano seguinte aparece o primeiro
serviço de mala-posta, ou seja, o transporte do correio por carro, instituído após a publicação das «Instruções para o estabelecimento das diligências entre Lisboa e Coimbra», redigidas pelo Desembargador Jozé Diogo Mascarenhas Neto, à data Superintendente Geral das Estradas, cargo que exercia desde 1791. Mascarenhas Neto tinha publicado um ano antes no Porto um interessante livro intitulado
«Methodo para construir as estradas em Portugal», onde lança as bases do futuro sistema viário nacional, partindo da concepção romana para a rede viária.
As Estradas Reais
A rede foi progressivamente estruturada com estações de muda, estalagens e outras estruturas viárias que visavam melhorar as terríveis condições de circulação em que encontravam as estradas nacionais. No entanto, a chamada "Estrada Real" segue em geral os velhos trajectos pré-romanos, introduzindo por vezes pequenas variantes para resolver partes do percurso onde já não haveria viabilidade devido à sua degradação ao longo de séculos de utilização. Assim, não se pode falar em construção de uma nova rede de "Estradas Reais", mas sim reparação da antiga rede dita romana. Por exemplo na via Porto-Coimbra, nomeadamente na «Calçada da Ferrada» em Souto Redondo, resta ainda um troço com uma centena de metros calcetada com pequenos seixos de rio que criavam um pavimento bem resistente, mas algo inconfortável à passagem de carros como tantas vezes referido na literatura dessa época. No entanto, mais adiante, no Largo das Airas, surge um pequeno troço com cerca de 30 m que apresenta um pavimento formado por grandes lajes de pedra (possivelmente da época medieval), mostrando que a «Estrada Real» seguia o mesmo trajecto da "estrada romana". Por vezes foram construídas variantes, como parece ser o caso da passagem desta via em Oliveira de Azeméis pois o antigo trajecto seguia por Lações, Oliveira e Igreja de Úl, onde apareceu um miliário, mas a partir de dado momento, o percurso passou a ser feito por Troviscal, Silvares e Travanca, tal como a EN1, até reunir com a variante "romana" próximo de Travanca. Noutros casos fizeram-se obras mais importantes como é o caso da chamada "Estrada de D. Maria" no caminho de Coimbra a Leiria, que encurtou o trajecto para Coimbra através da construção de uma ponte em Pombal, desviando-o assim do percurso antigo que seguia por Soure, onde há miliário (
Charters d'Azevedo, 2015).
A rede viária chega ao século XIX em péssimo estado, atendendo ao conteúdo da
proposta de lei de 1854 para as «Comunicações do Reyno» que anuncia um conjunto de obras, reabilitando em alguns casos os velhos traçados romanos já muito degradados e noutros propondo a construção de novas variantes.
Técnicas Construtivas
A evidência arqueológica mostra que existia uma grande diversidade de soluções construtivas em função das características do local da construção e dos materiais disponíveis em seu redor, mas em geral são utilizados os mesmos princípios construtivos. Em nenhum dos casos se identificou a suposta estrutura monumental da 'via romana', formada por várias camadas, e pavimentada com grandes lajes de pedra, modelo não passa de uma fantasia dos historiadores do Iluminismo. Assim o tradicional esquema 'clássico' do corte da via que é apresentado abaixo é apenas a versão idealizada da via sem aderência à realidade arqueológica.
1.
fossa e
sulci - leito terraplanado e sulcos laterais para escoamento de água.
2.
statumen - camada inicial como fundação com grandes pedras irregulares sem argamassa para assegurar a estabilidade do pavimento e facilitar o escoamento de águas.
3.
rudus ou
ruderatio - camada intermédia constituída por uma argamassa de cal e cascalho grosso.
4.
nucleus - camada superior constituída por uma argamassa mais fina de cal, gravilha, areia grossa ou fragmentos de tijolo disposta em camadas regulares e bem calçadas.
5.
summa crusta,
dorsum - camada final aplanada de lajes poligonais, eventualmente coberta por uma argamassa feita de cal e areia para formar um piso liso e suave para rodados.
Esta configuração é habitual dentro das cidades ou na sua periferia, mas nos restantes troços optaram em regra geral por uma solução mais simples que consistia na abertura de uma valas onde eram depositados várias camadas de substrato formado por uma mistura de cascalho e areia, onde assentava a superfície de rodagem constituída por uma mistura bem compactada de materiais mais finos (gravilha, areia, cal, cacos cerâmicos, etc.), eventualmente acrescentando seixos do rio para maior resistência, proporcionando um piso confortável para o trânsito de veículos rodados; esta estrutura, designada por
agger, formava um talude sobrelevado na paisagem envolvente o que também facilitava o escoamento de águas pluviais. Aliás, foi esta simplicidade de métodos que permitiu a criação de uma tão extensa rede viária (cerca de 87.000 km de extensão!), obra de todo impossível acaso utilizassem o modelo de lajeado utilizado nas cidades (
vide artigo de Michele Matteazzi intitulado
"Construir estradas em época romana").
Nem todo o caminho de lajes de pedra é romano
Esta falsa ideia de que todas as vias romanas eram calçadas com lajes de pedra surgiu da observação das ruas urbanas onde era frequente a utilização de lajes como camada final para melhorar a salubridade pública, facilitando a sua limpeza. Daqui se conclui erradamente que toda a via romana teria que ser coberta com lajes de pedra, o que seria impróprio para a circulação de veículos com rodados a grande velocidade; sempre que o terreno permitia, a opção mais comum era a deposição de uma camada final bem compactada formando um pavimento mais adequada aos veículos rodados. A tradição histórica de que todas as vias romanas eram calçadas com lajes de pedra é hoje vista como uma excepção no contexto do sistema viário romano (Sillières, 1990:
639-652), sendo apenas utilizada em locais onde a grande pluviosidade e grandes pendentes obrigam a esse reforço da estrada; (
ver artigos de Isaac Moreno Galo). Usamos assim os termos "Via" e "Calçada" de forma genérica como:
- «VIA» - todo o caminho na rota da antiga via romana, seja em terra batida, lajeada ou asfaltada.
- «CALÇADA» - todo o caminho ainda com vestígios de pavimento antigo.
Vestígios indirectos da via
Ao longo da descrição do trajecto são indicados os vestígios e indícios da antiga via como sejam miliários e troços lajeados, mas também se indicam outros vestígios frequentemente associados à passagem de vias como,
- Minas - a exploração mineira tem uma relação directa com a rede viária, permitindo o escoamento do minério extraído. O investimento na rede viária a partir de Augusta reflecte essa preocupação de controlar essas minas e dotar a exploração com vias adequadas ao transporte de carga pesada através de carros.
- Castros - a grande maioria dos povoados fortificados da Idade do Ferro estão directamente relacionados com a passagem da via, habitualmente localizados junto de travessias de rios ou de importantes nós viários. Claramente, a rede viária romana não é mais do que a continuação desta rede antiga de estradas herdade da Idade do Ferro. Esta continuidade é evidenciada pela crescente influência romana, com a população local a adoptar os hábitos romanos e os produtos que circulavam por estas estradas como sigillata importada.
- Villae - mais que uma simples casa de habitação, a villa funcionava antes uma verdadeira unidade agro-industrial que necessitava de vias de escoamento para os seus produtos a fim de serem comercializados. As villae estão por norma um pouco afastadas da via (algumas centenas de metros) e não são particularmente úteis na identificação do trajecto, apesar da sua óbvia relação. Assim, muitos dos vestígios junto da via, actualmente classificados como como habitat, casal ou villa poderão ser os restos das estruturas viárias, como tabernae e mutationes, ou mesmo mansiones.
- Vici - correspondem a pequenos aglomerados populacionais de tipologia diversa; no texto refere-se como vicus todo o aglomerado de habitações formando um pequeno povoado ou aldeia. Alguns assentam em terrenos férteis ligeiramente afastados da via, mas outros emergem como estações viárias, muitas vezes na base do antigo povoado indígena pelo que são também designados por vicus viarum. Alguns evoluem para verdadeiras cidades, como no caso de Ammaia e Igaeditana, funcionando como local de paragem em rotas importantes rumo a Mértola.
- Necrópoles - eram frequentemente localizadas à saída das cidades, ao longo da via, como é caso da necrópole de Lethes em Ossonoba (Faro), ou seja, longe dos vivos de modo a assegurar a salubridade pública, mas mantendo uma relação directa com os vivos que circulavam na via. Em meio rural, as necrópoles estão associadas a villae e vici, nem sempre à margem da via, pelo que não é um indicador suficiente.
A discussão continua...
Deste modo, o facto de um caminho antigo ser calcetado nada garante quanto à sua origem romana,
na realidade a maior parte das calçadas que vemos hoje foram construídas na Idade Média.
Certamente que muitas delas estão assentes na antiga via romana, mas a calçada que hoje vemos é muitas vezes o resultado de múltiplas reparações ao longo dos séculos. As obras de iniciativa romana procuram a solução mais eficiente em termos económicos e funcionais, adaptando a engenharia de construção às condições no terreno e do clima envolvente, recorrendo por regra aos materiais existentes nas proximidades da via. A utilização de um revestimento em pedra calçada estaria reservada para as zonas declivosas e com forte precipitação
de modo a preservar a sua integridade estrutural durante os períodos de maior pluviosidade e assim facilitar a passagem de carros. Estes factos podem ser observados nas diferentes soluções construtivas adoptadas no Norte e no Sul de Portugal: se no Alentejo, as vias são em geral em terra batida sobre uma estrutura de
rudus relativamente simples,
no Norte do país, prevalecem os grandes troços calçados por vezes com importantes estruturas de suporte para melhor resistirem às intempéries e permitir um traçado em altitude sobre encostas abruptas. Esta discussão sobre a caracterização das vias continua...
MILIARIA
Marcos Miliários
Os miliários encontrados ao longo do trajecto são a principal evidência da passagem da via. Ao contrário de pontes e calçadas, não há dúvida quanto à sua origem romana, mas muitos estão deslocados da sua posição original, outros muito danificados, potenciando erros e aumentando as dúvidas sobre a verdadeira rota de passagem da via. As suas inscrições são uma fonte crucial para entender o sistema viário romano ao indicar o ponto de partida e as respectivas milhas percorridas ou, por vezes referindo os trabalhos de reparação efectuados na via, como é caso do miliário deslocado para o Solar de Bertiandos em Ponte de Lima (na imagem) na frase «
vias et pontes temporis vetustate conlapsos restituerunt».
Sendo um reflexo do momento histórico durante o qual foram esculpidos, também neles é notória a deterioração de toda a organização do império à medida que este caminhava para o seu fim.
Quando comparamos os magníficos marcos miliários do tempo de Augusto e Adriano
que integravam as grandes
viae militares com os marcos toscamente esculpidos do fim do império torna-se evidente a progressiva deterioração das técnicas utilizadas à medida que o império se aproximava do seu término.
As sucessivas alterações políticas e administrativas, com a fundação de novas
civitates
e logo novos pontos de partida para a contagem das milhas, os
caput viae, levam a que hoje se possa encontrar numa mesma via miliários com indicação a dois
caput viae diferentes como é o caso da
Iter XVII onde tanto há miliários indicando a distância a Braga como outros que indicam a distância a Chaves.
Outros sinais das mudanças operadas na administração do território podem ser encontrados em alguns miliários tardios cujo ponto inicial de contagem das milhas não era uma cidade ou povoado, mas um limite territorial, mostrando que a manutenção da rede viária estava agora a ser gerida por governos provinciais, mais preocupados com o seu
territorium do que a sua integração no vasto império. Mais sobre miliários neste artigo de Vasco Mantas: «
Os miliários como fontes históricas e arqueológicas». Em dois marcos de vias que partiam de Braga há vestígios de pintura (
Bottaini et al., 2023), sinal de que este técnica era de facto utilizada no período romano, podendo justificar o elevado número de miliários anepígrafos encontrados um pouco por todo o país (act. 2023).
PONTES
Pontes Romanas
Há uma infinidade de pontes classificadas como "romanas" sem qualquer evidência material que o suporte. Esta classificação
ad-hoc assenta muitas vezes numa vaga tradição popular ou em monografias locais, com o intuito de "engrandecer a terra". No geral, esta designação é adoptada sem critério, sendo atribuída a toda e qualquer ponte que ostenta alguma antiguidade. A proliferação destas supostas "pontes romanas" é evidente nos guias turísticos, na sinalética viária e até mesmo na literatura científica, criando uma falsa percepção da realidade viária romana. De facto, o número de pontes sobre as quais podemos afirmar com segurança uma origem romana é muito diminuto, rondando a vintena de exemplares. Assim, muitas das ditas «pontes romanas» espalhadas por todo o país são na realidade construções já do período medieval.
A classificação adoptada neste trabalho visa distinguir entre «Pontes Romanas» com nítidos traços construtivos romanos, de pontes medievais construídas com materiais romanos, designada por «Ponte Romana-Medieval». Por fim, quando a ponte não evidencia sinais romanos, mas está inserida numa rota desse período, optou-se pela designação «Ponte Romana?-Medieval de forma a manter essa hipótese em aberto.
- Ponte Romana, vestígios da construção romana original;
- Ponte Romana-Medieval, reconstrução medieval com materiais romanos;
- Ponte Romana?-Medieval, ponte medieval sem vestígios romanos, mas na rota romana.
Pontes Romanas em Portugal
Apesar do relativo abandono, e quase por um milagre, sobrevivem em Portugal quatro pontes romanas
de grande dimensão mantendo ainda a sua configuração original.
Todas estas pontes estão em perfeitas condições rodoviárias e com duas vias de circulação, ainda hoje suportam o tráfego moderno. (tragicamente não se pode dizer o mesmo de algumas pontes bem mais recentes). Como ainda hoje estão integradas na rede nacional de estradas, o viajante menos avisado poderá já ter passado por elas sem se aperceber da sua antiguidade. É o caso da pouco conhecida
Ponte da Pedra em Torre de Dona Chama (concelho de Mirandela), inserida na EN206 entre Valpaços e Bragança lançada sobre o rio Tuela, uma notável construção que permanece praticamente ignorada por quem viaja por esta estrada por ainda não existir qualquer sinalética avisando que se trata de uma importantíssima «Ponte Romana» (vide
41.665464, -7.146000). No caso da Ponte de Vila Formosa entre Ponte de Sor e Alter que serviu durante muitos anos a EN369, até à sua recente "aposentação" com a construção da nova ponte em betão mesmo ao lado, solução muito questionável como cenário de fundo de uma ponte romana que fica agora "esmagada" pela plasticidade e leveza que permite hoje os modernos viadutos em betão (mas não na durabilidade) (
vide 39.216206, -7.784759 e
Carriço, 2002).
Todas estas pontes sofreram alterações quase sempre pouco felizes, alterando guardas, pisos (muitas foram ou ainda são estradas nacionais!) e mesmo cimentando a base dos arcos como no caso da
recente intervenção na Ponte de Segura, concelho de Idanha-a-Nova, na fronteira luso-espanhola de Castelo Branco e inserida na EN355 (
39.817396, -6.981821).
Todas elas apresentam também fortes evidências da sua origem romana como a horizontalidade, a simetria, a modularidade construtiva e as marcas de fórfex (ver aqui vídeo sobre a
Ponte Romana de Chaves).
Outras Pequenas Pontes
Para além destas obras grandiosas, existe um conjunto de pequenas pontes romanas espalhadas pelo país que também merecem ser destacadas. Infelizmente a maioria está votada ao abandono, exigindo maior a atenção aos responsáveis pela protecção do património pela salvaguarda das poucas pontes romans que restam em Portugal. Apesar da sua menor grandeza, também aqui é possível ver detalhes das excelentes técnicas construtivas utilizadas em período romana. Destacam-se três exemplares, a Ponte de São Lourenço (Chaves), a Ponte do Arquinho em Possacos (Valpaços) e a Ponte do Arco da Vreia de Jales sobre o rio Pinhão.
Técnicas Construtivas
Com a solidificação da
pax romana as autoridades civis resultantes da nova organização administrativa do território substituem a ordem militar na promoção das grandes obras públicas que passam do domínio da estratégia militar (por exemplo nas travessias dos grandes rios como o Guadiana com a sua ponte romana associada à fundação
ex-nihilo da colónia de
Iulia Augusta Emerita, actual Mérida) para uma esfera cada vez mais económica em torno da exploração dos recursos existentes nestes novos territórios.
Devido à sua durabilidade, as pontes romanas construídas em pedra são as únicas que permaneceram de pé até aos nossos dias, mas é muito provável a existência de pontes em madeira (
Pons Roboreus, assentes em pilares (
Pons Sublicius). Todavia, os vestígios de pontes em madeira são extremamente raros dado ser um material orgânico. Sabemos que a madeira seria utilizada quando se pretendia uma construção em tempo recorde, atendendo ao relato de Júlio César em a «A Guerra das Gálias», refere a construção de uma ponte em madeira sobre o rio Reno em 10 dias (!). Em Portugal não se conhecem pontes em madeira, embora se possa suspeitar da sua existência, em particular na travessia de pequenos rios e ribeiras, mas a travessia dos grandes rios deveria ser feita por barca, sistema que aliás perdurou até ao século XX.
Uma cartilha de construção
As pontes romanas que sobreviveram até aos nossos dias evidenciam uma técnica construtiva muito precisa que segue uma cartilha de construção bem estabelecida. Partindo de um único módulo base, um arco de volta perfeita assente em dois pilares, era possível construir pontes nos mais variados terrenos, com duas vias, perfeitamente planas e pavimentadas para tráfego rodado.
Pegando nesse módulo é possível alterar a dimensão do arco e do pilar de modo a ajustar-se ao local, mas mantendo as proporções entre ambos e assim garantindo a sua robustez sem comprometer a sua horizontalidade.
- variando o número de arcos obtém-se a extensão necessária.
- variando a altura dos pilares obtém-se a altura do tabuleiro pretendida.
Da surpreendente
Ponte de Alcântara sobre o rio Tejo, próximo da fronteira luso-espanhola de Castelo Branco,
à incrível
Pont du Gard,
ponte-aqueduto sobre o rio Gard em Nimes, passando pela
Ponte di Nona, na
Via Prenestina em Roma.
A Ponte de Alcântara, o monumento viário mais importante em toda a Península Ibérica, é facilmente acedida a partir de Portugal porque está localizada junto à fronteira luso-espanhola de Segura, a cerca de 20 km de Castelo Branco.
Vídeo sobre a Ponte Romana de Alcântara
Marcas de Fórfex
Elevação de silhares com tenaz
Uma das características mais relevantes para atestar a origem romana destas pontes é a existência de marcas de fórfex nos respectivos silhares. Estas são pequenas cavidades em lados opostos onde encaixavam as pontas do
fórfex ou tenaz da grua mecânica para levantamento e posicionamento dos silhares utilizados na construção da ponte. A força-motriz utilizada para mover estas máquinas era obtida a partir da energia cinética do rio, construindo para isso um moinho de água adjacente, permitindo uma grande rapidez de construção com um número relativamente limitado de homens. Face a estas evidências, a velha crença no uso massivo de mão-de-obra escrava não tem cabimento e, pelo contrário, o que se verifica é a utilização de maquinaria pesada quer na construção de grandes obras quer, por exemplo, no apoio às explorações mineiras. O facto de parecer inconcebível a um homem medieval (e mesmo actual) tais obras de engenharia levou à crença generalizada que os "romanos" recorriam a quantidades maciças de mão-de-obra escrava, tese que tem vindo a ser desmontada face às evidências arqueológicas.
Que futuro para a tecnologia romana?
A tecnologia romana continua a nos surpreender pelas soluções adoptadas quer tecnológicas quer no uso criterioso dos recursos, guardando ainda muitos segredos que importa desvendar. Além da sua reconhecida
eficácia como sejam a extrema durabilidade e a usabilidade (até para os padrões actuais), o que mais surpreende é a enorme
eficiência na sua construção e operação, atendendo aos reduzidos meios existentes nessa época. Através da aplicação de conceitos ditos "modernos", como a modularidade e a proporcionalidade, e com recurso a máquinas e materiais avançados, a engenharia romana é ainda um notável exemplo de como é possível criar um modelo de desenvolvimento sustentável sem o recurso a combustíveis fósseis.
Para quem, como nós, já nasceu na "era do petróleo", é difícil imaginar um mundo sem o recurso a esta energia barata, mas é este o desafio que enfrentamos actualmente. Daí a importância de aprofundar o seu estudo. Os problemas de sustentabilidade do mundo moderno não se resolvem certamente somente "atirando" meios e tecnologia para cima dos problemas que na maior parte das vezes acaba por criar outros problemas bem maiores, mas através de uma análise crítica do nosso actual modelo e a promoção de uma mudança de conceitos que evite a completa depleção dos nossos recursos. O acesso a uma fonte de energia tão barata como o petróleo tem promovido um modelo insustentável com grandes impactos ambientais e um grande desperdício de energia. Claro que não podemos voltar ao modelo energético romano, mas podemos sim extrair as lições que possam ser úteis para promover essa mudança. Dos famosos aquedutos que utilizam a gravidade para transportar a água até às cidades, aproveitando a quantidade de movimento gerada para mover fontes e outras amenidades, passando pela utilização da força das águas do rio para obter força-motriz através de moinhos, há muitos exemplos de como estas tecnologias ainda fazem sentido pelo menos do ponto de vista conceptual. Notar por exemplo como as barragens hídricas e moinhos de vento são ainda hoje alternativas viáveis para a produção de energia.
DOCUMENTA
Os documentos
Itinerário de Antonino (
Itinerarium Provinciarum Antonini Augusti), compilação dos principais itinerários romanos redigida provavelmente nos finais do século III d.C. embora a partir de fontes anteriores pelo que descreve muito provavelmente a rede viária tal como existia no final da República, atendendo à ausência de
Norba Caesarina que surge ainda com o nome do respectivo acampamento militar romano como
Castra Caecilia. O roteiro indica a distância total entre o ponto de partida e chegada, assim como as distâncias das respectivas estações intermédias, constituindo assim um precioso documento para a identificação das estações nele mencionadas. Conhecemos o seu conteúdo devido às sucessivas cópias manuscritas efectuadas a partir do século VII salvaguardadas em várias bibliotecas europeias; estas apresentam bastantes discrepâncias entre si, gerando dúvidas sobre a fiabilidade dos mesmos.
Em 1538 é publicado a primeira compilação dos itinerários a partir das fontes manuscritas, mas só em 1735 surge a primeira edição comentada por Peter Wesseling intitulada
«Vetera Romanorum Itineraria, sive Antonini Augusti Itinerarium, Itinerarium Hierosolymitanum, et Hieroclis Grammatici Synecdemus». Posteriormente, os editores Gustav Parthey e Moritz Pinder publicam uma nova versão em 1848 intitulada
«Itinerarium Antonini Augusti et Hierosolymitanum». Em 1929, Otto Cuntz publica uma versão actualizada com a designação «Itineraria Romana. Vol. I: Itineraria Antonini Augusti et Burdigalense».
Não existe correspondência directa entre «vias romanas» e os «Itinerários» pois este documento foi pensado como um guia de viagem para grandes distâncias, utilizando as diversas vias existentes para interligar importantes povoados, como por exemplo nos três itinerários Lisboa-Mérida ou nos quatro itinerários Braga-Astorga. O objectivo do documento é apresentar as rotas que interligam os principais pontos da rede viária. O Itinerário apresenta a sequência de estações ao longo do percurso que têm, em geral, origem nos antigos povoados fortificados da Idade do Ferro, como por exemplo, o Castro de Valtelhas, a antiga estação de
Pinetum mencionada no Itinerário de Braga a Astorga por Chaves, junto da travessia do rio Rabaçal. Outras estações fazem referência a um acidente geográfico como é o caso de
Ad Atrum flumen, literalmente «junto do Rio Atro» na via
Ebora a
Emerita ou à ponte que o cruzava como por exemplo
Ponte Neviae no itinerário de Braga - Tui - Astorga, sugerindo que não existiria povoado, mas apenas uma albergaria ou um pequeno
vicus viarum isolado na paisagem.
Curiosamente (ou talvez não), as distâncias indicadas são de grande precisão, o que permite avaliar as propostas de traçado da via com a marcação miliária esperada. De facto, nos troços mais estudados ou mais bem preservados, como é o caso da Via Braga - Tui ou da Via Nova ou «Geira» que atravessa a Serra do Gerês, tem-se observado uma grande consistência entre o indicado nos miliários e as distâncias indicada no I.A. e (mesmo em grandes percursos), pelo que os valores indicados são bastante fiáveis, salvo um ou outro erro introduzido durante o conturbado processo das cópias que sobreviveram até aos nossos dias. Trata-se assim de um documento crucial para a determinação do percurso destas vias antigas.
História Natural
(
Naturalis Historiae) de
Caio Plínio o Velho (
Caius Plinius Secundus), obra organizada em 37 livros e 10 volumes, onde se descrevem as principais características geográficas das províncias do império romano, enumerando povos, cidades e rios. Não há referências à rede viária, mas a indicação das fronteiras e respectivas distâncias, permite-nos deduzir a localização de algumas estações viárias e a sua localização geográfica. Ler a versão original em latim no site de
Lacus Curtius, ou esta tradução para inglês no site
Perseus.
Em relação ao território nacional podemos ler no
Livro III, capítulo 4 que Bracara era composta por 24
civitates das quais nomeia algumas: «
Simili modo Bracarum XXIIII civitates CCLXXXV capitum, ex quibus praeter ipsos Bracaros, Bibali, Coelerni, Callaeci, Equaesi, Limici, Querquerni citra fastidium nominentur». (NH, III, 28)
No
Capítulo 35 do Livro IV faz uma descrição da Lusitânia, começando por enumerar os seus povos e
oppida:
A Durio Lusitania incipit. Turduli veteres, Paesuri, flumen Vacca, oppidum Talabrica, oppidum et flumen Aeminium, oppida Conimbrica, Collippo, Eburobrittium (NH, IV, 113).
(«No Douro começa a Lusitânia. Túrdulos Velhos, Paesures, rio Vouga, ópido Talábriga, ópido e rio Aeminium, ópidos Conímbriga, Collippo e Eburobrittium»).
Continua depois mais a sul:
Ab Ana ad Sacrum Lusitani. Oppida memorabilia a Tago: in ora Olisipo, equarum e favonio vento conceptu nobile, Salacia cognominata Vrbs Imperatoria, Merobrica, promunturium Sacrum et alterum Cuneus, oppida Ossonoba, Balsa, Myrtilis. (NH, IV, 116).
(«Do rio Anas ao Promontório Sagrado estão os Lusitani. As cidades na costa merecedoras de menção, a partir do Tejo, são as de Olisipo, famosa pelas suas éguas que concebem a partir do vento Favónio, Salacia cognominada de Cidade Imperial, Merobrica e depois do Promontório Sagrado, também conhecido por Cuneus, as cidades de Ossonoba, Balsa e Myrtili.»)
A descrição província continua: «
Universa provincia dividitur in conventus tres, Emeritensem, Pacensem, Scalabitanum, tota populorum XLV, in quibus coloniae sunt quinque, municipium civium Romanorum, Latii antiqui III, stipendiaria XXXVI. coloniae Augusta Emerita, Anae fluvio adposita, Metellinensis, Pacensis, Norbensis Caesarina cognomine; contributa sunt in eam Castra Servilia, Castra Caecilia. quinta est Scalabis quae Praesidium Iulium vocatur. municipium civium Romanorum Olisipo, Felicitas Iulia cognominatum. oppida veteris Latii Ebora, quod item Liberalitas Iulia, et Myrtilis ac Salacia, quae diximus» (NH, IV, 117).
(«Toda a província divide-se em três circunscrições, Emeritense, Pacense e Escalabitano, totalizando 45 povoações, entre as quais 5 são colónias, um é município com cidadania Romana, 3 detêm os antigos direitos latinos e 26 são tributárias. As colónias são Augusta Emérita, situada junto do rio Guadiana, Medellín, Beja e Cáceres, cognominada de Cesariana. A quinta colónia é Santarém, também chamada de Presídio Júlio. Lisboa, cognominada de Felicidade Júlia, é município de cidadãos romanos. As cidades com os antigos direitos latinos são Évora, também chamada de Liberalidade Júlia, Mértola e Alcácer, já antes mencionadas»).
Segue-se uma extensa, mas não exaustiva lista dos povos estipendiários da Lusitânia, isto é, aqueles que pagavam tributo à administração romana: «
Stipendiariorum quos nominare non pigeat» ("entre os tributários que importa referir temos os..."),
Augustobrigenses, Aeminienses, Aranditani, Arabricenses, Balsenses, Caesarobrigenses, Caperenses, Caurienses, Colarni, Cibilitani, Concordienses, Elbocori, Interannienses, Lancienses, Mirobrigenses qui Celtici cognominantur, Medubrigenses qui Plumbari, Ocelenses Lancienses, Turduli qui Bardili et Tapori» (NH, IV, 118), cujas localizações continuam ainda em grande parte por decifrar (Guerra, 1995, 1998, 2007, 2007a, 2016, 2017). Ver
listagem de povos no período romano.
Geografia de Estrabão (
Strabo), obra em 17 Livros escrita no ano 17 d.C. com uma descrição do mundo conhecido (ver reconstituição do seu
mapa-múndi). No terceiro livro Estrabão faz uma breve descrição da Península Ibérica com informações preciosas sobre a sua geografia e os povos que a habitam; existe uma tradução desta parte por Gabriel Pereira publicada em 1878 com o título
«Descrição da Península Ibérica Livro 3º da Geografia de Strabão». Ao descrever a costa sul da Ibéria assinala o rio Guadiana e o Cabo de São Vicente: «depois (do Anas) temos o Cabo Sagrado, a menos de dois mil estádios de distância de Gades. Alguns, contudo, dizem que a distância do Cabo Sagrado até à foz do Anas é de sessenta milhas, e daí até à foz do Baetis, cem, e depois, até Gades, setenta» (Geo. III, 2, 7). Refere ainda que «entre os Celtas, o lugar mais conhecido é Conistorgis. Sobre os estuários está Asta, onde os Gaditanos costumam actualmente realizar as suas assembleias, situada a não mais de 100 estádios do porto marítimo da ilha» (Geo, III, 2, 2). A ilha referida no texto corresponde a
Gadira, actual Cádiz, enquanto
Asta deverá corresponder a Vendas de Hasta (Huelva); deste modo
Conistorgis deverá situar-se numa posição mais interior.
Noutra passagem, refere também algumas das cidades dos
Turdetani na seguinte sequência: "Entre essas cidades temos Asta, Nabrissa, Onoba, Ossonoba, Maenoba" (Geo. III, 2, 5).
Onoba é hoje Huelva e
Ossonoba corresponde a Faro, consequentemente pela sequência dada haveria de colocar
Maenoba mais para oeste, possivelmente em Portimão (Alvor?) ou Lagos (Monte Molião?), mas o topónimo não está confirmado em nenhum desses sítios.
Geografia de Cláudio Ptolomeu
(
Claudius Ptolemaeus), escrito no século II d.C., contendo as coordenadas geográficas das cidades e rios do mundo conhecido da época, incluindo a
Lusitânia e a província
Tarraconense. A localização das povoações mencionadas continua condicionada pelas dúvidas que rodeiam as coordenadas indicadas por Ptolomeu, com várias incongruências difíceis de deslindar. É óbvio que muitos dos povoados romanos dos quais desconhecemos a designação latina estarão na lista de Ptolomeu, mas até hoje não se conseguiu sequer propostas minimamente sólidas para muitas delas. - Ver abaixo
lista de povoações romanas -
Ver aqui uma reconstituição de um
mapa-múndi
e de um
mapa da Hispânia
baseado nas suas coordenadas - Ler aqui uma edição em
latim de 1540 e aqui uma edição em
grego de 1843.
Corografia de Pompónio Mela (
Pomponius Mela), escrita no ano 43 a.C. com o título
Uma Descrição do Mundo (
De Situ Orbis) sendo também conhecida por
De Chorographia (ver aqui um
mapa-múndi inspirado na sua obra). Mela era originário da vizinha Bética, portanto, tendo contacto com a realidade Lusitana que descreve de forma breve no capítulo
Hispaniae Ora Exterior, assim como a parte norte do actual território nacional no seguinte excerto:
[5] «
Qua prominet bis in semet recepto mari in tria promunturia dispergitur: Anae proximum, quia lata sede procurrens paulatim se ac sua latera fastigat, Cuneus ager dicitur, sequens Sacrum vocant, Magnum quod ulterius est, in Cuneo sunt Myrtili, Balsa, Ossonoba, in Sacro, Lattobrigal et Portus Hannibalis, in Magno Ebora.
[6]
Sinus intersunt: et est in proximo Salacia, in altero Ulisippo et Tagi ostium, amnis gemmas aurumque generantis. Ab his promunturiis in illam partem quae recessit, ingens flexus aperitur, in eoque sunt Turduli veteres Turdulorum que oppida, amnes autem in medium fere ultimi promunturii latus effluens Munda, et radices eiusdem adluens Durius. Frons illa aliquamdiu rectam ripam habet, dein modico flexu accepto mox paululum eminet, tum reducta iterum iterumque recto margine iacens ad promunturium quod Celticum vocamus extenditur.
[7]
Totam Celtici colunt, sed a Durio ad flexum Grovi, fluuntque per eos Avo, Celadus, Nebis, Minius et cui oblivionis cognomen est Limia (...).»
Cosmografia do Anónimo de Ravena
(
Ravennatis Anonymi Cosmographia), obra em cinco volumes escrita provavelmente no século VII d.C. por um desconhecido monge
do Mosteiro de Ravena a partir de fontes do século V, reflectindo já a nova ordem política do período visigótico. O documento enumera os principais povoados existentes em cada região do império, deturpando muitos dos topónimos conhecidos de outras fontes clássicas e sem indicar as distâncias entre si; todavia é possível fazer um paralelismo entre a sequência com que são listadas com a sequência de estações viárias apresentadas no Itinerário de Antonino pelo que se torna um documento muito importante para o estudo das vias romanas.
Em termos de território nacional interessa-nos particularmente o
Livro IV, em particular a passagem do capítulo IV.43, onde enuncia uma lista de
civitates partindo dos portos da Bética, passando pela Lusitânia e terminando em
Bracara Augusta, numa sequência muito similar aos itinerários XXI, XII e XVI do Itinerário de Antonino: «
Item super fretum Septem sunt civitates, id est Bepsipon, Merifabion, Caditana Portum, Asta, Serpa, Pace Iulia, Mirtilin, Besurin, Balsa, Statio Sacra, Ossonoba, Arani, Salatia, Ebora, Malabiste, Celiana, Cetobricca, Abona, Olisipona, Terebrica, Langobrica, Ceno Opido, Calo, Augusta Bracaria»; ainda no mesmo capítulo, ao enumerar algumas
civitates próximas do oceano, menciona
Limea, Tude, Bonisana, Turaqua, sequência em tudo idêntica à apresentada no Itinerário XIX de Antonino na forma
Limia, Tudae, Burbida e Turoqua (
Rav. IV.43).
No capítulo seguinte, IV.44, lista os lugares da «
Civitas Augusta Merita» escrevendo: «
Item in spatiosa terra ipsius patriae Spaniae est civitas quae dicitur Augusta Merita, cuius proxima est civitas quae dicitur Evandria; iterum Bipone, Aturnea» (
Rav. IV.44), ou seja, a mesma sequência do
Itinerário XII na forma
Emerita,
Evandriana,
Dipone e
Ad Atrum Flumen; mais adiante acrescenta ainda as seguintes
civitates, «
Item iuxta praedictam civitatem Augustam Meritam est civitas quae dicitur Plagearia, Massusaria, Abelterion, Aretio Praetorion, Perbrigam» (
Rav. IV.44), mais uma vez em concordância com o I.A. pois existe total correspondência com as estações
Plagiaria, Matusaro, Abelterio, Aritio Praetorio e
Ierabriga, indicadas no Itinerário XIV Lisboa - Mérida.
No capítulo IV.45, lista as
civitates sob domínio de
Hispalis (actual Sevilha), «
Iterum iuxta praenominatam civitatem Hispalis est civitas quae dicitur Tema, Tusci, Hilpula, Onoba, Urion, Aruci, Fines, Seria» (
Rav. IV.45), com a sequência até
Onoba em concordância com o
Itinerário XXIII que ligava
Hispalis à foz do rio Guadiana enquanto
Aruci,
Fines integram o
Itinerário XXI. O último nome da lista tem sido corrigido para
Serpa (Sillières, 1990:450), no entanto, parece tratar-se antes da Pliniana
Seria Fama Iulia.
Finalmente, mais adiante, ao enumerar as várias
civitates do território de
Bracara Augusta na passagem «
Item in ipsa Spania iuxta civitatem quam praediximus Augustam Braccariam dicitur civitas Salaniana, Aquis Ocerensis, Aquis Cercenis, Gemina,...», há também concordância com a sequência
Salaniana,
Aquis Originis,
Aquis Querquennis e
Geminis apresentada no
Itinerário XVIII ou Via Nova (
Rav. IV.45).
Papiro de Peutinger, cópia de um mapa romano com 7 m de comprimento efectuada em 1265 por um monge alsaciano e descoberto por
Konrad Peutinger em Viena, no ano 1508 e conservada na
antiga Biblioteca Imperial de Viena de Áustria. A partir daí tomou o seu nome e passou a ser chamada de
Tabula Peutingeriana. Segundo Konrad Miller que fez a primeira edição moderna em 1887, o mapa teria sido baseado num mapa-múndi de Castorius (séc. IV d.C.) com base na referência a esse pouco conhecido autor no
Ravennatis, mas esta argumentação carece de confirmação. Infelizmente o mapa não dispõe de dados sobre
o território português pois falta a primeira folha onde estaria representada a Península Ibérica e a parte mais ocidental das Ilhas Britânicas; estando mais exposta ao uso, esta parte do papiro acabou por chegar ao século XVI já irremediavelmente danificada.
(
ver aqui a hipotética reconstituição de Konrad Miller).
O
Papiro de Artemidoro, rolo de 2,5 m descoberto em 1994 em Antaiopolis no Alto Egipto e que apresenta um
mapa da Península Ibérica, mas infelizmente não existe qualquer legenda que revele o nome dos rios, promontórios, estradas e cidades aí representados. Tornou-se assim a mais antiga carta geográfica conhecida da antiguidade e claro também a mais antiga representação da Península Ibérica, precedendo em cerca de mil anos o mapa peninsular mais antigo que se conhecia (datado do séc. IX), mostrando que já na antiguidade as obras geográficas podiam conter mapas.
Mais útil é a transcrição em grego do prólogo do «Livro II» da monumental obra em 11 volumes do geógrafo grego
Artemidoro de Éfeso, intitulada
Geographoumena que era conhecia apenas por citação de outros autores posteriores como Estrabão. Neste texto é apresentada uma descrição geográfica da Hispânia, percorrendo os principais pontos do périplo marítimo pelo que as distâncias são apresentadas em
stadia. O papiro em si foi datado em torno do séc. I a.C., mas o texto poderá ter sido escrito posteriormente. Sendo a mais antiga referência ao actual território português, o seu valor é inestimável mas de difícil interpretação, em particular quando assinala os principais rios e respectivas distâncias na costa portuguesa no seguinte extracto (tradução de J. Ribeiro Ferreira), onde se refere o Guadiana, o Cabo Sagrado (Cabo de São Vicente ou de Sagres), a cidade de
Ipa ou
Ipsa (Vila Velha de Alvor) e
Cilibe (?) no Algarve, a foz do Sado em Alcácer do Sal, onde menciona uma torre (seria um farol?) e a ilha de
Achale que poderá corresponder a Tróia, mas também as bocas dos rios Tejo, Douro, Lima e Minho, embora este último surja erradamente entre o Douro e o Lima (Ferreira, 1985).
«Deste rio (Bétis, actual Guadalquivir) até Ónoba [280]; e dali até Má[inoba] [78]; e entre esta cidade e a de Ipsa. Entre ela e o estuário do A[…], seguindo em linha recta na direcção da cidade de Cílibe, são [36] estádios. E, deixando a foz do Ana, sucede a ponta do Cabo Sagrado e até esse extremo lugar são 992 estádios. E rodeando o promontório até à torre dos Salacinos são 1200 estádios; e daí até à boca do rio Tejo 320; e desse ponto até ao rio Douro 1300; e depois desse rio encontramos, a 180 estádios, o rio Oblévion. Este também é chamado Letes ou Limaia. E entre ele e o rio Bénis são [120]» (in
«A costa portuguesa em Artemidoro» de Jorge de Alarcão, 2010).
Vide também as leituras críticas de Luís Fraga da Silva em
«O papiro de Artemidoro de Éfeso» e de António Marques de Faria em
«Artemidoro entre os Salakeinoi?».
Orla Marítima (Ora maritima), poema traduzido por Rúfio Avieno (
Rufius Festus Avienius) no século IV d.C. a partir de um texto grego talvez do início do século VI a.C. do qual restam apenas 713 versos. Avieno terá feito correcções com base em autores posteriores, mas no essencial o texto revela o conhecimento que existia sobre a navegação por volta do ano 600 a.C., numa região que era para os gregos ainda uma longínqua e mítica finisterra. O poema foi concebido aparentemente como um diário de navegação de uma viagem ao território dos Tartessos situado na Península Ibérica, revelando cidades, povos, portos e acidentes geográficos ao longo da costa.
Vide "A Ora Maritima de Avieno e a descrição da costa atlântica entre o Cabo da Roca e a Foz do Sado. A propósito da localização de Poetanion" de José Cardim Ribeiro.
Itinerário de Gades (
Itinerarium Gaditanum), inscrição gravado em quatro copos de prata por volta do no séc. I d.C., descrevendo o percurso entre
Cádiz e Roma, com a indicação das estações de paragem e das respectivas distâncias intermédias. São também designados por
Copos Apolinares devido ao facto de terem sido descobertos em 1852 no lago das termas
Aquae Apollinares em Vicarello (perto de Roma). Estes copos seriam utlizados pelos viandantes para irem bebendo água ao longo da viagem (tal como posteriormente a chamada «cabaça» para os peregrinos de Santiago), servindo de forma engenhosa também para ir indicando o caminho. Apesar de não atravessar o actual território português, os «Copos Apolinares» constituem um precioso testemunho da utilização dos itinerários na vida prática como guia de viagem.
Tratado de Arquitectura (
De architectura) de
Marcus Vitruvius Pollio, obra escrita em dez volumes no primeiro século da nossa era, é sem dúvida o livro mais importante sobre tecnologia romana que chegou até nós. Infelizmente o autor não se refere especificamente à construção de vias, embora num
capítulo sobre pavimentos aborde alguns dos princípios construtivos comuns à construção de estradas.
(
ver aqui a versão original em latim,
uma tradução para inglês
ou esta
tradução para castelhano). Curiosamente, uma obra tão importante para o mundo contemporâneo esteve sem edição em português até 2007, ano em que Justino Maciel publicou a sua excelente tradução. Para um maior aprofundamento do tema arquitectura e da engenharia romana ver
o trabalho de
Isaac Moreno Gallo.
[VI]A ASTV[RICA]
AD BRACARA
AGENTIOLVM
PETAVO[NIV]M
VI[NIATIA]
COM[PLEV]TICA
ROB[ORE]TVM
AD AQVAS
AQVIS ORIGINIS
SALA[N]IA
BRACARA
|
I.B.
V
VIII
[...]
XII
XII
XV
VII
X
XII
|
I.A.
XIII
XV
XXVIII
XXV
XXVIII
XXXVI
?
XVIII
XXI
|
Itinerário de Barro de Astorga, também conhecido por Tabulas de Astorga, é um conjunto de quatro placas de barro, cada uma contendo um itinerário da Hispânia romana. As placas terão sido produzidas por ordem de um magistrado local, um duúnviro, visto que todas elas terminam com as letras
C. LEp. M. II. VIR com a possível leitura de C(aius) Lep(idus) M(arci) Duúnviro (
García y Bellido, 1975). Existiam dúvidas sobre a sua autenticidade, todavia estudos mais recentes com datação por termoluminescência permitiram balizar a sua cronologia entre o primeiro terço do século III e inícios do século IV, mostrando que as placas foram lavradas ainda em período romano (
Ochoa et al., 2012). As distâncias indicadas são incongruentes com a informação contida no Itinerário de Antonino, sendo em geral de valor muito inferior à realidade geográfica, levantando dúvidas sobre a fiabilidade da informação gravada nestas placas. Actualmente estão em exposição no Museu Arqueológico das Astúrias, em Oviedo.
Das quatro placas, apenas uma se refere ao território nacional descrevendo a
Via Asturica ad Bracara (
foto) com um itinerário muito similar ao apresentando no Itinerário XVII até à estação de
Ad Aqvas (Chaves), mas a partir daqui, aparentemente o «Itinerário de Barro» desvia desta rota para Braga, pois a estação seguinte indicada é
Aqvis Originis,
mansio da
via nova, localizada em Baños del Rio Caldo (Lobios), num trajecto pouco lógico porque obriga a um grande desvio da rota para Braga. Na estação seguinte só restam as letras
SALA[...]A que poderá ser interpretada segundo García Bellido como
SALA[N]IA, ou seja, a estação
Salaniana mencionada da
via nova mencionada no Itinerário XVIII. No entanto, julgamos ser mais plausível que esta seja na verdade a estação de
SALA[C]IA mencionada no Itinerário XVII (Castro de Vieira do Minho), dado que esta integra o percurso de Chaves a Braga. Neste caso,
Aquis Originis poderia referir-se a outro local da estrada Braga-Chaves. O esclarecimento desta questão fica muito dificultado porque as distâncias indicadas entre estações estão muito aquém dos valores reais, desconhecendo-se a razão de diferenças de valores tão gritantes.
Uma possível explicação é possível utilização de uma unidade diferente da milha romana no «Itinerário de Barro», mas desconhecemos qual seria. Comparando os valores indicados entre o «Itinerário de Barro» e o «Itinerário de Antonino» podemos observar que em média teríamos aproximadamente um factor de conversão de 2, o que daria uma milha com aproximadamente 3000 m, valor difícil de explicar no contexto romano. Sabemos que a partir dos finais do século II, a légua romana foi utilizada na Gália e na Germânia com o valor métrico equivalente a 2222 m (Mantas, 2012c), mas não temos qualquer prova da sua utilização na Hispânia para além do facto que este valor é bastante inferior à unidade de 3000 m supostamente utilizada no «Itinerário de Barro» pelo que a dúvida permanece.
Crónica de Idácio (
Hydatii Episcopi Chronicon), manuscrito de
Idácio (
Hydatius), Bispo de Chaves, que descreve vários factos ocorridos entre o ano de 379 e 468 d.C., na senda da obra de
São Jerónimo de Stridon (
Eusebius Sophronius Hieronymus). Na primeira parte da obra, entre 379 e 427, Idácio ter-se-á baseado nas fontes bibliográfica existente na época, mas a partir de 427, data em que foi nomeado bispo de Chaves, passa a descrever factos seus contemporâneos, sendo por isso uma obra fundamental para compreender a desagregação do Império Romano no Noroeste Peninsular ocorrida durante todo o século quinto com as invasões Suévicas. A obra contém várias referências toponímicas e geográficas de primordial importância como por exemplo quando se refere a
ad locum qui portumcale appellatur («no lugar a que chamam Portucale») ou seja «Porto de Cale» o que levantou uma discussão que ainda hoje se mantém sobre a verdadeira localização da antiga
Cale referida no Itinerário de Antonino e sobre qual terá sido o seu papel na fundação do reino de Portugal (ver
Alarcão, 2005a;
Silva, 2010;
Ver aqui uma tradução para castelhano.
Paroquial Suevo (
Parochiale Sueuorum), manuscrito da segunda metade do século VI (entre os anos de 572 e 585), também designado por Divisão de Teodemiro (
Divisio Theodemiri) dado que resulta do processo de reestruturação das dioceses do Reino Suevo de Teodemiro, firmada em 569 durante o Concílio de Lugo. Neste documento, estabelece-se a nova organização administrativa e eclesiástica na Monarquia Suévica da Galécia, apresentando uma relação de 134 topónimos referentes a paróquias, divididos entre
eclessiae e
pagi, por sua vez agrupadas em treze dioceses. Este novo ordenamento assenta em grande parte na anterior romana (que por sua vez herdou a velha ordem castreja), reflectindo em grande parte essa velha organização administrativa. Trata-se assim de um documento da maior relevância para a identificação dos antigos topónimos durante o período romano. No entanto, continua existir grande incerteza nessa atribuição, dado que a grande maioria dos topónimos nele mencionados estão ainda por localizar ou rodeadas de grande incerteza.
Neste panorama desolador, há dois casos em que esta identificação não suscita dúvidas, como é o caso de
Tongobriga que corresponde à povoação de Tongóbriga de Marco de Canaveses, e de
Magnetum que deverá corresponde à paróquia de Meinedo (Lousada), que posteriormente se tornaria sede de bispado. Há também as enigmáticas referências a
Cale, aqui designado como «
castrum antiquum», para referir o Castelo de Gaia na margem sul, e «
castrum novum» para referir o povoado do Morro da Sé na margem norte, adensando ainda mais a já longa discussão sobre a localização original do povoado de
Cale. Por último, há um caso em o Paroquial Suevo foi decisivo na identificação de um povoado. Com efeito, o documento refere a paróquia de «
Caliabria» que foi identificado com o Castelo de Calábria, povoado da Idade do Ferro romanizado, localizado na margem esquerda do rio Douro, próximo de estação CF de Almendra e da via que ligava Barca Dalva à travessia do rio Côa junto à Quinta da Ervamoira. A sua localização remota e ausência de vestígios de monta (na sua base, junto à via viria a instalar-se uma estação viária romana tipo
mutatio), assim como o seu aparente abandono ainda em período Alto-Medieval, tornam difícil explicar a sua ascenção a diocese durante o reinado Visigótico, o que coloca algumas dúvidas nesta identificação. Em geral, este trabalho de identificação tem sido levado a cabo por medievalistas, mas para tentar desvendar os restantes topónimos mencionados no documento teria de haver um esforço conjunto que cruzasse os os dados de outras épocas, estudo esse que está por fazer.
L' Histoire des Grands Chemins de L'Empire Romain, publicado em França por
Nicolas Bergier em 1622 é uma das primeiras obras que estuda a rede viária romana numa perspectiva global. Publicada por ordem do rei francês Luís XIII, esta é uma obra fundamental do estudo da rede viária romana com os seus dois volumes e mais de 2000 páginas. Esta obra viria a ter uma grande influência nos estudos posteriores e na própria engenharia de estradas em França mormente através da publicação em 1693 pelo engenheiro francês
Hubert Gautier do
«Tratado sobre a Construção de Estradas» que utiliza os princípios romanos na elaboração de estradas anteriormente identificados por Bergier e que influenciou decisivamente o desenvolvimento da rede viária europeia nos séculos seguintes. Bergier é responsável pela famigerada teoria da estrutura construtiva das
viae em quatro camadas, teoria que não se viria a confirmar na maioria das vias estudadas.
Corpo de Inscrições Latinas (
Corpus Inscriptionum Latinarum) ou
CIL, compilação de inscrições latinas iniciada pelo historiador alemão
Theodor Mommsen em 1857. Este pediu ao seu discípulo, o epigrafista alemão Emil Hübner, para viajar para a Hispânia com o intuito de fazer o levantamento das epígrafes da região. Como resultado dessa viagem que decorreu de Março de 1860 a Outubro de 1861, é publicado em 1869 o Volume II do CIL designado por
Inscriptiones Hispaniae Latinae ou
CIL II. Nesta obra constam os miliários conhecidos na época, alguns dos quais entretanto desaparecidos, pelo que constitui um documento essencial no levantamento da rede viária romana. Em 1871, em
Noticias archeologicas de Portugal, Hübner aborda algumas dessas inscrições. Entretanto, a descoberta de novas epígrafes levou Hübner a encetar mais três viagens pela Hispânia na década de 80 das quais resultariam a publicação em 1892 do
Supplementum.
Carta do Império Romano (
Tabula Imperii Romani ou
TIR) é um projecto internacional iniciado em
1928 pelo inglês
Osbert Crawford, um pioneiro no uso e interpretação da fotografia aérea para a arqueologia, com o objectivo de criar um mapa arqueológico de todo o Império Romano em 56 folhas na escala 1:1 000 000 contendo povoações, estradas, acampamentos militares, templos, teatros, aquedutos, minas e outros vestígios arqueológicos. O plano inicial previa a publicação de 48 folhas, estendido depois para 56 de modo a cobrir a totalidade do império. As folhas são acompanhadas por um índice que fornece dados históricos e bibliográficos sobre cada localidade apresentada nos mapas. O projecto que é gerido sob os auspícios da UAI (
União Académica Internacional) tem sofrido diversos atrasos e só em 2002 foi concluída o mapa da Península Ibérica com a publicação da folha J-20 (Valencia). No que diz respeita a Portugal, o território nacional é coberto pelas folhas K-29 (Porto) e J-29 (Lisboa); a primeira versão da folha K-29 (Porto: Conimbriga - Bracara - Lucus - Asturica) surge logo nos primeiros volumes preliminares publicados em 1931, mas só é concluída em 1991, seguida pouco depois, em 1995, pela
folha J-29 (Lisboa: Emerita - Scalabis - Pax Iulia - Gades). Apesar dos seus méritos, a carta é superficial no que respeita à rede viária reflectindo os conhecimentos à época.
TABLA CARTOLARIUM
Portugaliae Monumenta Historica (
PMH), compilação de documentos históricos organizada por Alexandre Herculano, na senda do «Monumenta Germaniae Historicae», publicada em quatro tomos pela Academia Real das Ciências de Lisboa entre 1856 e 1888. O PMH inclui uma colecção de 952 documentos do século IX ao século XII recolhidos nos cartórios conventuais do país e agrupados sobre o título de
Diplomata et Chartae (
DC), sendo o último documento do ano 1100; os documentos de 1101 a 1123 foram posteriormente publicados em «Documentos Medievais Portugueses, Documentos Particulares» (vol. IV, V e VI, 1940-1962), encontrando-se os demais, no geral, inéditos. Entre estes antigos cartulários destacam-se o chamado
«Livro Preto da Sé de Coimbra» (
LP com 663 documentos, intitulado «
Liber inventarius cartarum sive testamentorum"»), o «Livro Preto do Mosteiro de Grijó» e do mesmo mosteiro, o «Baio Ferrado» (314 documentos), o «Censual do Cabido da Sé do Porto», o «Livros de Doações» e o importante cartulário de Braga,
«Liber Fidei», cujos documentos estão apenas em parte publicados no PMH (vide
original aqui). Em 1908, o
Abade de Tagilde publica o
«Vimaranis Monumenta Historica» com uma compilação de 353 documentos sobre o período medieval Vimaranense entre os anos de 870 e 1380. Já depois da morte de Alexandre Herculano, foram publicados novos documentos no PMH cuja publicação só foi concluída em 1977, mormente as
Inquirições de D. Afonso II de 1220 e de D. Afonso III de 1258.
Estes textos sobre actos notariais e as inquirições régias fornecem variadíssimas informações com relevância para o estudo da viação romana pois frequentemente estas antigas estradas delimitavam as propriedades em causa havendo por isso diversas referências à antigas vias como «
via antiqua», «
karraria antiqua», «
strada mourisca», «
via publica», «
strata maiore» e outras designações similares. Apesar das diferentes designações, não há dúvida que estas estradas já eram utilizadas no período romano (e seguramente em épocas mais recuadas, atendendo à sua relação directa com o povoamento castrejo pré-romano), sendo por isso uma fonte muito relevante para o apuramento destes trajectos. (vide
Biblioteca Nacional PMH, 1867-1873); nesta linha ver artigos fundacionais de Félix Alves Pereira, «
Situação Conjectural de Talabriga de 1907 e
«Ainda o Documento XIII dos «Diplomata et Chartae»» de Carlos Ferreira de Almeida de 1970,
CAB Almeida, 1999 e
Baptista, 1948:7-17). A tabela seguinte, continuamente actualizada, apresenta-se uma lista dessas referências, com hiperligações para o texto original e para a possível via referida nos textos.
Referências Viárias em Documentos Medievais |
PMH DIPLOMATA ET CHARTAE (DC) |
Doc. | Ano | Local | Referência | Via |
12 | 897 | Lavra | «karia antiqua usque i mare» |
Porto - Caminha |
13 | 906 | Sta. Eulália | «karraria antiqua», «estrata de uereda» |
Famalicão - Barcelos |
15 | 907 | Seliobria | «strada» |
? |
17 | 911 | Dume | «via quam dicunt de vereda» |
Braga - Gerês |
24 | 921 | Tresval | «in istrada qui discurit uia de uereda» |
Porto - Rates |
25 | 922 | Moledo | «portu de aliovirio» |
Chaves - Lamego |
29 | 924 | Paço, Oleiros | «carraria antiqua» |
? |
39 | 933 | Coimbra | «carraria maiore que discurrit ad ciuitate conimbrie» |
Braga - Lisboa |
67 | 955 | Conde | «per carraria maurisca» |
Porto - Caminha |
71 | 957 | São João | «ripa riuulo aue prope ponte petrina» |
Braga - Mérida |
81 | 960 | Vila Verde | «ponte petrina» |
Braga - Monção |
82 | 961 | Vizela | «per carraria» |
Braga - Penafiel |
95 | 968 | Vilela | «carrale que discurrit ad ciuitas conimbrie» | ? |
100 | 969 | Midões | «barcho de midones» | Viseu - Bobadela |
101 | 970 | Moledo | «carrale antiqua» | Chaves - Lamego |
104 | 972 | Mealhada | «via antiqua» | Mealhada - Bobadela |
106 | 973 | Vimieira | «karraria de illa vimeneira» | Braga - Lisboa |
114 | 974 | Treixedo | «via antiqua» | Coimbra - Bobadela |
151 | 986 | Guilhabreu | «carreira antiqua» | Braga - Lisboa |
174 | 995 | Serzedo | «strata veredaria» | Porto - Rio Vouga |
179 | 998 | Penacova | «carrale que uadit ad illo barco» | Coimbra - Bobadela |
198 | 1008 | Retorta | «careira » | Porto - Caminha |
240 | 1018 | Botão | «strada» | ? |
248 | 1021 | Leça | «ponte petrenea de Leza» | Braga - Lisboa |
287 | 1034 | Santo Tirso | «carrariam antiquam que uadit pro ad illum pontem petrinum» | Porto - Guimarães |
328 | 1043 | Serzedo | «karraria» | Porto - Rio Vouga |
359 | 1047 | Gemunde | «caral que uai at ille porto» | Porto - Barcelos |
366 | 1048 | Córdova | «carera antiqua» | Porto - Guimarães |
378 | 1050 | Pedaçães | «estrata maiore» | Braga - Lisboa |
416 | 1059 | Guilhade | «strata pro ad oriente», «strata de sancta cristina» | Tongobriga - Douro |
417 | 1059 | Alpendurada | «strata contra oriente» | Tongobriga - Douro |
420 | 1059 | Guimarães | «strata maior», «ponte petrina» | Braga - Guimarães |
443 | 1064 | Cossourado | «carraria antiqua» | Barcelos - Lima |
459 | 1067 | Fornelos | «carraria antiqua», «caria antiqua» | Porto Antigo - Viseu |
549 | 1077 | Rio Vouga | «strata maiore» | Braga - Lisboa |
563 | 1078 | Paradela | «strata maiore» | Braga - Lisboa |
570 | 1079 | Silvares | «carreira antiqua» |
Braga - Tongobriga |
591 | 1080 | Antanhol | «strata...ad colimbria» | Braga - Lisboa |
614 | 1083 | Romariz | «via maurisca» |
Arouca - Freita |
615 | 1083 | Cinfães | «kararea que vadi pro ad riu de Bestonza» | Cinfães - Sampaio |
639 | 1085 | Arouca | «vadit per via antiqua», «carraria antiqua», «carreira antiqua» |
Fornos - Arouca |
646 | 1085 | Arouca | «carral», «via» |
Escariz - Arouca |
675 | 1087 | Bilanes (?) | «strata prope littus maris» |
Porto - Rio Vouga |
676 | 1087 | Taveiro | «via publica» |
Braga - Lisboa |
684 | 1087 | Moldes | «carrale» |
Escariz - Arouca |
688 | 1087 | Sande | «carraria antiqua» |
Tongobriga |
700 | 1088 | Coimbra | «publica uia que ducit ad sanctaren» | Braga - Lisboa |
704 | 1088 | São João | «strata de iusta illa ecclesia de sancti ioanni» |
Braga - Lisboa |
807 | 1094 | Coselhas | «via qui discurrit ad sanctum romanum» | Braga - Lisboa |
817 | 1095 | Pampilhosa | «strada de uiminaria» | Braga - Lisboa |
833 | 1096 | Negrelos | «cararia antiqua» |
Porto - Guimarães |
842 | 1096 | Aldriz | «in terra ciuitatis sancte marie super stratam» |
Braga - Lisboa |
864 | 1097 | Santo Tirso | «ponte antiqua de flumine Avie, carreira que dividet aquam inter Lezam et Sanguinietum» |
Porto - Guimarães |
867 | 1097 | Mozelos | «strata ad portum asinarium riuulo maior» | Porto - Feira |
870 | 1098 | Portela | «super strada comodo subtus illa strada» | Braga - Lisboa |
888 | 1098 | Aregos | «karraria antiqua usque plicat inter ambas pausadas» | Braga - Viseu |
915 | 1099 | Gondivai | «kareira» | Porto - Barcelos |
PMH LEGES ET CONSUETUDINES (LC) |
Pág. | Ano | Local | Referência | Via |
370 | 1130 | Numão | «portellam de doiro», «carraria de sancto Johanne» | Numão - Murça |
493 | 1195 | Covelinhas | «stratam» | Chaves - Moimenta |
506 | 1199 | Belmonte | «viam veteram que ducit ad Montem Sanctum» | Belmonte - Mérida |
517 | 1201 | Arega | «viam publicam» | ? |
531 | 1201 | Pedrógão | «in aquilone per uiam que ducitur ad sanctaren» | ? |
610 | 1228 | Sortelha | «semederium veterem ad serram de opa» | Capinha - Sabugal |
VIMARANES MONUMENTA HISTORICA (VMH) |
Doc. | Ano | Local | Referência | Via |
63 | 1100 | Leitões | «uia antiqua», «carrariam maiorem» | Braga - Viseu |
LIVRO PRETO DA SÉ DE COIMBRA (LPSC) |
Doc. | Ano | Local | Referência | Via |
02 | 1003 | Sta. Comba | «via antiqua» | Mangualde - Coimbra |
60 | 1169 | Midões | «dirutum pontem lapideum» | Viseu - Bobadela |
64 | 1137 | Sta. Comba | «carral qui venit de tondella», «strata», «viam» | Coimbra - Viseu |
LIVRO PRETO DO MOSTEIRO DE GRIJÓ (LPMG) |
Fl. | - | Local | Referência | Via |
36 | - | Branca | «quantum laborauerint sub estrada» | Porto - Coimbra |
LIVRO DE DOAÇÕES DO MOSTEIRO DE SALZEDAS (LDMS) |
Fol. | Ano | Local | Referência | Via |
61 | 1152 | Queimada | «et per illa strada mourisca et dividit per Cemada» | Régua - Moimenta |
LIVRO DOS TESTAMENTOS DO MOSTEIRO DE PAÇO DE SOUSA (LTMPC) |
Doc. | Ano | Local | Referência | Via |
153 | 1135 | Ossela | «carral antiqua» | ? |
MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE AROUCA (MSMA) |
Fl. | Ano | Local | Referência | Via |
39 | 1152 | Pousada | «porto de Ponte et deinde per carreira» | Fornos - Arouca |
80 | 1257 | Moção | «ad stradam et deinde vadit ad Portelam de Cerquedelo et de Monzom» | Fornos - Arouca |
81 | 1257 | Albergaria | «petra de Antha vadit strada» | Porto - Viseu |
DOCUMENTOS MEDIEVAIS PORTUGUESES (DMP) | Documentos Régios (DR) |
Doc. | Ano | Local | Referência | Via |
13 | 1108 | Espiunca | «itinera antiqua» | Douro - Arouca |
48 | 1101 | Lamas | «carrale antiqua usque ferit in Alarda» | Escariz - Arouca |
49 | 1117 | Assilhó | «strada que currit de Portugal», «viam ad oriente» | Porto - Coimbra |
189 | 1142 | Fungalvaz | «castellum Carrapatosum per stratam» | Coimbra - Tancos |
271 | 1159 | Ceras | «stratam» (x3) | várias vias |
277 | 1161 | Monte Raso | «viam antiquam usque in monten rasum» | Régua - Moimenta |
277 | 1161 | Gaia | «carreriam quae venit de Gaya» | Porto - Coimbra |
297 | 1169 | Asseiceira | «stratam que uocatur de Penela usque Alfeigiadoa» | Tomar - Tancos |
391 | 1112 | Moreira | «karraria antiqua» | Porto - Barcelos |
392 | 1112 | Moreira | «karrarea antiqua» | Porto - Barcelos |
DOCUMENTOS DE D. SANCHO I (DDS) |
Pág. | Ano | Local | Referência | Via |
73 | 1194 | Amêndoa | «uiam mouriscam directe ad Vzezar» | Coimbra - Amêndoa |
117 | 1199 | Envendos | «Viam de Egitania» | Tomar - Salamanca |
117 | 1199 | Várzeas | «racefe mauriscum» | Pedrogão - Amêndoa |
117 | 1199 | Oleiros | «viam Couilliana ad focem de Cambas» | Tomar - Covilhã |
185 | 1209 | Maçãs | «stratam Colimbrianam»; «stratam veteram» | Coimbra - Tomar |
PORTUGALIAE MONUMENTA MISERICORDIARUM (PMM) UCP - CEHR |
Doc. | Ano | Local | Referência | Via |
72 | 1222 | Asseiceira | «albergariam de Saiceira»; «strata colimbriana ad Sanctarem», «Carreira que uadit ad colum de Almouriol» | várias vias |
DOCUMENTOS LATINOS (DL) Arquivo da Universidade Coimbra |
Fl. | Ano | Local | Referência | Via |
64 | 1288 | Mealhada | «estrada velha coimbram» | Porto - Coimbra |
INQUIRIÇÕES DE D. AFONSO III de 1258 (INQ) |
Pág. | Fs. | Local | Referência | Via |
347 | III | Rebordões | «via publica» (x2), «camino velio» | Braga - Tui |
396 | III | Fornelos | «ponte» | Braga - Tui |
486 | IV | Gião | «via veteris», «viam veterem» | Porto - Barcelos |
492 | IV | Alvarelhos | «viam veterem», «cararium veterum», «stratam veterem» | Braga - Porto |
619 | V | Ruivães | «carraria antiqua», «carrariam antiquam» | ? |
690 | V | Polvoreira | «viam veteram de Ladroeira» | Braga - Freixo |
723 | V | Azurém | «via vetera per valle usque Moutam de Cerzariis» | Porto-Guimarães |
760 | VI | Seia | «in ipso loco subtus via» | ? |
767 | VI | Seia | «inter ambas stradas que vadunt de Sancta Marina pro ad Senam» | ? |
773 | VI | Seia | «viam veterem de Sena» | Seia - Fundão |
773 | VI | Seia | «viam que vadit pro ad Covillianam» | Seia - Covilhã |
773 | VI | Seia | «viam publicam colimbriensem» | Bobadela - Celorico |
774 | VI | Bobadela | «carreiram ad Pobuam de Castineira» | Viseu - Bobadela |
776 | VI | Lajeosa | «viam veterem ad susu» | Bobadela - Celorico |
777 | VI | Lagos | «carreirum veterem» | Bobadela - Celorico? |
782 | VI | Coja | «strada Colimbrie» | Coimbra - Bobadela |
785 | VI | Gouveia | «viam algiam» | Mangualde - Gouveia |
813 | VI | Senhorim | «via que vadit de Senorim pro ad Vilar Seco» | Viseu - Bobadela |
813 | VI | Senhorim | «stratam» | Mangualde - Coimbra |
842 | VI | Magarelas | «viam que vadit pro ad Magarelas» | ? |
854 | VI | Vila Chã | «carril de Retura» | Coimbra - Viseu |
862 | VI | Vila Nova | «carril velo de Transpicoto» | Lamego - Viseu |
874 | VI | Cavernães | «sub via» | Viseu - Marialva |
907 | VI | Vouzela | «strada de camino pro ad pontem de rivolo de Vauzela» | Marnel - Viseu |
911 | VI | Vilharigues | «stratam ad pontem que vocatur de Homicidia»; «strada ad fundum quomodo vadit ad Rivum de Cambar» «portu de Usa ad pontem de Retorta» | Marnel - Viseu |
958 | VII | Cinfães | «carril veterem que venit de Sancto Fiiz per super Sanctam Mariam de Caaes» | Freixo - Viseu |
983 | VII | Tendais | «sub via», «super strata» e «estrada» | Freixo - Viseu |
984 | VII | Gralheira | «carreirum antiqum» | Freixo - Viseu |
PORTUGALIAE STUDIA
Sobre o estudo da viação romana em Portugal
A rede viária romana como conceito histórico só começa a tomar forma no Renascimento, passando o assunto a ser tratado com interesse científico. Este despertar dos eruditos para o período romano e a sua história viria a ter um forte influência em todos os estudos posteriores, em particular após a publicação em 1622 da «História dos grandes caminhos do Império Romano" por Nicolas Bergier, criando uma narrativa sobre a viação romana que sobrevive ainda nos nossos dias. Entretanto o avanço dos estudos arqueológicos tem permitido desfazer muitos dos mitos criados por Bergier e outros autores posteriores. Um impulso decidivo nesta evolução foi a criação em 1857 do
Corpus Inscriptionum Latinarum (ou CIL), iniciado por Theodor Mommsen, dando início a um trabalho sistemático de recolha de todas as inscrições latinas conhecidas. Este
corpus conta hoje com 17 volumes, divididos em 70 partes, e abrange cerca de 180.000 inscrições, mas está longe de estar terminado, com a adição todos anos de novas inscrições. Na senda do CIL surgiram outras iniciativas similares um pouco por toda a Europa como é o caso do
«L'Année Epigraphique» iniciado por René Cagnat em 1888. É neste espírito que surge no início do século XX (1928) o projecto internacional
Tabula Imperii Romani ainda activo que tenta agrupar todos os vestígios romanos conhecidos em cartas geográficas, mas que se tem revelado uma tarefa muito lenta e sem uma trabalho de revisão dos avanços entretanto efectuados.
O estudo da viação romana em Portugal tem tido uma grande evolução nas últimas décadas com a publicação de diversos estudos dedicados ao tema. Todavia, todo este conhecimento manteve-se disperso por uma multiplicidade de publicações de diferentes origens e de acesso difícil. Com o advento da internet muitas dessas publicações passaram a estar disponíveis 'online', o que veio motivar a criação deste site. A sua análise crítica é muito dificultada pelo carácter regional da maioria deste estudos, limitando-se a apresentar os vestígios viários dispersos pela área em causa sem o devido enquadramento supra-regional que daria uma visão de conjunto, ajudando na sua interpretação. O estudo da viação romana é assim um campo de areias movediças, onde a multiplicidade de propostas sem adesão ao terreno, e muitas vezes incompatíveis entre si. Em resultado da ausência de uma base de trabalho sólida e relativamente consensual, verifica-se uma grande dispersão de abordagens na classificação e datação dos vestígios viários, sem qualquer base científica e um pouco ao sabor dos critérios particulares de cada autor.
Neste contexto há que manter um olhar crítico sobre os velhos pressupostos sobre a viação romana, como a classificação e todo e qualquer troço lajeado, ou ponte antiga, como «romano». A seguir apresenta-se um breve resumo da historiografia da investigação em território nacional.
Claude Bronseval
Entre 1531 e 1533 o Frei Claude Bronseval, secretário do abade do mosteiro Bernard de Clairvaux em França, Edme de Salieu, acompanhou-o numa viagem a Espanha e Portugal para observar
in loco a situação dos mosteiros cistercienses, registando os itinerários adoptados e as vicissitudes encontradas ao longo do seu percurso. No regresso compilou meticulosamente as suas notas de viagem num pergaminho sobre o título «
Incipit Peregrinatio Hispanica». O documento permaneceu inédito até à sua descoberta em 1944 por Émile Jalibois, sendo posteriormente entregue ao historiador cisterciense Dom Maur Cocheril para estudo até que foi finalmente publicado em 1970. O relato de Bronseval deixa-nos uma impressiva descrição da rede viária no século XVI, em grande parte ainda assente na velha estrutura romana, fazendo referência por exemplo aos miliários da
via Mérida-Lisboa (Bronseval, 1970:501-502) e a vários pontos do seu percurso como a Ponte Romana de Vila Formosa (Bronseval, 1970:667), a encruzilhada das Mestas, o caminho por Perna Seca para Santarém e do ramal que seguia para Tomar cruzando o rio Tejo em Tancos.
Juan de Villuga
Em 1546 Pedro Juan de Villuga publica o
«Reportorio de todos los camiños de España», nas suas palavras - "hasta agora nunca vistos en que allará que cualquier viajero que quiera andar muy provechoso para todos los caminantes", uma extensa compilação de roteiros terrestres na Península. Para cada itinerário são indicadas as estações intermédias e as respectivas distâncias em léguas (1 légua é equivalente aproximadamente a 4 milhas romanas ou 6 km). Os caminhos indicados utilizam em geral vias do período romano; no entanto, observam-se notáveis diferenças decorrentes da adaptação à situação geopolítica vigente no século XVI. Para o território actualmente português temos os seguintes 9 itinerários: 15 - de Barcelona a Lisboa; 59 - de Sevilha a Lisboa; 60 - Lisboa a Évora; 61 - de Évora a Burgos; 62 - de Évora ao Porto; 63 - de Setúbal a Lisboa; 64 - de Lisboa a Salamanca; 65 - de Évora a Toledo; 66 - de Lisboa a Valencia.
O
mapa desenhado para ilustrar a primeira edição pode ser consultado
aqui.
João de Barros
Por volta do ano 1536, João de Barros termina o seu manuscrito intitulado «
Geografia de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes», obra fundamental sobre a região a norte do rio Douro, contendo várias referências à rede viária. Em 1549 escreve o "Libro das antiguidades e cousas notáueis de Antre Douro e Minho, e de outras muitas de España e Portugual" fornecendo também alguns dados sobre rede viária, em particular transcrevendo as epígrafes de vários miliários. Em 1561, o seu meio sobrinho, Gaspar Barreiros, escreve "
Chorographia de alguns lugares que stam em hum caminho que fez Gaspar Barreiros", onde faz algumas considerações sobre a localização de alguns povoados romanos em Portugal, no âmbito do capítulo sobre a sua passagem em Talavera la Real. O autor localiza correctamente
Collippo em S. Sebastião do Freixo (c. Leiria), assim como as estações do Itinerário XVI,
Aeminium e
Conimbriga, respectivamente em Coimbra e Condeixa-a-Velha, mas equivoca-se ao colocar
Talabriga em Cacia, assim como ao identificar
Seilium com a "vila de Ceice, junto a Tomar" (Seiça, Ourém), proposta também seguida por André de Resende que se vieram a revelar infundada (Barreiros, 1581: fl. 48-51). Notar que ainda muito recentemente
Aeminium era colocada em Águeda e
Talabriga em Aveiro, mostrando como é sinuoso o estudo da viação romana, havendo necessidade de rever os autores mais antigos que por vezes andam mais perto da verdade do que muitas das conjecturas lançadas por autores posteriores sem qualquer base factual.
Francisco d'Holanda
Em 1571, o humanista português
Francisco de Holanda
publica a sua primordial obra sobre o urbanismo de Lisboa «
Da Fabrica que falece ha Cidade de Lysboa», onde refere alguns vestígios da rede viária romana, como sejam as «calçadas de scilice» nas Mestas de Montargil («Venda das Mestas»), as «Pontes Romanas» de Sacavém e «acima de Abrantes», não havendo vestígios de nenhuma delas.
André de Resende
Mas é só com
André de Resende, o pioneiro da arqueologia em Portugal que se começa a sistematizar o estudo da época romana, principalmente após a publicação póstuma em 1593 da sua obra
De Antiquitatibus Lusitaniae («Antiguidades da Lusitânia»), onde dedica um capítulo às vias romanas intitulado «
De Viis Militaribus» com notáveis referências aos muitos vestígios que ainda subsistiam na época, mormente com o registo dos «letreiros em pedra» que iam aparecendo um pouco por todo o Alentejo. As dúvidas sobre a autenticidade de algumas das epígrafes registadas por Resende foram bem evidenciadas no século XIX pelo epigrafista alemão Emil Hübner durante a elaboração do CIL, dando como falsas muitas dessas inscrições. No entanto, esta posição excessivamente crítica ao relato de Resende tem vindo a ser revista (Encarnação, 1998:720-722; 1991:193-221) e actualmente muitas delas foram "reabilitadas"; aliás, para Vasco Mantas não há razões objectivas para duvidar da informação fornecida por Resende no que concerne à rede viária pois é o próprio autor renascentista a expressar a suas dúvidas (muitas das quais ainda se mantêm) e não se vislumbra qual a motivação política que poderia estar por trás de tal falsificação (Mantas, 2019b:213-214). No Livro III, Resende refere 22 miliários dos quais 12 com epígrafe legível.
De Frei Bernardo de Brito a Nunes de Leão
Em 1597 Frei Bernardo de Brito (1569-1617), monge do Mosteiro de Alcobaça, inicia a publicação de uma história de Portugal dividida em 8 partes intitulada «
Monarchia Lusytana», da qual apenas redigiu as duas primeiras partes, tendo publicado a primeira em 1597 e a segunda em 1609. Brito segue a tradição de Resende de um relato algo fantasista da história, no entanto, as suas várias referências a vestígios viários do período romano são importantes para a identificação dos traçados. No ano seguinte, Duarte Nunes de Leão publica a sua «
Descripção do Reino de Portugal», onde refere também diversos vestígios romanos dispersos por todo o reino.
De Gaspar Estaço a Francisco Craesbeeck
No século XVII sucedem-se as publicações sobre «antigualhas romanas». Em 1625, Gaspar Estaço (156_?-1626), Cónego da Colegiada de Guimarães publica «
Várias Antiguidades de Portugal», seguindo-se Luís Marinho de Azevedo em 1652 com «
Antiguidades e Grandezas da Mui Insigne Cidade de Lisboa». Em 1706 o Padre
António Carvalho da Costa publica a sua importante obra «
Corografia Portuguesa» e Francisco Craesbeeck, na época Corregedor da Comarca de Guimarães, publica em 1726 as «
Memórias ressuscitadas da província de Entre Douro» aludindo a várias epígrafes romanas.
Do Padre Mattos Ferreira a Contador de Argote
Em 1728 o
Padre José de Mattos Ferreira, pároco de Amares, publica os miliários por si encontrados na «
Via Romana do Gerês (Geira)» num levantamento feito em 1721 e que viria a ser incluído na monumental obra de
D. Jerónimo Contador de Argote «
Memórias para a História Ecclesiástica do Arcebispado de Braga» (1732-34), sendo o terceiro volume, publicado em 1734 dedicado às vias romanas que partiam de Braga, indicando os achados conhecidos à época, mormente miliários, fornecendo informações preciosas sobre o trajecto destas vias antes das transformações sofridas nos séculos vindouros. Grande parte desta informação é republicada por Argote em 1738 no «
De antiquitatibus conventus Bracaraugustani», outra obra fundamental para o conhecimento do território sobre administração de
Bracara Augusta,
O «Roteiro Terrestre de Portugal» do Padre João Baptista de Castro
Em 1748, o Padre João Baptista de Castro publica a segunda edição do seu «
Roteiro Terrestre de Portugal», onde compila as principais rotas terrestres em território nacional, indicando as estações viárias e respectivas distâncias intermédias, fornecendo informação preciosas sobre os itinerários nesse período que no essencial utiliza as velhas rotas romanas, sendo por isso uma obra fundamental para a identificação dos caminhos romanos. A primeira edição do roteiro integrava como anexo a sua monumental obra intitulada «
Mappa de Portugal Antigo e Moderno», publicada entre 1745 e 1758. Na introdução, o autor faz uma breve descrição dos Itinerários de Antonino no capítulo sobre "Vias Militares", onde ensaia uma tentativa de localização das respectivas estações viárias à luz do conhecimento existente nessa época. Na terceira edição do roteiro publicada em 1767, viria a aumentar este capítulo de 17 para 27 páginas, com uma descrição mais completa dos possíveis trajectos com informações que tinha entretanto reunido, em particular a partir das cartas que recebeu do Frade Francisco de Oliveira sobre possíveis trajectos romanos (Páscoa, 2002).
Do Frei Manuel do Cenáculo a Rosa de Viterbo
Em 1770, Manuel de Vilas-Boas Anes de Carvalho (1724 – 1814), mais conhecido por D. Frei Manuel do Cenáculo, na sequência da sua nomeação como Bispo de Beja, promove a recolha e salvaguarda de diversas peças arqueológicas que iam sendo descobertas por todo o Alentejo, dando origem ao primeiro museu português. Também promoveu as primeiras escavações arqueológicas em Portugal em sítios históricos como Mértola, Santiago do Cacém e Castro da Cola. Em 1793 publica «
Monumenta Linguae Iberae» com o resultado dos seus estudos. Com a sua nomeação para Arcebispo de Évora, a colecção é levada para esta cidade onde ainda hoje pode ser admirada no actual Museu de Évora. Pouco depois o Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo publica em 1798 o «
Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram» com várias referências a achados romanos.
De Estácio da Veiga a Martins Capella e Martins Sarmento
Com a explosão do interesse pela arqueologia na segunda metade do século XIX, os historiadores portugueses, inspirados pelo trabalho de Emil Hübner para o CIL, começam a publicar sobre o assunto. Em 1877,
Estácio da Veiga publica as «
Memórias das Antiguidades de Mértola», seguido da «
Carta Arqueológica do Algarve» em 1878 que viria a culminar na publicação em 4 volumes do «
Antiguidades Monumentaes do Algarve» entre 1886 e 1891.
Em 1895, o
Padre Martins Capella publica uma obra essencial sobre a epigrafia viária do noroeste de Portugal intitulada «
Miliários do Conventus Bracara Augustanus em Portugal», referindo muitas colunas que foram entretanto destruídas ou estão desaparecidas, não restando mais do que este relato de Capella. No mesmo ano, José Henriques Pinheiro, publica o seu «
Estudo da estrada militar romana de Braga a Astorga» que constitui o primeiro grande estudo sobre o Itinerário XVII Braga-Chaves-Astorga.
Entretanto
Francisco Martins Sarmento publica diversos artigos sobre os marcos miliários a norte do rio Douro. A
Sociedade Martins de Sarmento sediada em Guimarães disponibiliza estes artigos assim como a correspondência trocada com
Albano Belino, investigador autodidacta que descobriu várias epígrafes no aro de Braga (
vide Secção Albano Belino).
De Leite de Vasconcelos a Manuel Heleno
Mas o grande responsável pelo estabelecimento da arqueologia como ciência autónomo em Portugal foi sem dúvida José Leite de Vasconcelos ao promover a fundação em 1894 do Museu Etnológico de Belém (posteriormente renomeado como «Museu Nacional de Arqueologia» tendo a sua sede no Mosteiro dos Jerónimos); em 1895 lança a revista «
O Archeologo Português» que viria a centrar a investigação e recolha de artefactos em território nacional. Este trabalho teve continuidade através do seu sucessor na direcção do museu, Manuel Heleno, embora muito criticado pelos seus pares pela orientação nacionalista com que conduziu a arqueologia portuguesa durante o 'Estado Novo'.
De Costa Veiga a Mário Saa
Em meados do século XX assiste-se a uma explosão dos estudos sobre a viação romana, com a publicação de vários estudos sobre o trajecto da via, tal como «A Via Romana de Lisboa-Alter-Mérida» publicado em 1943 por Augusto Costa Veiga, «
De Talabriga a Lancobriga pela Via Militar Romana» publicado em 1943 pelo Padre Miguel de Oliveira, as «
Vias Romanas das Regiões de Chaves e Bragança» publicado em 1956 por Lereno Barradas. Entretanto
Mário Saa inicia a publicação entre 1951 e 1967 de «
As grandes vias da Lusitânia: o itinerário de Antonino Pio», obra em 6 volumes onde relata as suas prospecções ao longo de vinte anos na busca dos percursos romanos e que constitui ainda hoje uma obra essencial para a restituição dos traçados, em particular porque muitos dos vestígios foram sendo apagados no entretanto. O espólio por si recolhido está exposto na
Fundação Arquivo Paes Teles no Ervedal, concelho de Avis, mormente a
ara dedicada aos lares viales do Monte das Esquilas (Monforte) e dois miliários, o miliário a Constantino Magno ou I proveniente do Casal da Pocariça (Lagoa Grande, Bemposta, Abrantes) e o miliário a Tácito proveniente da Capela da Ns. dos Prazeres em Ponte de Sor (IRCP 666a). Esta meritória fundação preserva ainda a sua biblioteca e prevê expor em breve todo o espólio arqueológico ali depositado depois da sua recente inventariação.
(
Encarnação, 1995; Mantas, 2010)
De Carlos Ferreira de Almeida aos nossos dias
A partir dos anos sessenta do século XX, a investigação intensifica-se com a publicação de importantes estudos sobre a viação romana. Em 1968 Carlos Ferreira de Almeida publica a sua dissertação intitulada «
Vias Medievais entre Douro e Minho».
Em 1979, Brochado de Almeida publica «
A Rede Viária do Conventus Bracara Augustanus» e logo em 1981 Alain Tranoy publica «
La Galice Romaine», a primeira obra de fôlego sobre o Noroeste peninsular (onde se faz uma revisão dos miliários então conhecidos). Seguem-se um grande trabalho sobre epigrafia com publicação da monumental obra de José d'Encarnação sobre as «
Inscrições Romanas do Conventus Pacensis» (posteriormente revista na reedição de 2013). A primeira grande obra sobre o mundo romano em Portugal surge apenas em 1988 pela mão de Jorge de Alarcão, o indispensável «Roman Portugal», do qual resultou posteriormente um livro de divulgação intitulado «
O Domínio Romano em Portugal» que inclui um capítulo com os principais itinerários. Em 1990 Pierre Sillières publica um extenso estudo sobre a viação romana na sua tese de doutoramento intitulada «
Les Voies de Communication de l'Hispanie Méridionale». Poucos anos depois, em 1996, Vasco Mantas apresenta a sua dissertação de doutoramento intitulada «
A Rede Viária da Faixa Atlântica entre Lisboa e Braga», trazendo nova luz sobre a intrincada rede de comunicações no período romano nessa faixa litoral do território nacional. Nos últimos anos esta área da arqueologia tem ganho grande destaque na literatura científica e alguns autores em particular têm publicado interessantes estudos sobre o sistema viário romano como Manuel Maia, João Pedro Bernardes, Luís Fraga da Silva e Sandra Rodrigues para a região do Algarve, Francisco Bilou, André Carneiro e Maria José Almeida para o norte alentejano, Seabra Lopes na região do Vouga, João Inês Vaz na região de Viseu, Lino Tavares Dias no território da
Civitas Tongobrigensis, Sande Lemos na região de Trás-os-Montes, Rodriguez Colmenero no território da
Civitas Aquiflaviensis, entre muitos outros.
Ver bibliografia sobre vias romanas no final desta página.
ANTONINI ITINERARIUM
Os Itinerários de Antonino em Portugal
As várias edições do Itinerário de Antonino baseiam-se em cópias manuscritas efectuadas entre o século VIII e XII que apresentam algumas discrepâncias entre si. Deste modo existem diversas versões do itinerário que apresentam diferentes grafias para estações viárias, assim como diferentes valores para as distâncias intermédias. Apesar destas dificuldades, os últimos estudos têm demonstrado que o itinerário está bem mais próximo da evidência arqueológica no terreno do que inicialmente se pensava, desde que correctamente interpretados, nomeadamente corrigindo a ausência de uma ou outra estação intermédia em alguns casos ou seleccionando a partir dos manuscritos medievais a distância que mais se adequa às medições no terreno. As alterações propostas à edição de Wesseling são explicadas abaixo sobre a forma de
notas. No I.A. constam 372 itinerários distribuídos por todo o império dos quais 11 referem-se ao actual território nacional.
- m.p.
milia passuum, mil passos, milha romana, cerca de 1500 m.
- stadia, estádio, unidade usada em navegação; aproximadamente 184,7 m (0,1154 milhas ou cerca de 1/8 da milha).
Iter XII 12
gif |
Lisboa a Mérida |
Item ab OLISIPONE EMERITAM |
m.p. CLXI |
AQUABONA
CATOBRICA
CAECILIANA
MALATECA
SALACIA
EBORA
AD ATRUM FLUMEM
DIPONE
EVANDRIANA
EMERITA
|
m.p. XII
m.p. XII
m.p. VIII
m.p. XXVI
m.p. XII
m.p. XLIIII
m.p. VIIII
m.p. XII
m.p. XVII
m.p. VIIII
|
Via XIII 13
gif |
Lisboa a Faro |
A SALACIA OSSONOBA |
m.p. XVI |
Este singular itinerário indica apenas uma etapa de Salacia (Alcácer do Sal) a Ossonoba (Faro), mas as 16 milhas indicadas são manifestamente insuficientes para cobrir essa distância. Assim, este poderia indicar apenas o ramal de ligação de Alcácer do Sal ao Torrão.
|
Via XIV 14
gif |
Lisboa a Mérida |
Alio itinere ab OLISIPONE EMERITAM |
m.p. CLIIII |
ARITIO PRAETORIO
ABELTERIO
MATUSARO
AD SEPTEM ARAS
BUDUA
PLAGIARIA
EMERITA
|
m.p. XXXVIII
m.p. XXVIII
m.p. XXIIII
m.p. VIII
m.p. XII
m.p. VIII
m.p. XXX
|
Via XV 15
gif |
Lisboa a Mérida |
Item alio itinere ab OLISIPONE EMERITAM |
m.p. CCXX |
IERABRIGA
SCALLABIN
TABUCCI
FRAXINUM
MONTOBRIGA
AD SEPTEM ARAS
PLAGIARIA
EMERITA
|
m.p. XXX
m.p. XXXII
m.p. XXXII
m.p. XXXII
m.p. XXX
m.p. XIIII
m.p. XX
m.p. XXX
|
Via XVI 16
gif |
Lisboa a Braga1 |
Item ab OLISIPONE BRACARAM AUGUSTAM |
m.p. CCXLIIII |
IERABRIGA
SCALLABIN
SELLIUM
CONEMBRIGA
EMINIO
TALABRIGA
LANGOBRIGA
CALEM
BRACARA
|
m.p. XXX
m.p. XXXII
m.p. XXXII
m.p. XXXIIII
m.p. X
m.p. XL
m.p. XVIII
m.p. XIII
m.p. XXXV
|
Via XVII 17
gif |
Braga a Astorga2 |
Item a BRACARA ASTURICAM |
m.p. CCXXXVII |
SALACIA
PRAESIDIO
CALADUNO
AD AQUAS
PINETUM
ROBORETUM
COMPLEUTICA
VENIATIA
PETAVONIUM
ARGENTIOLUM
ASTURICA
|
m.p. XX
m.p. XXVI
m.p. XVI
m.p. XVIII
m.p. XX
m.p. XXXVI
m.p. XXVIIII
m.p. XXV
m.p. XXVIII
m.p. XV
m.p. XIIII
|
Via XVIII 18
gif |
Braga a Astorga |
Item alio itinere a BRACARA ASTURICAM |
m.p. CCXV |
SALANIANA
AQUIS ORIGINIS
AQUIS QUERQUENNIS
GEMINIS
SALIENTIBUS
PRAESIDIO
NEMETOBRIGA
FORO
GEMESTARIO
BERGIDO
INTERERACONIO FLAVIO
ASTURICA
|
m.p. XXI
m.p. XVIII
m.p. XIIII
m.p. XVI
m.p. XVIII
m.p. XVIII
m.p. XIII
m.p. XVIIII
m.p. XVIII
m.p. XIII
m.p. XX
m.p. XXX
|
Via XIX 19
gif |
Braga a Astorga |
Item a BRACARA ASTURICAM |
m.p. CCXCVIIII |
LIMIA
TUDAE
BURBIDA
TUROQUA
AQUIS CELENIS
TRIA
ASSEGONIA
BREVIS
MARCIE
LUGO AUGUSTI
TIMALINO
PONTE NEVIAE
UTTARIS
BERGIDO
INTERAMNIO FLUVIO
ASTURICA
|
m.p. XVIIII
m.p. XXIIII
m.p. XVI
m.p. XVI
m.p. XXIIII
m.p. XII
m.p. XIII
m.p. XXII
m.p. XX
m.p. XIII
m.p. XXII
m.p. XII
m.p. XX
m.p. XVI
m.p. XX
m.p. XXX
|
Via XX 20
gif |
Braga a Astorga |
Item per loca maritima a BRACARA ASTURICAM usque |
AQUIS CELENIS
VICO SPACORUM
AD DUOS PONTES
GRANDIMIRO
TRIGUNDO
BRIGANTIUM
CARANICO
LUGO AUGUSTI
TIMALINO
PONTE NEVIAE
UTTARI
BERGIDO
ASTURICA
|
stadia CLXV
stadia CXCV
stadia CL
stadia CLXXX
m.p. XXII
m.p. XXX
m.p. XVIII
m.p. XVII
m.p. XXII
m.p. XII
m.p. XX
m.p. XVI
m.p. L
|
Via XXI 21
gif |
Foz do Guadiana a Beja
3 |
Item de BAESURIS a PACE IULIA |
m.p. CCLXVII |
BALSA
OSSONOBA
ARANNIS
Sarapia?
SALACIA
EBORA
SERPA
FINES
ARUCCI
PACE IULIA
|
m.p. XXIIII
m.p. XVI
m.p. LX
m.p. XXX
m.p. XXXV
m.p. XLIIII
m.p. XIII
m.p. XX
m.p. XXV
m.p. XXX
|
Via XXII 22
gif |
Foz do Guadiana a Beja
'pelo caminho mais curto' |
Item ab BAESURIS per compendium PACE IULIA |
m.p. LXXVI |
MYRTILIS
PACE IULIA
|
m.p. XL
m.p. XXXVI
|
Via XXIII 23
gif |
Foz do Guadiana a Mérida4
|
Item ab ostio fluminis ANAE EMERITAM usque |
m.p. CCCXIIII |
PRAESIDIO
AD RUBRAS
ONOBA
ILIPA
TUCCI
ITALICA
MONTE MARIORUM
CURIGA
CONTRIBUTA
PERCEIANA
EMERITA
|
m.p. XXIIII
m.p. XXVIII
m.p. XXVIII
m.p. XX
m.p. XXII
m.p. XVIII
m.p. XLVI
m.p. XLVIIII
m.p. XXIIII
m.p. XX
m.p. XXIIII
|
Via XXIIII 24
gif |
Mérida a Saragoça
|
Item ab EMERITA CAESARAUGUSTAM |
m.p. DCXXXII |
AD SORORES
CASTRIS CAECILI
TURMULOS
RUSTICIANA
CAPARA
CAECILIO VICO
AS LIPPOS
SENTICE
SALMATICE
SABARIAM
OCELO DURI
ALBOCELA
AMALLOBRIGA
SEPTIMANCA
NIVARIA
CAUCA
SEGOVIA
MIACUM
TITULCIAM
COMPLUTUM
ARRIACA
CAESADA
SEGONTIA
ARCOBRIGA
AQUAE BILBITANORUM
BILBILI
NERTOBRIGA
SEGONTIA
CAESARAUGUSTA
|
m.p. XXVI
m.p. XX
m.p. XX
m.p. XXII
m.p. XXII
m.p. XXII
m.p. XII
m.p. XII
m.p. XXIIII
m.p. XXI
m.p. XXI
m.p. XXII
m.p. XXII
m.p. XIIII
m.p. XII
m.p. XXII
m.p. XXVIIII
m.p. XXVIIII
m.p. XXIIII
m.p. XXX
m.p. XXII
m.p. XXIIII
m.p. XXIII
m.p. XXVII
m.p. XVI
m.p. XXIIII
m.p. XXI
m.p. XIIII
m.p. XVI
|
NOTAS
1 -
Itinerário XVI - As distâncias indicadas neste itinerário apresentam algumas incongruências, sugerindo a existência de erros na transcrição do documento original. A parte inicial indica 30 milhas a
Ierabriga distância que corresponde ao percurso entre Lisboa à base do Monte dos Castelinhos (e não a Alenquer como se tem proposto), passando por Loures. Também as 34 milhas indicadas a
Scallabis são coerentes com a distância a Santarém. A partir daqui há muitas dúvidas nas distâncias indicadas que não batem certo com as medições no terreno. O itinerário indica 32 milhas de
Scallabis a
Seilium quando se medem 34 milhas pelo percurso proposto, e o mesmo acontece no troço seguinte entre
Seilium e
Conimbriga onde são indicadas 34 milhas quando este valor que é inferior à distância em linha recta entre Tomar e Conímbriga, mostrando que há erro num destes valores (Mantas, 1996:554). Daqui a Coimbra, as 10 milhas indicadas são coerentes com a medição do trajecto. Novo problema na etapa seguinte dado que são indicadas 40 milhas entre
Aeminium e
Talabriga, valor em excesso para o percurso entre o Mondego e o Vouga, que ronda as 34 milhas. Daqui decorre a incerteza da localização de
Talabriga que por esta razão foi colocada a norte do Vouga, nomeadamente em Branca (Pereira, 1907). No entanto, os importantes vestígios de um povoado proto-histórico romanizado no chamado Cabeço do Vouga, levou Amorim Girão a propor a sua identificação com
Talabriga (Girão, 1922), tese seguida por outros investigadores como
Seabra Lopes e Jorge de Alarcão. No entanto, o problema das distâncias não permite fechar a discussão e é bem provável que nenhuma destas localizações esteja correcta, dado que as 40 milhas correspondem ao povoado proto-histórico da Ns. do Socorro, totalmente destruído pela construção deste santuário. A informação sobre este povoado é quase nula, havendo notícia de achados que remetem para o Bronze Final. Na etapa seguinte até
Cale também há incongruências com a distância indicada de 31 milhas (18 +13) nitidamente insuficiente para cumprir a distância necessária (a não ser na hipótese Branca). Pensamos que aqui o erro está na distância indicada de 18 milhas entre
Langobriga e
Talabriga que deverá ser corrigido para 23 milhas. A 16ª milha era atingida na Albergaria de Souto Redondo, a 12 milhas do Castro de Úl, conforme indicado no miliário aqui encontrado. Finalmente a etapa final de
Cale a
Bracara está correcta e foi confirmada pelos diversos miliários conhecidos desta via (sobre este itinerário ver também os estudos de Vasco Mantas e
Carlos Ferreira de Almeida e Silva AMSP, 2015).
2 -
Itinerário XVII: Neste itinerário há divergência entre os vários manuscritos medievais na indicação miliária nas etapas finais antes de chegar a
ASTURICA, em particular na distância entre as estações de
COMPLEUTICA e
VENIATIA e na etapa final de
ARGENTIOLUM a
ASTURICA; apesar da distância total ser coincidente, há 10 milhas que ora são atribuídas ao primeiro caso ora ao segundo. De facto, enquanto o manuscrito de Paris datado do século X (
Parisinus Regius 7230 A) surge a combinação XV milhas para a primeira e XXIIII milhas para a segunda, que é versão adoptada na edição de Cuntz; no entanto, no manuscrito de Viena datado do século VIII (Vindobonensis, 181), portanto bem mais antigo, as distâncias intermédias indicas são XXV para a primeira e XIIII milhas para a segunda (Wesseling, 1735:423). Esta última versão parece ser a correcta pois é a única que permite acertar as distâncias intermédias com a estação de
PETAVONIUM, situada com toda a probabilidade no acampamento romano da
ala II Flavia, a oeste de Rosinos de Vidriales. Sendo assim, valores correctos seriam 25 milhas de
COMPLEUTICA a
VENIATIA e 14 milhas de
ARGENTIOLUM a
ASTURICA, valores que se adequam à realidade arqueológica e geográfica;
vide Itinerário XVII
3 -
Itinerário XXI - A introdução de uma estação intermédia no troço da via entre
Ossonoba e
Salacia do Itinerário XXI decorre da necessidade de acertar as milhas indicadas no itinerário com a distância realmente medida entre Faro e Alcácer do Sal. Ora esta
mansio seria provavelmente "
Rarapia" ou "
Sarapia" que é referida em algumas das cópias manuscritas do Itinerário de Antonino. Esta
mansio estaria localizada em Alvalade, nó viário onde há bastantes vestígios romanos e que se situa a 35 milhas de Alcácer e a 32 milhas do Castro da Cola, onde localizamos
Arannis. Mais detalhes na descrição do trajecto do
Itinerário XXI.
4 -
Itinerário XXIII -
O troço inicial deste itinerário continua a levantar muitas dúvidas tanto nas estações como nas distâncias indicadas. O primeiro troço ligava a Foz do Guadiana a Huelva (
Onuba). Seguramente que a via não seguia pelo litoral como se tem afirmado, seguindo inicialmente para nordeste rumo a Villanueva de los Castillejos, seguindo depois por Gibraleón para Huelva. Daqui rumava a nordeste em direcção a
Italica (Santiponce) com as distâncias indicadas a confirmarem a localização de
Ilipa ou
Illipla em Niebla e
Tucci num pequeno sítio romano chamado «Tejada la Nueva». Entre
Italica e
Curiga existe claramente um erro nas distâncias intermédias; as 95 milhas indicadas são excessivas face à distância real que ronda as 55 milhas. Por outro lado, não é coerente um espaçamento tão grande entre estações num único itinerário, com
Monte Mariorum a situar-se a 46 de
Italica e ao mesmo tempo a 49 milhas de
Curiga. Desta forma é provável que possa existir um erro de transcrição das milhas ou uma interpretação errada da sequência de estações. Admitindo a hipótese de o
Monte Mariorum corresponder à portela na actual divisória entre as províncias de Sevilha e Badajoz, as distâncias correctas seriam:
Italica a
Monte Mariorum - 31 m.p. e desta a
Curiga - 24 m.p.; quando as escrevemos em numeração romana, o erro torna-se plausível, trocando respectivamente XLVI por XXXI num caso, e XLVIIII por XXIIII, noutro. O troço final de
Curiga a
Emerita por sua vez está totalmente ajustado às medições no terreno e ao registo arqueológico, com duas estações de permeio,
Ugultunia Contributa Iulia («Los Cercos», Medina de Las Torres) e
Perceiana (próximo de Villafranca de los Barrios).
LARES VIALES
Os Lares Viais
Para além dos marcos miliários, as inscrições designadas por
lares viales estão directamente relacionadas com a passagem da via e são assim decisivos para a identificação dos itinerários romanos. Estas inscrições apresentam-se habitualmente como aras votivas dedicadas às divindades protectoras das vias, estradas ou caminhos. Apesar de serem de carácter genérico, quando encontradas
in situ indiciam a passagem da via nesse local ou nas proximidades.
Aras aos Lares Viais encontrados em território nacional |
Onde apareceu |
Onde está |
Comentário |
Paço Episcopal, Braga |
Museu D. Diogo de Sousa, Braga n.º 1992.0570 |
LARIBVS / VIALIBVS / MATER/NVS / RUFI (filius) / L(ibens) A(nimo) P(osuit)
Tradução: Aos Lares Viários, Maternos, filho de Rufus, de livre vontade colocou.
Ara que apareceu nos jardins do Paço Episcopal de Braga, junto com outra actualmente perdida e que tinha a seguinte inscrição: LARIB(us) VIALI/bus FL(avius) SA/BINUS V(otum) / S(olvit) L(ibens) M(erito) (CIL II 2417)
Tradução: Aos Lares Viários, Flávio Sabino, cumpriu o seu voto de boa vontade. (Colmenero et alii, 2004) |
Largo de São Francisco, Braga |
Museu D. Diogo de Sousa, Braga n.º 1996.0812 |
LARIBVS VIALIBV[S] SACR[VM] [C(aius) IV]LIVS [S]ATV[R(ninus)] A(nimo) L(ibens) V(otum) S(olvit)
Tradução: Consagrado aos Lares Viários, Gaio Júlio Saturnino cumpriu o voto de livre vontade.
Descoberta durante as obras do parque subterrâneo no Largo de São Francisco, ao cimo da Av. Central, antiga porta da cidade romana por onde passava o Iter XVIII ou Via Nova que deveria seguir a rua de Chãos e rua de São Vicente. (Armandino Cunha et alii, 2005).
|
Monte das Esquilas, Monforte |
Casa-Museu da Fundação Paes Teles Ervedal, Avis |
LARIBVS / VIALIBVS / L(ibens) P(osuit) // LARIBVS / TOPILLIVS
Tradução: Aos Lares Viários, de livre vontade colocou.
Inscrição votiva aos Lares Viales e na outra face, aos Lares Topillii, recolhida por Mário Saa. Esta inscrição levou muitos autores a situarem a estação de Matusaro no Monte das Esquilas, dado que este local está a cerca de 24 milhas de Abelterium (Alter do Chão), a distância indicada para esta etapa no Itinerário XIV de Antonino que ligava Lisboa a Mérida (Encarnação, 1995; Mantas, 2010). No entanto, a via que passava por aqui parece ser antes uma ligação entre Alter do Chão e Elvas, no fundo interligando dois dos principais itinerários para Mérida, o Iter XIV mais a norte por Abelterium (Alter do Chão) e o Iter XII que seguia mais a sul por Évora, Estremoz e Elvas. A ser assim, faz todo o sentido ter uma estação viária sensivelmente a meio caminho e o Monte das Esquilas era certamente um local ideal para essa paragem, como parece indicar o texto gravado nesta ara. |
Conímbriga
|
Museu Monográfico de Conímbriga nº 67381 |
LARIBV[S] / [V]IALIB(us) /
Tradução: Aos Lares Viários...
Inscrição votiva aos Lares Viales achada na área urbana de Conímbriga muito perto da saída da via para Aeminium e Collippo, próximo do edifício onde se supõe ter existido uma estalagem e que bem poderia ser a própria mansio da cidade (Mantas, 2010). |
Igreja Paroquial de Castelo do Neiva |
Museu Pio XII em Braga |
VAL / RUF / LA·R·V / P
Leitura: Val(erius) / Ruf(us) / La·r(ibus) v(ialibus) / p(osuit)
Tradução: Valerius Rufus aos Lares Viários, colocou. (AE, 1985, 555)
Esta ara votiva apareceu em 1931 durante as obras de ampliação da igreja paroquial e foi estudada pelo do P. Luciano dos Santos que leu LA(ribus) ) RV(ralibus), ou seja, uma dedicatória aos deuses rurais (Santos, 1945). No entanto, Brochado de Almeida viria a rever esta leitura para Lares Viales (Almeida CAB, 1986, 78-79). Acaso esteja correcta esta interpretação da inscrição, a via que lhe estava associada seria certamente o velho caminho proveniente do Porto rumo a Viana, seguindo muito próximo do litoral que cruzava o rio Cávado na Barca do Lago e o rio Neiva na base do Castro de Moldes em Castelo do Neiva, sinal de que este trajecto já era usado em época bem anteriores, continuando como um eixo importante nas eras Romana e Medieval.
|
Aldeia de Agrochão (Vinhais) |
Museu Etnográfico e Rural de Agrochão |
D VIALIBU / M GAIVS A/TIUS · P · R · / V · L · R
Leitura: D(is) Vialibu(s) / M(arcus) Gaius A/tius · p(ro) · r(editu) / v(otum) · l(ibens) · r(etulit) (HEp 17, 2008, 220)
Tradução: Aos Deuses Viários, Marco Gaio Átio pelo regresso seguro de livre vontade redigiu este voto.
Inscrição votiva aos Lares Viales que apareceu na aldeia de Agrochão (Vinhais), clara referência à passagem de uma via neste local que integraria o Itinerário XVII Braga - Chaves - Astorga. Actualmente a ara encontra-se depositada no Museu Etnográfico e Rural de Agrochão, antiga casa do pároco da aldeia, suportando uma pia baptismal.
|
TERMINI AUGUSTALES
Os Términos Augustais
Os
termini augustales delimitavam os territórios dos diversos povos sob domínio romano no período Imperial, em resultado da reforma administrativa iniciada por Augusto no século I a.C. Apenas se conhecem sete destas peculiares inscrições em território nacional, três delas são do tempo de Augusto, uma está na igreja paroquial de Úl em Oliveira de Azeméis, encastrada na parede exterior nas traseiras da igreja, outra permanece numa das paredes da Capela da Portela do Guardão (Serra do Caramulo), e duas delimitam o território Igaeditano (Idanha-a-Velha), uma proveniente da aldeia de Salvador (Penamacor) e outra de Peroviseu (Fundão). As restantes são do tempo do Imperador Cláudio e apareceram nas proximidades do rio Douro, um encontra-se encastrada na parede exterior da Capela Visigótica de São Pedro de Balsemão (Lamego), outro foi reutilizado numa casa de Arícera (Armamar) e o terceiro apareceu enterrado
in situ no sítio das Lameiras (Armamar), a cerca de uma milha a norte do importante «Castro de Goujoim». Apesar de a sua existência não estar directamente relacionada com a rede viária, elas são determinantes para a identificação dos povoados centrais desses territórios e consequentemente também das vias que os serviam.
Términos Augustais |
Localização
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Inscrição
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Leitura e Comentário
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Capela de São Bartolomeu Guardão
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IMP CAESAR DIV / XIII TRIB POTEST / AVGVST INTER / IESES Q ARTICLEI / CAVSA COGNIT
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Imp(erator) Caesar Div[i f(ilius) Augustus co(n)s(ule)] / XIII trib(unicia) potest[ate --- terminos] / August(ales) inter [---]/ie(n)ses Q(uinto) Artic(u)le[io Regulo leg(ato) ---] / causa cognit[a ---]
A inscrição tem difícil leitura e não é claro quais os povos que delimitava, mas segundo João Inês Vaz, as letras INTER...IESES poderão ser lidas como Interannienses, povo mencionado por Plínio (NH, IV, 118), delimitando muito provavelmente o territorium de Vissaium (Viseu) com duas das civitates adjacentes, Talabriga a poente, e Bobadela a sul. Assim a inscrição seria: «Pelo Imperador César Augusto, filho do divino, detentor do poder tribunício pela décima terceira. Término Augustal Interannienses Quinto Articuleio, por causa conhecida».
|
Igreja de Úl Oliveira de Azeméis
|
[ ]ARE AVGVSTO TRIBVNI / [ ] XXVII COS XIII PATER / [ ]RMINVS AVGVSTALIS /
|
[Imp(eratore)] / [Caes]are Augusto tribuni(cia) / [pot(estate)] XXVII co(n)s(ule) XIII pater(!) / [te]rminus Augustalis
Actualmente encontra-se encastrado na parede traseira da Igreja Paroquial de Úl. Apesar de não referir os povos delimitados, é provável que marcasse a fronteira entre as civitates de Talabriga e Langobriga (Corrêa, 1971), possível sede dos Turduli Veteres, povo que ocuparia grosso-modo os actuais concelhos de Vila Nova de Gaia e Santa Maria da Feira.
|
Capela de São Pedro de Balsemão Lamego
|
CLAVDIO CAESARE A[..] / GERM. PONT. MAX. TRIB[VN.] / POTEST. II IMp. II CO[S.] / III TERM. AVG.
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Cláudio Caesare A(ugusto) / Germ(anico) pont(ifici) max(imus) trib[un](icia) potest(ate) II Imp(erator) II co(n)[s](ul) III Term(inus) Aug(ustalis)
Actualmente encontra-se encastrado na parede da frontaria da Capela de São Pedro de Balsemão, próximo de Lamego. apesar de não referir os povos que delimitava é possível que se trate da divisão entre os povos Coilarni e Paesuri (CIL II 6199; Vaz, 1982b).
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Castro de Goujoim Armamar
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INTE[ ] / COILA[ ] / [ ] / [ ]RI AVG GE[ ] / [ ]ONT MAX TR[ ] / [ ]V POTESTATE V / I P P COS III TER / MI AVG / ITER / RABA[ ]
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[Ti(berio) Claudio Cae/sa]ri Aug(usto) Ge[r(manico) / p]ont(ifici) max(imo) ttr[i/b]u(nicia) potestate II imp(eratore)/ II p(atri) p(atriae) co(n)s(uli) III ter/mi(nus) Aug(ustalis) // Inte[r] / Coila[r(nos?)] // [I]nter / Arabr(igenses)
Variante (Vaz, 1979) : Inte[r] / Coila[r(nos?)] // [--- Cláudio Cae]/[sa]ri Aug(usto) Ge[r(manico)] / [p]ont(ifici) max(imo) tr[i]/[b]u(nicia) potestate V/I p(atri) p(atriae) co(n)s(uli) III ter/mi(nus) Aug(ustalis) // I(n)ter / Raba[---]
Inscrição do tempo de Cláudio que marcaria a divisão territorial entre os Coilarni, talvez com capital em Lamego, e eventualmente os Arabrigenses que ocupariam a região de Moimenta da Beira ou de Paredes da Beira. A inscrição encontra-se in situ no lugar das Lameiras/Quinta das Lameiras, a cerca de uma milha a noroeste de Goujoim e a uma milha a norte do Castro de Goujoim. (Vaz, 1979).
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Arícera Armamar
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[…] [O] · CAE[S(are)] […] / […] · GER · […] / · MAX
[…] / […] ES · T [?] […] [?] / […] COS · / […]VG
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[TI(berio) · CLAVDI]O · CAE[SARE] / [AVG(usto)] ·
GER(manico) / [PONT(ifice)] · MAX(imo) / [TRIB(unicia)
POT]EST(ate) […] / 5 […] CO(n)S(ule) · […] / [TERM(inus)
· [A]VG(ustalis) // INTER […]
A inscrição foi reutilizada numa casa da aldeia de Arícera (Armamar) e encontra-se muito danificado dificultando a sua leitura. Terá sido colocada durante o consulado do Imperador Cláudio mas já não é possível ler os nomes dos povos que delimitava (FE 808). No entanto, a similitude com os outros términos na mesma área permite equacionar a hipótese muito provável marcar a fronteira entre Coilarni e Arabrigenses.
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Contim Armamar
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TI · CLAVDIO ·
CAESARE · AV[G]
GERM · PONT ·
MAX ·TRIB POT
II · IM[P · II · ] PP COS
III · TERM · AVG
Face lat. esq.: R COLAR
Face lat. dir.: INTER · AR
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TI(berio) · CLAVDIO / CAESARE · AV[G](usto) /
GERM(anico) · PONT(ifice) / MAX(imo) · TRIB(unicia)
· POT(estate) / II (secunda) · / IM[P(eratore) · II (bis)]
P(atre) P(atriae) · CO(n)S(ule) · / III (tertium) · TERM(inus)
· AVG(ustalis) // [INTE]R COLAR(nos) // [I]NTER ·
AR(abrigenses)
A inscrição foi identificada em 2023 no lugar de Gadanha, ligeiramente a sul da povoação de Contim (São Cosmado, Armamar). Foi colocada durante o consulado do Imperador Cláudio no ano 43 d.C., delimitando os COILARNI, a poente, e os ARABRIGENSES, a nascente. Esta inscrição veio confirmar esta disposição geográfica que era já intuída com base nos outros términos encontrados na região, permitindo estabelecer o rio Tedo e a ribeira de Leomil como linha divisória entre os respectivos territórios (FE 832).
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Vide Moimenta da Beira
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[]RABRIC[]
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[A]RABRIC[ENSES]
Inscrição que apareceu numa casa da povoação de Vide, em Moimenta da Beira (FE 890). Fazendo um pararelo com os términos identificados no concelho de Armamar, também este teria sido colocado no tempo do Imperador Cláudio, fixando os limites terrioriais das várias civitates da margem sul do rio Douro, neste caso, assinalando o limite oriental do território Arabrigensis, e que deverá corresponder ao curso do Távora. Na outra margem entraria em território da Civitas Aravorum, com sede em Marialva, pelo que é presumível que fosse esse o povo indicado na outra face do marco (act. 2024).
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Peroviseu Fundão
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IMP CAESAR AVG PONTIFEX / MAX TRIB POTEST XXIIIX COS XIII / PATER PATRIAE TERMINVS AVGVSTALIS / INTER LANCIENSES ET IGAEDITANOS.
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Imp(erator) Caesar Aug(ustus) pontifex / max(imus) trib(unicia) potest(ate) XXIIX co(n)s(ul) XIII / pater patriae terminus Augustalis / inter Lancienses et Igaeditanos
A inscrição foi descoberta em 1971 por José Alves Monteiro servindo de peitoril de janela de uma casa da aldeia de Peroviseu e hoje está em exposição no Museu Arqueológico José Monteiro no Fundão. Assinalava a divisão territorial entre os Lancienses e os Igaeditani, com sede em Idanha-a-Velha; à margem do campo epigráfico original foi acrescentada a frase «ESTE LETREIRO ESTAVA FEITO NO ANO», o que levou Inês Vaz a sugerir a hipótese de se tratar de uma cópia efectuada no século XVIII do monumento original (Vaz, 1997); no entanto, Amílcar Guerra sustenta uma cronologia antiga para o monumento apesar de os caracteres originais terem sido avivados e mesmo alterados em alguns casos pelo lapicida do século XVIII (Guerra, 2007a:178-181). O texto é quase idêntico ao término que foi encontrado na aldeia de Salvador descrito abaixo. Em Idanha-a-Velha apareceram várias inscrições funerárias de emigrantes Lancienses (HAE, 1083) e Lancienses Oppidani (HAE, 1081; HAE, 1088; AE, 1990, 508).
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Salvador Penamacor
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IMP CAES AVG PONT / MAX TRIB POT XXVIII / COS XIII PAT PATR / TERM AVG INTER /
LANC OPP ET / IGAEDIT.
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Imp(erator) Caes(ar) Aug(ustus) pont(ifex) / max(imus) trib(unicia) pot(estate) XXVIII / co(n)s(ul) XIII pat(er) patr(iae) / term(inus) Aug(ustalis) inter / Lanc(ienses) Opp(idanos) et / Igaedit(anos)
A inscrição apareceu na aldeia de Salvador e foi registada no CIL II com o nº 460, mas está desaparecida. O texto é quase idêntico ao do término encontrado em Peroviseu (ver acima), especificando que se trataria dos Lancienses Oppidani ao adicionar a abreviatura «OPP». A omissão da abreviatura «OPP» no término de Peroviseu, levou alguns autores a sugerirem que este marco indicaria a fronteira com outra tribo Lanciense por oposição aos Oppidani do término de Salvador; de facto, não há dúvidas quanto à existência de duas tribos Lancienses, conforme se pode ler na famosa inscrição da Ponte de Alcântara, ao incluir os Lancienses Oppidani e os Transcudani na lista de povos que contribuíram para a sua construção. Poderia mesmo existir um terceiro grupo designado por Ocelenses conforme indica Plínio (NH, IV, 118), embora seja mais plausível considerar que Ocelenses e Oppidani seriam diferentes designações do mesmo populus (Guerra, 2007a). As actuais propostas colocam o território dos Lancienses Oppidani nos concelhos de Covilhã, Penamacor e Sabugueiro. Por sua vez os Lancienses Transcudani ocupariam a região do planalto da Guarda com capital no sítio de Póvoa do Mileu, mas a questão continua em aberto (Osório, 2006:82-84; Carvalho, 2007; Guerra, 2007a:178-181).
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Sé Viseu
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]
IMP · CAESA[...]
MAX · TRIB · PO[...]
CO[S] · XIII · PA[...]
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IMP(erator) · CAESA[R AVG(ustus) · PONT(ifex)] / MAX(imus) · TRIB(unicia) · PO[TEST(ate)] [XXIIIX?] (septima vigesima) / CO(n)[S](ul) · XIII (terdecies) · PA[TER · PATRIAE] / [TERMINVS · AVGVSTALIS] / [INTER ... ET ...]
A inscrição apareceu em 2022 reaproveitada no cunhal de uma das torres que integra o complexo, conhecida na toponímia local como torre do "Aljube" e deverá tratar-se de um terminus augustalis, não sendo já possível ler os povos que delimitava (FE 834).
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Oriola Portel
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D · D · N · N ·
AETERN · IMPP / C · AVRE · VALER /
IO · IOVIO DIOCLE / TIANO ET / M · AVR · VALERI / O ERCVLEO
MAXIMIANO / PIIS FEL SEMPER AVGG
TERMIN... INTER / PACENS · ET EBORENS
CVRANTE P · DATIANO / V · P · PRAESIDE HH / N · M · Q · EORVM / DEVOTISSIMO
HEINC PACENSES
HEINC EBORENSES
Dd(ominis) nn(ostris) aetern(is) · Imp(eratoris) C(aio) Aure(lio) Valer(io) Iovi Diocletiano et M(arco) Aur(elio) Valerio [H]erculeo Maximiano Piis(simos) Fel(icissimos) semper Aug(ustis). Termin(us) inter Pacens(es) et Eborens(es) curante P(ublio)? Datiano v(ir) p(erfectissimus) praeside HH(ispanis) N(umini) M(aiestati)Q(ue) eor(um). Heinc Pacenses. Heinc Eborenses.
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A epígrafe foi inicialmente transcrita no séc. XVI por André de Resende que a terá visto «in colle sinistrorsum, iuxta semidirutum oppidum Aureolam», ou seja, «numa colina à esquerda, junto do arruinado ópido de Aureola» (Resende, 1593:158) que deverá corresponder ao vicus (?) identificado nas proximidades da Igreja de Ns. da Assunção de Bonalbergue/Benalverge, a uma milha de Oriola (Feio, 2010); Hübner viria a incluí-la no CIL II com o n.º 17 apesar de a considerar forjada, opinião que acabou por votá-la a um relativo esquecimento. Porém, alguns autores têm defendido a sua autenticidade (IRCP 278; Canto, 1997), seguindo aliás uma tendência geral para a reabilitação destas inscrições classificadas como falsas pelo epigrafista alemão (Mantas, 2019b), mas que terão mesmo existido, apesar dos equívocos de Resende na sua cópia e interpretação.
Trata-se de um marco fronteiriço, delimitando os territórios Eborense e Pacense colocada pelo governador provincial e dedicada aos imperadores Diocleciano e Maximiano pelo que andará em torno do ano 300 d.C. A linha divisória entre as duas civitates tocava em dois vici, Foxem e Auriola (?), respectivamente N. Sra. de Aires e Oriola.
Leitura: Aos nossos senhores eternos imperadores Gaio Aurélio Valério Jóvio Diocleciano e Marco Aurélio Valério Hercúleo Maximiano, piíssimos e felicíssimos sempre Augustos. Término entre Pacenses e Eborenses por ordem de Públio (?) Daciano, magistrado perfeitíssimo, governador das Hispânias e devotíssimo dos seus númenes e majestades. Aqui os Pacenses /(na outra face) Aqui os Eborenses.
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ALII TERMINI
Outros Marcos Territoriais
Outros Marcos Territoriais |
Local
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Inscrição
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Comentário
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Outeiro de Jusão, Samaiões, Chaves
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COROQ // PRAEN
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Marcos divisórios entre a comunidade dos Coroq e dos Praen. Ao longo do ribeiro de Outeiro Jusão apareceram 4 destes marcos com a palavra «Praen» numa face e «Coroq» na outra pelo que deveriam assinalar a divisão territorial entre essas comunidades que habitariam Castro de Lagarelhos ou «Castelo de São Tiago»; o primeiro marco (na foto superior) servia de poldra no ribeiro e foi identificado por Argote no século XVIII, actualmente no Museu da Região Flaviense com o código ARC614 (Argote, 1732:297); o segundo exemplar (na foto inferior) foi descoberto em 1912 por José Leite de Vasconcellos embutido num muro em Campo da Roda, embora proveniente do campo da Trancada, e está hoje no Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa; os restantes dois marcos estão também no Museu da Região Flaviense em Chaves.
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Lugar do Regueiral, Sanfins, Valpaços
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TERMIN TREB OBILI
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Inscrição rupestre de divisão territorial; Rodríguez Colmenero leu Termin(us) Treb(ilium) / T(erminus) / Obili(um) e interpretou-a como a divisão entre os povos Trebili e Obili (Colmenero, 1997, nº 618); outra leitura possível seria Terminus Trebae Obiliorum, ou seja, o «término do território dos Obili» (ver aqui uma discussão da inscrição).
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Cavalo dos Mouros, Noval, Soutelo, Chaves
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TERM / C · L
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Inscrição rupestre perto da aldeia de Noval num sítio conhecido por Cavalo dos Mouros e interpretada por Rodríguez Colmenero como um terminus entre dois povos com a seguinte leitura: Term(inus) (inter) C(---) (et) L(---) (Colmenero, 1987, 637, n.º 469); Alarcão sugere que se trata de um marco de divisão territorial entre dois castella, talvez entre o Castro de Muro/Cunhas (freguesia de Seara Velha) a NO e o Castro de Muro/Crasto (freguesia de Redondelo) a SO (Alarcão, 2004b:206-207).
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Lugar da Pipa, Soutelo, Chaves
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Viali ROICA
[H/IY]CIRI[O]YE
pr(a)et.[o]rio
[ ] PAGANICA
HOR DIE[ ]
PRECARIO
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Inscrição rupestre num sítio conhecido por Lugar da Pipa, junto da via proveniente de Chaves por Seara Velha e Soutelo. Rodríguez Colmenero sugere numa primeira interpretação do texto como terminus com a leitura [Via] / paganica / hor(is) die[i] / precario / [itur], (Colmenero, 1997, n.º 313) e numa segunda versão como uma inscrição viária dedicada a um curator viarum pelo pretório Roicae Cirioye (Colmenero, 1997:340-341, n.º 451). Por sua vez Jorge de Alarcão sugere tratar-se de uma dedicatória «aos Lares Viais pelos vicani Circoiebre(nses) ou Circoieb(enses) que poderia habitar o vicus do Outeiro da Torre em Calvão (Alarcão, 2004b). Ambas as leituras são muito duvidosas e não é possível ainda tirar conclusões, mas sem dúvida que se trata de uma inscrição de carácter viário, junto da via que seguia para Aquae Flaviae.
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Citânia de Sanfins, Paços de Ferreira
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Nimidi / Fiduenearum / hic (finis)
Cosu Ne(medeco) ae(dem) / F(- - -) s(acravit)
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Inscrição rupestre conhecida por «Penedo das Ninfas» é uma situada num local conhecido por Bouça de Fervenças/Chãs do Reitor, extra-muros à Citânia de Sanfins, provavelmente relacionado com um local de culto deste povoado dado apresentar a inscrição COSVNE AE / [...] S na face nascente, certamente a divindade indígena Cosus Neneoecus que também aparece nas aras de Burgães e de Ervosa, e na face poente a inscrição NIMIDI FIDVENEARVM HIC, hipoteticamente «aqui Nimidi, citânia do povo Fidueneae» (Silva A.C.F., 1980; Búa, 1999); o espólio deste povoado, incluindo as duas aras anepígrafas, está hoje no Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins que reúne outros achados da região como a ara a Júpiter achada na vizinha casa paroquial e a ara dedicada a Turiaco achada na Igreja de Lamoso.
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Pindelo, Cinfães
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Clemens [- - -] / concilium [- - -] / C R D S [- - -] / foros · Paesur · SEA / contumaces [- - -] / hic · Sear · I
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Inscrição rupestre num rochedo do sítio conhecido por Volta, lugar de Pindelo (Nespereira, Cinfães); a interpretação do texto suscita ainda muitas dúvidas, mas as possíveis referências aos povos PAESURI e SEARAS neste local levanta a hipótese de que aqui seria a divisão territorial entre estes dois povos, ficando os Paesuri a norte, com possível sede em Cárquere ou no Castro de Sampaio e os Searas a sul, confrontando com o territorium dos Interannienses com possível sede em Viseu; notar que o povo Searas aparece em duas outras inscrições rupestres, a inscrição do Cabeço Letreiro em Tondela e a inscrição de Carvalhal de Vermilhas em Vouzela (descrição abaixo) e os Paesuri são mencionados na famosa inscrição da Ponte de Alcântara; ver estudo epigráfico de José d'Encarnação e Luís Pinho em Ficheiro Epigráfico 299.
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Britelo, Penela da Beira
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Visancoru(m) / Camali / Concili(um?) |
Inscrição rupestre no sítio do Marcadouro/Mercadoura junto da aldeia de Britelo (Penela da Beira, Penedono) que marcaria uma decisão de um «concilium» (assembleia) eventualmente sobre a divisão de propriedades. Notar que a palavra «concilium» aparece também na inscrição de Pindelo em Cinfães. Junto da inscrição passava a via que ligava Paredes da Beira a Marialva, relacionada com a exploração mineira em St. António (Granja) e de Ourozinho (Antas, Penedono).
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Conde, Freixo de Numão
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ARREA · SE[- - -] / TRAIECTV · M[- - -]
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Inscrição rupestre num penedo no sítio do Conde junto da travessia da ribeira da Teja na Ponte da Zaralhôa; vide «Epigrafia rupestre de Numão». (Coixão e Encarnação, 2001).
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Areal, Freixo de Numão
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ASANIANC VIA FECERVNT
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Inscrição rupestre num penedo no sítio de Areal localizado junto do antigo caminho de acesso ao castelo e da confluência das ribeiras de Tourões e Duas Casas com a seguinte leitura: As(s)aniancences Via(m) Fecerunt, isto é, «Os Assaniancenses construíram a estrada» (FE 48); a localização do povoado é incerta. Ver estudo epigráfico em «Epigrafia rupestre de Numão». (Coixão e Encarnação, 2001).
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Cabeço Letreiro, Serra de Silvares, Tondela
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1. IRVCOVTIORI / AQVAE DIVERTIO [- - -] // [- - -]HA[- - -] // [- - -]A[- - -] / ARVONI
2. H F / SEAR / AQ D // EA
3. TRI
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Inscrição rupestre distribuída por vários rochedos que segundo J. Inês Vaz seria um triffinium, assinalando os limites territoriais de três povos: os
IRUCOUTIORI (ou a ocidente, os ARVONI a sul e os SEAREAS a nordeste; a expressão Aquae Divertio sugere um acordo entre estes povos sobre a divisão de águas no local das nascentes (Vaz, 1995). Alternativa de leitura como Iacugontii (Redentor, 2021:210)
1. Irucoutiori / aquae divertio [- - -] // [- - -]HA[- - -] // [- - -]A[- - -] / Arvoni;
2. H(ic) f(inis) / Sear(eas) / aq(uae) d(ivertio) // EA;
3. Tri(finium);
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Carvalhal de Vermilhas, Vouzela
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1. PAISICAICO POS / HAC INS
2. HIC.LOC/ VS.DERE/ VAECAS/ VOCATVR
3. SEAREAS HIC
4. C/ MO/ SE
5. SEAREAS / RG
6. DE/ SEAR
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Inscrições gravadas em vários rochedos graníticos ao longo de uma possível via que segue o caminho carreteiro interligando as aldeias de Fornelo do Monte a Carvalhal de Vermilhas, relacionada com a actividade mineira. (Girão, 1921; Vaz 1995:290-292); entretanto foi identificadas mais duas inscrições em Fornelo do Monte; a nº 5 apareceu num penedo de Matousenda ou Manhosandas (Vaz, 2001:482) e a nº 6 encontra-se num penedo junto do Cabeço do Esporão (Redentor, 2021:209-213)
1. Inscrição no sítio da Torre em Corgas Roçadas.
Leitura de Inês Vaz: Paisicaico pos(uit) / hac fi]nis
Leitura HIEP: Cl(audius) [- - -] / cupavit / Paisicaico f(inis) / h[ac fi]nis / - - -
Leitura de Colmenero: (filius) [agrum? oc]/cupavit · / Paisicaico pos(uit) / hac ins(trumentum, -criptionem)
Leitura de José d’Encarnação: PAISICAICOI / HAC FINIS
Leitura de Armando Redentor: ASEO . CELTI . CELTEIO(rum) / CVRAVIT . / PAISICAICOI . / HA(n)C INS(criptionem) (Redentor, 2021:203)
2. Inscrição no Cabeço da Estrada, provável marco de delimitação de uma concessão mineira designada por DEREVAECAS. (Vaz, 1995)
3. Inscrição a 150 m para NO do sítio da Estrada, provável terminus do povo SEAREAS
4. Inscrição da Regadinha entre Alcofra e Carvalhal de Vermilhas, também designado por Merugeira ou Abelheira. Terminus?
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Alhais, Vila Nova de Paiva
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I'INIS
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Leitura: FINIS. Inscrição rupestre gravada num penedo isolado no cimo de um cabeço, conhecido por Cavalinho, a norte da povoação de Alhais de Cima, concelho de Vila Nova de Paiva (Vieira, 2004:35). O termo «FINIS» sugere que se trata de um marco de divisão territorial, mas desconhecemos a quais civitates se referia. |
Igreja de Argomil, Pomares, Pinhel
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IMP / CEASAR / DIVI F / AVGVSTV / COS XI / IMP VIII
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Estela recolhida no interior da Igreja de Argomil, datada entre 23 2 20 a.C. foi interpretado como marco territorial militar por Jorge de Alarcão, lendo «Ao imperador César Augusto, filho do Divino, Cônsul pela décima primeira vez e Imperador pela oitava vez». Não se conhecem outros vestígios romanos junto da igreja pelo que a estela poderá ter sido transferida de outro sítio romano ainda desconhecido; no entanto, a presença militar na região do Côa é inquestionável, com vários indícios de acampamentos militares romanos (Castelo dos Mouros, Castelo Mendo e Castelo dos Prados), assim como algumas epígrafes de cariz militar (Argomil, Manigoto e Alfaiates) e a presença de veteranos em Numão e Longroiva. (Alarcão, 2006; Perestrelo, 2006).
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Alfaiates, Sabugal
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CX[...] / IM[P] / CAESA[R] / DIVI F / AVGVSTVS / C[O]S XII[I] / IMP / X[VI vel VII]
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Inscrição dedicada a Augusto com um texto similar ao da Estela de Argomil descrita acima, sendo também interpretada por Jorge de Alarcão como um marco militar territorial, lendo «Ao imperador César Augusto, filho do Divino, Cônsul pela décima terceira vez e Imperador pela décima sexta vez»; os vestígios romanos em torno de Alfaiates permitem equacionar a hipótese de ter existido aqui um acampamento militar romano; actualmente pertence ao acervo do MNA (Alarcão, 2006:134; Osório, 2006:147; 2014). No entanto, outros autores como Vasco Mantas interpretam esta inscrição como um miliário da fase inicial da romanização, entre 23 e 20 a.C. (Curado, 2013; Mantas, 2014b, 2019), tal como o miliário encontrado no Castro de Irueña do mesmo período assinalando CXX milhas a Mérida (Salinas & Palao, 2012:273-274). Este miliário parece assinalar o cruzamento de dois importantes itinerários romanos, a via W-E que vinha por Sabugal rumo ao Castro de Irueña e a via S-N com origem em Mérida que vinha por Coria e Perales del Puerto, passando depois junto do castro de Sabugal Velho e Alfaiates rumo talvez à Civitas Cobelcorum em Almofala.
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Igreja de Lamas de Orelhão, Mirandela
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HEINC LETERAM |
Leitura: «Aqui Letera». Inscrição descoberta na capela-mor da igreja de Lamas de Orelhão assinalando muito possivelmente o povoado fortificado situado no outeiro do actual cemitério; a ser assim este local poderia designar-se em época romana por «castellum Leteram». Poderá estar relacionado com o pagus de Laetera mencionado no Paroquial Suévico na parte oriental da diocese de Braga.
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Andori-nheiras, Vilar de Perdizes
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RIPAU Ɔ / PUAC T / R PUAC
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Leitura da parte lateral: «Ripau Ɔ / Puac(um)»
Leitura da parte superior: «T(erminus) / R(ipaum) (et) Puac(um)». Inscrição rupestre num rochedo granítico no lugar das Andorinheiras em Vilar de Perdizes (Montalegre) assinalando provavelmente a divisão territorial entre as etnias dos Ripaus e os Puacos (Colmenero, 1987, nº 470).
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MUNICIPIA PROVINCIAE LVSITANIAE
A Inscrição da Ponte de Alcântara
MUNICIPIA
PROVINCIAE
LVSITANIAE. STIPE
CONLATA. QVAE. OPVS
PONTIS PERFECERVNT
IGAEDITANI
LANCIENSES OPPIDANI
TALORES
INTERAMNIENSES
COLARNI
LANCIENSES TRANSCVDANI
ARANI
MEIDVBRIGENSES
ARABRIGENSES
BANIENSES
PASEURES
(
CIL II 760)
Trata-se de uma inscrição que estava na Ponte Romana de Alcântara indicando os diversos povos que contribuíram para a sua construção (
CIL II 760). A placa original ainda subsiste integrada no arco central, mas actualmente está ilegível pelo desgaste (Mantas, 2019:167-168). A placa actual que foi colocada no arco central da ponte é uma cópia efectuada no século XIX, aquando da restauração da ponte promovida pela Rainha Isabel II de Borbón em 1859, a partir de transcrições do texto original efectuadas nos séculos XV e XVI. Nessa época a epígrafe já estaria muito desgastada, justificando assim os erros de transcrição observados, trocando os
Aravi por
Arani e
Tapores por
Talores. Também é possível que se deva ler
Coilarni em vez de
Colarni dado que este povo foi identificado junto o rio Douro, troca que poderá ter origem na referência a
Colarnum em Ptolomeu (Geo. II, 5) e aos
Colarni por Plínio (NH, IV, 118). Com a excepção dos
Igaeditani e dos
Aravi, indubitavelmente localizados respectivamente em Idanha-a-Velha e Marialva, a localização dos restantes povos mencionados na inscrição continua insegura.
COLUMNAE DIVI TAIANI
As Colunas da Ponte de Trajano em Chaves
Sobre a Ponte Romana de Trajano em Chaves existem duas colunas com inscrições romanas por vezes confundidas com miliários; trata-se na verdade de inscrições honoríficas relacionadas com a construção da ponte feitas no século XIX a partir dos originais romanos; enquanto na chamada «Coluna de Trajano», podemos ver que a construção da ponte terminou no ano 79 d.C., na outra, designada por «Padrão dos Povos», podemos ler o nome das 10
civitates que constituíam o
municipium de
Aquae Flaviae e que contribuíram para a sua construção. (Fonte, 2006).
«Coluna de Trajano», inscrição honorífica dedicada a Trajano colocada pelos Aquiflavienses para assinalar a construção da ponte romana sobre o rio Tâmega em 79 d.C.
IMP(eratori) CAES(ari) NERVA
TRAIANO AVG(usto) GERM(anico)
DACICO PONT(ifici) MAX(imo)
TRIB(unicia) POT(estate) CO(n)S(ule)
V P(atri) P(ATRIAE)
AQVIFLAVIENSES
PONTE LAPIDEVM
DE SUO F(aciendum) C(uraverunt)
(CIL II 2478).
«Padrão dos Povos», inscrição honorífica dedicada a Vespasiano colocada pelas dez
civitates que compunham o
municipium Aquiflaviensis; o nome de «Padrão dos Povos» advém do facto da inscrição enumerar os diversos
populi por ordem alfabética, sendo por isso um documento de enorme relevância para o estudo dos povos que habitavam esta região. O original que andou algum tempo perdido, foi felizmente reencontrado em 1980 no leito do rio e actualmente está em exposição no átrio do
Museu da Região Flaviense. Alguns autores relacionam este monumento de 79 d.C. com a atribuição por
Vespasiano do
ius Latii a toda a Hispânia a partir de 73-74 d.C., o que permitiu passar de uma administração do território baseado em
oppida indígenas, os povoados castrejos ou
castella, para uma organização baseada em
civitates sob a tutela de uma capital regional como é o caso de Chaves que adquire a categoria de
municipium Latinum, passando a dispor de grande autonomia política para gerir o seu
territorium (Fonte, 2006).
IMP(eratori) CAES(ari) VESP(asiano) AVG(usto)
PONT(ifici)
MAX(imo) TRIB(unicia) POT(estate)
X IMP(eratori) XX P(atri) P(atriae) CO(n)S(uli) IX
IMP(eratori) VESP(asiano) CAES(ari) AVG(usti)
F(ilio) PONT(ifici) TRIB(unicia)
POT(estate) VIII IMP(eratori) XIIII CO(n)S(uli) VI[I]
(...)/ C(aio) CALPETANO RANTIO QUIRINALI
VAL(erio) FESTO LEG(ato) AVG(usti) PR(o) PR(aetore)
D(ecimo) CORNELIO MAECIANO LEG(ato) AVG (usti)
L(ucio) ARRVNTIO MAX(imo) PROC(uratori) AVG(usti)
LEG(io) VII GEM(ina) FEL(ix)
CIVITATES X
AQVIFLAVIENSES AVOBRIGENS (es)
BIBALI COELERNI EQVAESI
INTERAMICI LIMICI NAEBISOCI
QUERQVERNI TAMAGANI (CIL II 2477)
"As dez cividades dos Aquiflavienses, Aobrigenses, Bibali, Coelerni, Equaesi, Interamici, Limici, Aebisoci, Quarquerni e Tamagani (mandaram fazer este monumento) ao Imperador Caesar Vespasianus Augustus, Pontífice Máximo, com o poder tribunício pela décima vez, aclamado imperador pela vigésima vez, Pai da Pátria e Cônsul pela nona vez, ao Imperador (Titus) Vespasianus Caesar, filho de Augustus, Pontífice, com o pela oitava vez, aclamado imperador pela décima vez e Cônsul
pela sétima vez (e ao Caesar Domitianus, filho de Augustus, Cônsul pela sexta vez...?), a Gaius Calpetanus Rantius Quirinalis Valerius Festus legado propretor de Augustus, Decimus Cornelius Maecianus legado de Augustus e Lucius Arruntius Maximus procurador de Augustus, e à
Legio VII Gemina Felix" (Tradução de Armando Ferreira da Silva in
«Novos dados sobre a organização social castreja»)
OPPIDA ET VICI
Povoações Romanas
Lista alfabética de povoações romanas em território nacional com uma tentativa de localização e de definição dos seus limites territoriais. A localização é baseada tanto em testemunhos epigráficos, como por exemplo na famosa
inscrição da Ponte de Alcântara, no chamado
«Padrão dos Povos» da Ponte de Trajano em Chaves e muitas outras inscrições que contêm referências explícitas aos nomes das
civitates como por exemplo os significativos casos das aras que revelaram a existência da
Civitas Cobelcorum e da
Civitas Aravorum com sede em Almofala e Marialva respectivamente, mas também do cruzamento da evidência arqueológica com referências conhecidas nas fontes clássicas, em particular na
História Natural de Plínio-o-Velho, na
Geografia de Ptolomeu,
no
Anónimo de Ravena, ou Ravennatis e claro no
Itinerário de Antonino. No entanto, a sua cartografia continua a suscitar muitas interrogações e existe grandes discrepâncias nas propostas apresentadas. (Tranoy, 1981; Silva, 1986; Alarcão, 1988, 1988a, 1992, 1995, 1998a, 1999; Lemos, 1995; Guerra, 1995; Vaz, 1997; Colmenero
et al., 2004, Fonte, 2006; Carvalho, 2008).
- ABELTERIO, vicus e mansio do Itinerário XIV que corresponde a Alter do Chão comprovado pelo grafito gravado num imbrex descoberto em 2009, onde se lê «VIIRNA / CVLVS / FECIT / IMBRICIIS / AB[II]LTIRIO / AD CASTOREM» (Encarnação, 2010). Abelterion no Ravennatis (Rav. IV.44).
- AD AQUAS, mansio do Itinerário XVII localizada em Chaves posteriormente elevada a municipium na época Flaviana, passando a chamar-se Aquae Flaviae.
- AD ATRUM FLUMEM, mansio literalmente «junto do rio Atrus» mencionada no Itinerário XII; as 9 milhas indicadas seriam contadas a partir de Mérida perfazendo um total de 38 milhas, situando a mansio junto da actual fronteira luso-espanhola pelo que o rio Atrus deverá corresponder ao Rio Xévora/Gévora. Alguns autores colocam esta estação junto da sua travessia em Badajoz ou junto da actual povoação de Gévora, 6 km mais a norte, dado a aqui apareceu um miliário de Carino (Gorges e Martín, 1999, 2000; Almeida et alii, 2011). No entanto, esta proposta não é consensual; por um lado Vasco Mantas sugere que esta estação corresponderia à villa da Herdade da Morgada, ou seja, integrando esta estação na hipotética variante sul da via que vai de Évora a Elvas por Vila Viçosa (Mantas, 2014a:154-155). Por sua vez José Cardim Ribeiro coloca a hipótese do rio Atrum corresponder ao rio Lucefécit junto a Terena, baseando-se ambos na distância nas 9 milhas indicadas e em deduções linguísticas (Ribeiro, 2005:744-746). Perante a diversidade de propostas existentes, a associação do rio Atrum ao rio Xévora carece ainda de provas irrefutáveis, mas é a que melhor se ajusta aos itinerários.
- AD SEPTEM ARAS, mansio comum aos Itinerário XIV e Itinerário XV entre Lisboa e Mérida, situada talvez no Monte das Argamassas entre a povoação de Nossa da Graça dos Degolados e Campo Maior. Apesar de estar classificada como villa, o sítio romano das Argamassas poderá corresponder a esta mansio.
- AD SORORES, mansio da via entre Emerita e Salmantica localizada em Dehesa de
Santiago de Bencáliz (Casas de Don António, Badajoz) (Hervás, 1975:268).
- AEMINIUM, oppidum sede de civitas e mansio do Itinerário XVI, localizada em Coimbra com base numa Inscrição honorífica dedicada pelos habitantes da Civitas Aeminiensis ao imperador Constâncio Cloro que apareceu em 1888 na Couraça dos Apóstolos (CIL II 5239); Plínio menciona o «oppidum et flumen Aeminium» (NH, IV, 118).
- ALIOBRIGA, possível designação em época romana do Castro de Cidadelhe (Mesão Frio), atendendo a que este local corresponde à paróquia sueva (séc. VI) e ceca visigótica (séc. VII) de Aliobrio; também um documento medieval do ano 922 menciona o «portu de aliovirio» (PMH DC 25) que deverá corresponder ao lugar da Caldas de Modelo na margem direita do Douro. (Silva, 1986; Fernandes, 1997:74-75; Lima, 2008:87-88)
- AMMAIA, cidade romana monumental localizada em São Salvador da Aramenha, junto da Serra de São Mamede (Marvão, Portalegre). O estatuto municipal da cidade é atestado por uma ara colocada pelos habitantes do municipium Ammaiensis e dedicada ao Imperador Lúcio Vero, e pela inscrição do duúnviro Publio Cornelio dedicada a Cláudio, actualmente ambas em exposição no museu adjacente às ruínas. Uma segunda inscrição a Cláudio colocada pela Civitas Ammaiensis foi levada para Lisboa e hoje está no MNA. Poderá corresponder a Ammaea de Ptolomeu (II, 5, 8); Plínio menciona os Ammaeensibus iugis (XXXVII, 24). No Monte do Seiçal apareceu um fragmento de um berrão actualmente no Museu do Marvão (Álvarez-Sanchís, 1999:356, 163). Por aqui passava uma via rumo a Mérida (ver itinerário).
- ANEGIA/ DANEGIA, provável civitas cujo território ocupava a parte sul do actual concelho de Penafiel, integrando os castros do Monte Mozinho e Abujefa a norte e a Cividade de Eja a sul, junto do rio Douro que seria o seu limite sul; na Idade Média este território era designado por civitas Anegia, mas o aparecimento de uma ara votiva na antiga igreja paroquial de Lagares (Penafiel), dedicada às divindades protectoras do território, Laribus [D?]anaecis, indicia a sua existência já em período romano (Lima, 1999).
- AQUABONA, mansio do Itinerário XII situada nas proximidades da Capela da Ns. dos Remédios em Coina, a 12 milhas de Lisboa; Abona no Ravennatis (Rav. IV.43).
- AQUAE FLAVIAE, urbs, hoje Chaves; sede da Civitas Aquiflaviensis posteriormente elevada a municipium durante a época dos Flávios. Aqua Flavia em Ptolomeu (II, 6); a primeira referência ao município dos Aquiflavienses surge numa inscrição encontrada em Chaves que menciona também o município de Concordia;
na Capela Românica da Granjinha em Cando a servir de suporte de um altar apareceu uma ara votiva a Tutela colocada pelo municipii Aquiflaviensium; epígrafes de emigrantes Aquiflavienses em Tarragona, Herramélluri (Rioga) e Córdoba.
- AQUIS CELENIS, estação do Itinerário XIX, localizada em Caldas dos Reis (Pontevedra, Galiza). No entanto, no Itinerário XX per loca maritima, este topónimo surge associado a um porto marítimo que estaria localizado na foz do rio Minho, possivelmente onde hoje se encontra o Forte da Ínsua, junto a Caminha pelo que o povoado poderia corresponder ao Castro de Santa Tecla. Poderiam existir dois povoados diferentes com nomes similares dado que no Ravennatis surge tanto Aqui Celenis (Rav. IV.45) como Quecelenis (Rav. IV.43). A dúvida permanece. No período Islâmico o Forte da Ínsua era designado por fortaleza de Abrâqa (Rei, 2005:140).
- AQUIS QUERQUENNIS, estação viária do Itinerário XVIII, relacionada com o povo Querquerni referido por Plínio (NH, III, 28), localizada em Baños de Bande, Galiza. Aquis Cercenis no Ravennatis (Rav. IV, 45); importantes vestígios de um acampamento romano parcialmente submerso pela albufeira das Conchas, entre a milha 52 e 53, próximo de Porto Quintela.
- AQUIS ORIGINIS, mansio do Itinerário XVIII localizada no lugar de «Os Cobelos» perto de Baños del Río Caldo, Galiza. Aquis Oreginis em outros códices do I.A.; Aquis Ocerensis no Ravennatis (Rav. IV.45).
- ARABRIGA, povoado localizado por Ptolomeu a norte de Olisipo (II, 5); poderá ser apenas uma diferente grafia do povoado de Ierabriga referido nos Itinerários (ver Ierabriga).
- ARADUCTA, povoado mencionado por Ptolomeu (II, 5) na Lusitânia ainda sem localização segura; Vasco Mantas sugeriu a sua localização em Alfeizerão (Mantas, 1986). A coordenada, porém, aponta para uma localização mais interior, entre os rios Zêzere e Ocreza, podendo corresponder a algum dos povoados fortificados da Idade do Ferro como o Castro do Picoto (Estreito, Oleiros).
- ARADUCCA, povoado mencionado por Ptolomeu (II, 6) no território dos Callaeci Bracari com sede em Bracara Augusta, ainda sem localização segura. A sua tradicional associação à cidade Guimarães deve ser descartada dada a ausência de vestígios romanos na cidade. Araducca deverá corresponder a um dos castros em território Bracarense, mas sem outros dados, não é possível a sua identificação (act. 2019).
- ARACELUM, possível designação de uma povoação romana com base numa inscrição achada em Vale de Azares (Celorico da Beira) dedicada a uma divindade indígena Ama Aracelene (Carvalho, 2009); poderá haver relação com castellum Araocelum, presumivelmente situado no Monte da Senhora do Castelo em Mangualde.
- ARANDIS, povoado mencionado por Ptolomeu entre os Celtici da Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura; habitualmente interpretada como uma diferente grafia de Arannis mencionada no Itinerário XXI de Antonino. No entanto, é mais provável que sejam duas povoações distintas pois as coordenadas indicadas por Ptolomeu colocam-na bem mais a norte, apontando para uma área a norte de Moura, podendo hipoteticamente corresponder a um dos povoados fortificados romanizados da região, como o Castelo das Juntas ou o Castro dos Ratinhos, onde há evidências de materiais fenícios e um possível santuário desse período do Bronze Final.
- ARANNIS, oppidum e mansio do Itinerário XXI cuja localização tem oscilado entre Garvão (Ourique) e Sta. Bárbara de Padrões (Castro Verde) e (Ourique), mas que deverá corresponder ao importante povoado do «Castro da Cola» em Ourique (act, 2018); Arani no Ravennatis (Rav. IV.43).
- ARAVO, possível designação do oppidum sede da Civitas Aravorum localizado na aldeia de Marialva (Mêda) com base numa inscrição honorífica dedicada a Adriano, actualmente no Museu da Guarda.
- ARBUA, possível povoado com base numa ara votiva dedicada aos Lares Couticivi (?) por um Arbuense, aparecida em São João da Fresta, na base do Castro romanizado da Sra. do Bom Sucesso (Mangualde).
- ARCOBRIGA, povoado mencionado por Ptolomeu entre os Celtici da Lusitânia (II, 6, 59), ainda sem localização segura. Ptolomeu refere ainda uma outra Arcobriga entre os Celtiberos da provincia Tarraconense, também mencionada no Itinerário 24 de Antonino na via entre Emerita Augusta (Mérida) e Caesar Augusta (Zaragoza). Existem diversas epígrafes mencionando Arcobrigenses: Monreal de Ariza (Zaragoza), Trévago (Soria), Guadalajara, Coria (Cáceres), Perales del Puerto, Vilar de Nantes (Chaves) e na Fonte do Ídolo em Braga, indiciando a existência de vários aglomerados com este nome. A coordenada aponta para um ponto a oeste de Évora, podendo ser identificado com o povoado fortificado do Alto do Castelinho da Serra (?).
- ARGENTIOLUM, mansio do Iter XVII a 14 milhas de Astorga (ver nota 2), também mencionada em Ptolomeu (II, 6) como Argenteola e no Itinerário de Barro; estaria provavelmente localizada entre Herreros de Jamuz e Villamontán de la Valduerna segundo as distâncias indicada no I.A., possivelmente no sítio romano do «Campo del Medio». Outros autores propõem a povoação vizinha de Miñambres (Martino, 2005).
- ARITIUM, povoação romana mencionada por Ptolomeu (II, 5) provavelmente situada nas margens do Tejo em Casal da Várzea, próximo de Alvega (Abrantes) com base numa inscrição numa placa de bronze aqui encontrada contendo um juramento dos Aricienses onde se lê: Aritiense oppido veteri (CIL II 172); noutra inscrição daqui é mencionado um aedilis IIvir flamen provinciae Lusitaniae.
- ARITIUM PRAETORIUM, mansio do Itinerário XIV a 28 milhas de Abelterium (Alter do Chão), provavelmente situada a oeste de Ponte de Sor na Herdade de Água Branca de Cima. Aretio Pretorion no Ravennatis (Rav. IV.44).
- ARAOCELANA, possível designação da estação viária romana da Quinta da Raposeira em Mangualde, com base na inscrição honorífica que apareceu em São Cosmado e colocada pelos castellani Araocelensibus, presumivelmente ocupando o Monte da Senhora do Castelo.
- ARUCCI, mansio referida no Itinerário XXI ainda sem localização segura; também referida em Ptolomeu (II, 5) e no Ravennatis (Rav. IV.45). Habitualmente identificada com a moderna Aroche, mas que poderá corresponder a Moura (act. 2022).
- ASSEGONIA, estação viária mencionada no Itinerário XIX situada em Santiago de Compostela ou nas suas proximidades, possivelmente em Lavacolla, onde cruza o rio Sionlla (também na variante Sioña, topónimo que poderá ter origem na estação romana), local que acerta com a distância a Lugo, apesar de não se conhecerem vestígios romanos na área.
- ATUCAU(sium?), possível designação latina do vicus viário que existia em Gatão (Amarante), com base numa ara dedicada a Júpiter e colocada pelos vicani Atucausensis (CIL II 6287), encontrada na Quinta dos Pascoais, hoje no MSMS, nº 44.
- AUGUSTOBRIGA, povoado localizado por Ptolomeu entre os Vetões da Lusitânia (II, 5), também referido no Itinerário 25 de Antonino que ligava Mérida a Zaragoza; poderá corresponder a «Talavera la Vieja», assentamento romano junto do rio Tejo, actualmente submerso pela barragem de Valcanas.
- AURANCA, hipotético nome do vicus do Cristelo da Branca no período romano que surge num documento do ano 922 (PMH DC 25), como «Abranca» (Alarcão, 2004a).
- BAEDORUS. vicus mencionado numa inscrição votiva (CIL II 365) encontrada em Conímbriga; não se conhece a sua localização.
- BAESURIS, povoado na foz do rio Guadiana, caput viarum dos Itinerário XXI e Itinerário XXII, identificado com Castro Marim, onde surgiram moedas com a legenda «BAESURI». Besurin no Ravennatis (Rav. IV.43).
- BALSA, urbs sede de civitas e mansio do Itinerário XXI; imponente cidade romana mencionada por Mela (III, 5), Ptolomeu (II, 5) e Plínio (NH, IV, 116), posteriormente elevada a municipium na época Flaviana, localizada na área da Quinta de Torre de Aires (Luz de Tavira), local onde apareceram diversas epígrafes de Balsenses; outra referência apareceu no Monte do Torrejão em Baleizão (Beja), na inscrição com o epitáfio da filha de Blossius Saturninus, habitante de Balsa, membro da tribo Arniense e natural da Colónia Iulia Neapolis, cidade situada na actual Tunísia junto de Nebel Kedin (CIL II 105; IRCP 294), reflectindo a intensa actividade comercial da cidade.
- BANIUM/BANIENSIUM, prováveis designações do oppidum sede da Civitas Baniensis, localizado algures na área do Vale da Vilariça em Torre de Moncorvo (vide também Banienses).
- BERGIDO, estação viária a 50 milhas de Astorga comum aos Itinerários XVIII, XIX e XX, identificada com o Castro da Ventosa (Cacabelos).
- BEVIPO, possível designação pré-romano da cidade Imperatoria Salacia, actual Alcácer do Sal, com base numa legenda monetária (Faria, 2002).
- BRACARA AUGUSTA, urbs sede do conventus Bracarensis, na actual cidade de Braga. Caput viarum dos Itinerários XVI, XVII, XVIII, XIX e XX. Augusta Bracaria no Ravennatis (Rav. IV.43) e Bracaraugusta em Ptolomeu (II, 6); a capital dos Bracari que tutelavam uma jurisdição com 24 civitates/populi com uma população total de 275.000 habitantes (excluindo escravos), segundo o relato de Plínio-o-Velho no seu Naturalis Historiae, «Simili modo Bracarum XXIIII civitates CCLXXXV capitum» (Livro IV - Cap. 3).
- BRAETOLAEUM, povoado mencionado por Ptolomeu entre os Celtici da Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura.
- BREVIS, estação viária mencionada no Itinerário XIX a 33 milhas de Lugo, possivelmente situada em Boente, entre Arzúa e Mélide, local a 20 milhas de Marcie, onde apareceu uma ara a Júpiter.
- BUDUA, mansio do Itinerário XIV, localizada junto da Ermida de Ns. de Bótoa (Corrales, 1987:80), próximo da travessia dos rios Xévora e Zapatón junto da actual fronteira com Espanha. Burdua em Ptolomeu (II, 5) e Burdoga do Ravennatis (Rav. 317.7).
- BURBIDA, estação viária mencionada no Itinerário XIX a 16 milhas de Tui, presumivelmente localizada em Santiaguinho de Antas (Pontevedra), onde há miliário.
- CABRARIUM/ CABRIANUM, possíveis designações do povoado referido numa ara dedicada a Júpiter pelos vicani Cabr(...) que apareceu em 1982 durante as obras realizadas no adro da Igreja Matriz de Pombal (Carrazeda de Ansiães); há dois sítios romanos na freguesia potencialmente associáveis a este vicus, o lugar da Costa em Mós, onde há vestígios significativos e o lugar de Curral dos Moiros em Paradela, onde os vestígios se estendem por 6 ha. (Garcia, 1991:402-403; Alarcão, 2004b:205; Guerra, 2007:125-129). O sítio da Costa poderia corresponder ao vicus viarum associado a esta estação a cerca de 16 milhas do rio Douro.
- CAECILIANA, mansio do Itinerário XII localizada a 8 milhas de Setúbal ainda sem localização segura. Celiana no Ravennatis (Rav. IV.43). Segundo as medições do trajecto proposto, esta estação viária estaria junto do nó viário do Monte da Lentisqueira (Cajados, Palmela), local a 8 milhas de Setúbal onde a via se unia à via por Palmela, seguindo na direcção de Alcácer do Sal. No entanto, não se conhecem vestígios romanos no local. O topónimo «Rua dos Galeanos» junto deste cruzamento poderá derivar do nome da estação e nas proximidades subsistem os topónimos «Vendas» e «Cabeço da Vigia» denunciando o carácter viário deste local, na chamada «Estrada dos Espanhóis» (EM533 e CM1040) que ligava Marateca a Palmela e Setúbal, seguindo com toda a probabilidade o trajecto romano.
- CAECILIA GEMELLINA, povoado localizado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura.
- CAELOBRIGA/ CELIOBRIGA, mencionado por Ptolomeu na província Tarraconensis como sede dos Caelerinori (II, 6), ainda sem localização segura.
- CAENO OPPIDUM, povoado mencionado no Ravennatis (Rav. IV.43); segundo Vasco Mantas o nome deste oppidum aparecia originalmente de forma deturpada como cenoopi docalo, posteriormente dividido em dois topónimos diferentes, o que situa este povoado entre Langobrica (Castro de Fiães) e Calo (Rio Douro), o que corresponde ao actual concelho de Vila Nova de Gaia, com possível localização no Castelo de Gaia, na margem esquerda do Douro (Silva, 2015:68-74), mas que também poderia ser identificado com o importante castro romanizado do Monte da Sra. da Saúde, nos Carvalhos, a meio-caminho entre Langobriga e Cale, ou seja, entre o Castro de Fiães e o Rio Douro.
- CAEPIANA, povoado mencionado por Ptolomeu entre os Celtici da Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura. Amílcar Guerra propôs o Povoado de Chibanes na crista da Serra do Louro (cadeia montanhosa da Arrábida. (Guerra, 2004).
- CAESERA, possível mansio referida em dois miliários; um apareceu em San Vitero e indica 6 milhas a Caesera enquanto o outro apareceu em Babe (Bragança). A essa distância, encontramos a actual povoação de Rabanales de Aliste, mas faltam provas epigráficas definitivas.
- CAETOBRIGA, mansio do Itinerário XII situada na actual cidade de Setúbal a 24 milhas de Lisboa (Costa, 1960). Catobrica em algumas cópias do I.A.; Cetobricca no Ravennatis (Rav. IV.43), Caetobriga em Mela (Cor. III, 5) e Caetobrix em Ptolemeu (II, 5). Importante vicus portuário na foz do rio Sado.
- CALADUNO, mansio do Itinerário XVII possivelmente localizada no vicus da Veiga, a sul da povoação de Vilar de Perdizes (Montalegre), a 62 milhas de Braga e a 18 de Chaves; Caladunum em Ptolomeu (II, 6); inscrição funerária de uma Caladunus em Braga (act. 2018).
- CALANTICA, provável nome do vicus localizado em Santana do Campo (Arraiolos) com base em duas inscrições já desaparecidas dedicadas à divindade indígena Carneus Calanticensis que apareceram na Igreja Paroquial, edifício construído sobre um imponente Templo Romano cujos vestígios são ainda bem visíveis em todo o edifício. Também na necrópole da Herdade do Cortiçal em Igrejinha apareceu um prato de barro com a inscrição Calantani (Vasconcelos, 1913) e em Santa Justa apareceu uma ara votiva dedicada a «C.» também interpretada como a Deo Calanticenci, ambas actualmente na colecção do Seminário Maior de Évora.
- CALE, oppidum e mansio do Itinerário XVI junto da travessia do rio Douro junto ao Porto; o antigo castro ocupava o morro da Pena Ventosa na Sé; do lado de Vila Nova de Gaia existia outro povoado desse período actualmente designado por Castelo de Gaia (Alarcão, 2005a e Silva, 2010); Calo no Ravennatis (Rav. IV.43).
- CAMALOCUM, possível nome latino do vicus que existia no Monte do Chocanol (Crato) com base numa ara a Júpiter colocada pelos Vicani Camalo/c[...], hoje perdida.
- CAPARA, povoado localizado por Ptolomeu na Lusitânia entre os Vetões (II, 6), sede dos Caperenses referidos por Plínio, localizado em «Ventas de Capara», actualmente um vasto campo de ruínas a norte de Oliva de Plasencia (Hervás 1975:228). Aras votivas às Nymphis • Caparensium em Baños de Montemayor (Cáceres). Estação viária do Itinerário 24 de Antonino de Emerita a Salmantica (Hervás, 1971).
- CAPASA, povoado localizado por Ptolomeu entre os Lusitanos (II, 5) ainda sem localização segura; possivelmente em «Castejón de las Merchanas» (Don Benito, Badajoz)
- castellum ACRIPIA, povoado mencionado em duas inscrições funerárias encontradas em Braga: o epitáfio de Aravius e o epitáfio de Apilus.
- castellum ARAOCELUM, povoado mencionado numa inscrição honorífica encontrada em São Cosmado colocada pelos castellani Araocelensibus que deverá corresponder ao povoado do Monte da Senhora do Castelo em Mangualde; na sua base assenta a estação viária da Quinta da Raposeira.
- castellum ARGUCE, povoado mencionado numa estela funerária de um emigrante Límico encontrada no Outeiro Alto, junto de Abitureira (Vale de Touro, Sabugal); seria um dos castella deste povo associado ao Alto Lima na actual Galiza.
- castellum BERECUM, povoado mencionado numa inscrição votiva achada em Famalicão da Serra colocada pelos castellani Berecensis (FE 98; Alarcão, 2001b); poderá corresponder ao povoado de Barrelas, na estrada de Viseu a Belmonte.
- castellum BERENSI, povoado mencionado na inscrição funerária de Reburrus, Limicus do «castellum Berensis» (CIL II 5353) que apareceu em Calañas (Huelva, Espanha); seria possivelmente um emigrante a trabalhar na exploração mineira de Sotiel Coronada junto do rio Odie, onde apareceu uma raríssima bomba de água romana feita em bronze.
- castellum DURBEDE, povoado mencionado numa estela funerária de um emigrante Bracarus encontrada em Garvão; uma inscrição à divindade Durbedicus apareceu na torre da Igreja de Ronfe (Guimarães), CIL II 5563 no MSMS com o n. 27, proveniente talvez das proximidades, possivelmente do Castro de São Miguel (Alarcão, 2004b).
- castellum FIDUENEARUM, povoado mencionado numa inscrição encontrada em Vila Boa (Guilhabreu, Vila do Conde), o epitáfio de Lanasus, muito provavelmente a Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira) pois nas proximidades existe uma inscrição rupestre chamada de "Penedo das Ninfas" que também menciona o povo Fidueneae (Silva A.C.F., 1980).
- castellum LETIOBRI, povoado mencionado na estela funerária de Albura Caturonis que apareceu em Braga, sem localização determinada.
- castellum LIVAIRUM, povoado mencionado na estela funerária de Camalus, um emigrante Limicus, encontrada na Portela de Cambela em Vila da Ponte (Montalegre), junto da via Braga-Chaves (CIL II 2496).
- castellum LOUCIOCELO, povoado mencionado na inscrição de Festo, um Interamicus originário do castelo Louciocelo (ILER 3456), encontrada em Cacabelos (Galiza).
- castellum NACOSOS, povoado mencionado numa ara votiva dedicada aos Lares Couticivi(?) por um Arbuensis que apareceu na Quinta do Casal em Casais, (FE 55; Vaz, 1997), situada na base do Castro da Sra. do Bom Sucesso em Chãs de Tavares.
- castellum NARELIA, povoado mencionado numa inscrição de um emigrante Seures encontrada em Felgar (Torre de Moncorvo) (Encarnação, 2006a).
- castellum SERANTE, povoado mencionado numa inscrição de um emigrante Seures Transminiensis encontrada em Felgueiras (Torre de Moncorvo).
- castellum SERMACELES, povoado mencionado numa inscrição, actualmente desaparecida que apareceu em Tinhela (Valpaços) onde se podia ler o origo Sermacelensis.
- castellum ULIAINCA (?), provável designação do Castro de Alvarelhos (Trofa), com base no epitáfio de Lanasus que apareceu em Vila Boa (Guilhabreu, Vila do Conde), na base do castro.
- castellum TVREOBRIGA/ IVREOBRIGA/ IULIOBRIGA (?), possíveis designações do povoado mencionado numa inscrição, entretanto perdida, dedicada ao veterano Emiliano Flacus (CIL II 2480), signífero da Legião II Augusta, encontrada em Nogueira da Montanha (Chaves).
- Castra Caecilia», mansio da via entre Emerita e Salmantica localizada em «Cáceres el Viejo», 2,5 km a nordeste de Cáceres (Hervás, 1975:229).
- CATRALEUCUS, povoado mencionado por Ptolomeu entre os Celtici da Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura. Surge também nas formas Katra leukos/ Kataleukos/ Katra- pheucus / Cattaleucos. Poderá corresponder ao povoado indígena actualmente ocupado pelo Convento da Nossa Senhora da Esperança em Alcáçovas.
- CAURIUM, povoado localizado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5), actual Coria. Plínio refere os Caurienses como uma das civitates estipendiárias da Lusitânia (NH, IV, 118). No perímetro de Coria apareceram várias epígrafes de Caurienses confirmando esta localização apesar do erro na coordenada indicado no Geographia.
- Centum Cellas, designação medieval do povoado romano em Catraia da Torre, a norte de Belmonte, registada num documento de 1194 (PMH, Leges:487-488) do qual subsistem ainda importantes ruínas, mormente a famosa Torre Romana. O local foi interpretado como villa (Alarcão, 1998), vicus (Frade, 2002) e oppidum, possível sede da civitas dos Lancienses Oppidani (Guerra, 2007a). No entanto, é mais provável que se trate de uma estação viária, dado estar situada junto da via para Mérida (Carvalho, 2010).
- CHRETINA, povoado localizado por Ptolomeu na Lusitânia a norte de Olisipo (II, 5), ainda sem localização segura; Vasco Mantas sugere a sua identificação com Torres Vedras (Mantas, 1996:693-695) enquanto Cardim Ribeiro propôs a sua localização no vicus de Faião (Terrugem, Sintra) (Ribeiro, 1982-1983:160-161).
- CILPES, provável sede dos Cibilitani referidos por Plínio (NH, IV, 118) e possivelmente a Kilibe no Papiro de Artemidoro; é conhecida também através de cunhagens monetárias com a legenda Cilpis/Cilip/Cilbe(s) que apareceram no triângulo formado por Silves, Lagos e Portimão (Alarcão, 2010); a localização do povoado proto-histórico continua em discussão, oscilando entre a actual cidade de Silves, onde os vestígios romanos são diminutos e descontextualizados, e o Cerro da Rocha Branca ou da Guerrilha situado a cerca de 1 milha a sul da cidade, na margem direita do rio Arade, junto da sua confluência na ribeira de Odelouca, sítio com vasta cronologia de ocupação desde a Idade do Bronze ao período Islâmico com claros indícios e um estabelecimento fenício-púnico (Gomes, 1993).
- CLUNIA, cidade capital dos Aravacos localizada no Alto de Castro, entre as actuais localidades de Coruña del Conde e Peñalba de Castro (Burgos). É notável o número de emigrantes Clunienses no actual território nacional, onde se assinalam pelo menos 24 epígrafes, sempre em estreita relação com a exploração mineira durante a época romana. Registam-se 7 epígrafes em Idanha-a-Velha, 7 em Tresminas (Vila Pouca de Aguiar), 3 em Ammaia (Marvão), ou 4 se incluirmos o epitáfio de Gaius Domitius encontrada próximo, na Herdade de Santa Marinha (Castelo de Vide), o epitáfio de Júnio no vicus da Torre dos Namorados (Fundão), epitáfio de Allonio em Cardigos (Mação), epitáfio de Caius Sempronius Aebarus em Feiteira (Belver), epitáfio de Aemilia Lougo em Braga, epitáfio de Postumus em Meimoa (Penamacor) e o epitáfio de Rufus em Lisboa.
- COBELCORUM, sede dos Cobelci localizado em torno do templo romano conhecido por «Torre das Águias» em Almofala (Figueira de Castelo Rodrigo), dado que aqui apareceu uma ara dedicada a Júpiter pela Civitas Cobelcorum (CIL II 429); registam-se também várias epígrafes de Cobelci: Modestus em Almendra (encastrada na frontaria da capela de Santo Cristo em Barca Dalva; CIL II 433; FE 46), filho de Flacci em Marialva (AE 1985, 526; RAP 639), Martialis de Mérida. Na Capela de Santo André foram encontrados dois berrões, o que permite associar esta povoação aos Vettones.
- COLARNUM, povoado mencionado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura; sede do povo Colarni mencionado por Plínio (NH, IV, 118) e na inscrição da Ponte de Alcântara que também surge na grafia Coilarni; a única epígrafe que menciona um Colarnus é uma estela funerária que apareceu reutilizada no pavimento da Capela de Ns. de Fátima em Granja dos Oleiros, Moimenta da Beira (FE 672). No entanto, com base no terminus de Goujoim que assinalaria a divisão territorial entre os Coilarni e os Arabrigenses, sendo de há aceite que os primeiros estariam a poente, com possível sede em Lamego, enquanto para oriente teríamos os Arabrigenses, ocupando a área do actual concelho de Moimenta da Beira.
- COLLIPPO, oppidum túrdulo mencionado por Plínio (IV, 35), posteriormente elevado a sede da Civitas Collipponensis por Augusto e a municipium por Vespasiano. Localiza-se 5 milhas a sul de Leiria em São Sebastião do Freixo (Barreiros, 1561: fl. 50). Várias inscrições de Collipponenses confirmam o estatuto de sede da civitas como o epitáfio de Naevi na Batalha (CIL II 340), epitáfio de Sulpicia em Salir de Matos (CIL II 353), epitáfio de Maximus em A-do-Barbas (Maceira) e seu estatuto municipal como a inscrição funerária de Laberia Gala, fláminica de Évora, por decreto de decuriões de Collippo (CIL II 339), o epitáfio de Corinthus, escravo de Helvi Philippi e proveniente do Municipium Collipponensi achada em Roma (CIL VI 16100) e inscrição honorífica ao imperador Antonino Pio colocada pelo senado municipal e indicando o nome dos magistrados, hoje encastrada numa parede da Capela da Ns. da Pena, dentro do Castelo de Leiria; (Bernardes, 2007 e 2010).
- COMPLEUTICA, mansio do Itinerário XVII hipoteticamente localizada em Figueruela de Arriba ou mais adiante em San Pedro de las Herrerías; Complutica em Ptolomeu (II, 6).
- CONCORDIA, oppidum mencionado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5); provável sede dos Concordienses mencionados por Plínio (NH, IV, 118), ainda sem localização segura, mas possivelmente poderia corresponder a Alter do Chão. A existência de diversos oppida com o cognome «Concordia» tem dificultado a sua identificação. A tradição historiográfica localiza esta «Concordia» Lusitana nas proximidades de Tomar, em particular no lugar de Delongo junto da ribeira da Beselga, tese relatada no século XVII por Jorge Cardoso no seu «Agiológio Lusitano» onde estabelecia uma relação entre este local e o culto dos «Santos Mártires de Concórdia», sacrificados naquela cidade pelo ano 86 (Cardoso, 1652:458). No entanto, a fonte utilizada por Cardoso é a suposta crónica do historiador romano Flávio Dextro que se veio a revelar uma farsa criada por Román de la Higuera no século XVI; uma moeda com a legenda Concordi Aruci descoberta nas proximidades (Cardoso, 1666:761) ajudou a perpetuar esta tese, mas é mais provável que a moeda em causa tenha 'viajado' de outro lugar, eventualmente da própria Civitas Aruccitana, como sugere a própria legenda. Por seu lado, Jorge de Alarcão relacionou «Concordia» com Alter do Chão propondo que a sua antiga designação seria «Concordia Iulia Abelterium» (Alarcão, 1988). De facto, a coordenada ptolemaica valida esta hipótese ao colocar Concórdia num alinhamento de povoados lusitanos onde se inclui Scalabis, Tacubis, Concordia, Burdua e Augusta Emerita, sequência em tudo idêntica à do Itinerário XIV de Antonino com Scallabis, Tabucci, Abelterium, Budua e Emerita, similitude que viabiliza a sua localização em Alter do Chão (act. 2019).
- CONIMBRIGA, oppidum e mansio do Itinerário XVI, actual Condeixa-a-Velha (Coimbra); referida por Plínio como oppida Conimbrica (IV, 118) e em vários documentos epigráficos, como a árula ao Genio Conimbrica, a árula a Flavia Conimbrica et Laribus Eius e em epitáfios de emigrantes Conimbrigenses em Idanha-a-Velha (epitáfio de Flaccilla) e em Mérida (ara dedicada a Mitra). Segundo Gaspar Barreiros, existiam várias inscrições na Ponte de Atadôa, uma delas mencionando um Conimbrigense (Barreiros, 1561: fl. 49-50).
- CONISTORGIS, segundo Estrabão (Geo, III, 2, 2), seria a principal cidade Celta. Sabemos que a cidade foi atacada durante as «Guerras Lusitanas» no ano de 154 a.C., mas depois desaparece do registo histórico. Tem sido associada a Beja e mais recentemente a Medellín (Almagro-Gorbea et al, 2008), mas sem novos dados, a sua localização continua por determinar. Mais segura é a sua possível associação aos Conii, povo pré-romano de origem celta que habitava o Sudoeste Peninsular, incluindo a região do Algarve e do Alentejo, pelo que a sua sede estaria algures neste território.
- CONTRASTA, designação da povoação de Valença até ao século XII, possivelmente com origem no nome romano.
- DIPO, estação viária mencionada no Itinerário XII na forma Dipone. Como está na sequência de Évora e indica 12 milhas para esta etapa, tem sido associada a Evoramonte, onde aliás apareceu um miliário (Alarcão, 1999a, 2001c). No entanto, outros autores consideram que existe uma quebra na sequência das estações a partir de Évora pelo que a distância a Dipo estaria referenciada a Mérida e não a Évora, a 26 milhas, colocando a mansio já em território espanhol, eventualmente em Talavera la Real ou em Guadajira, onde se acharam numismas com a legenda «DIPO»; Bipone no Ravennatis (Rav. IV.44).
- DIVORUM, Campi Divourum ou «Campo dos Deuses» seria a antiga designação do vicus de Ns. da Graça do Divor (Évora), antigo manancial da cidade de Ebora com base numa referência de João Nunes Freire em 1626 sobre um «letreiro» translado para a «esquina da parede, onde está a cadeia» de Évora onde surgia essa designação (vide Freire, 1626).
- EBORA Liberalitas Iulia, oppidum na actual cidade de Évora; mansio comum ao Itinerário XII e ao Itinerário XXI; Ebora seria inicialmente um oppidum indígena, tendo recebido o «antigo direito latino» segundo Plínio, estatuto que conferia a cidadania romana aos seus habitantes, passando a designar-se por Liberalitas Iulia epítetos entretanto confirmados numa canalização de chumbo descoberta na cidade com as letras LIB IVL (Encarnação,
1986-1987:7). Plínio refere-se ao povoado como «oppida veteris Latii Ebora, quod item Liberalitas Iulia» (NH, IV, 117). Deverá corresponder à «Ebura» mencionada por Ptolomeu (II, 5), apesar do desacerto das coordenadas indicadas. O estatuto municipal é atestado pela inscrição dedicada a Flavinus pelos municipii Eborensis e o pedestal de estátua de Laberiae Gallae, flâmine municipal; diversas epígrafes de Eborenses; inscrição de Iulia Quintilla em Cuba, inscrição Iulius em Reguengos de Monsaraz.
- EBUROBRITTIUM, cidade romana junto a Óbidos; as ruínas da antiga cidade situam-se próximo da Quinta das Janelas (Gaeiras) sobranceira à lagoa de Óbidos; o seu estatuto municipal é atestado pela
inscrição dedicada a Caracala encontrada em São Tomás das Lamas e pelo epitáfio de Maximino, duúnviro Eborobritiensium, encontrada na Sra. de Aboboriz em Amoreira. O território confrontava com as civitates de Collippo a norte, Scallabis a este e Olisipo a sul (Moreira, 2002).
- EBUROBRIGA, nome de um possível povoado referido numa ara votiva dedicada a Arantiae et Arantio Eburobricis achada em Castelejo, Fundão.
- ELANEOBRIGA, povoado mencionado numa inscrição funerária com o epitáfio de Severus Tiophilus que apareceu na necrópole da via Bracara - Aqua Flaviae à saída de Braga; contudo a sua localização permanece incerta.
- ELBOCORIS, povoado mencionado por Ptolomeu (II, 5), muito provavelmente a sede do povo Elbocori mencionado por Plínio (NH, IV, 118), situada algures a oriente de Tomar (Castro de Amêndoa?).
- EMERITA AUGUSTA, colónia capital da Lusitânia, sede do conventus Emeritensis, actual Mérida. Principal caput viarum da província centralizando a rede viária; Colonia Augusta Emerita em Plínio (NH, IV, 117); Augusta Emerita em Ptolomeu (II, 5); cognominada de clarissima por Mela (Cor. II, 88). As inscrições que referem a colónia ou o origo Emeritense são muito abundantes.
- EQUOTULE, possível designação da vila do Sabugal na época romana com base numa ara consagrada a Arentia Equotulaicense actualmente encastrada numa das paredes da Igreja de São João.
- ETOBRIGA/ AETOBRIGA, possíveis designações de um povoado com base numa ara votiva dedicada a Bandua Etobrico ou Aetobrico que apareceu no aro de Alenquer. Possivelmente o povoado da Ota (?).
- EVANDRIANA, mansio do Itinerário XII, nove milhas a oeste de Mérida, possivelmente localizada na base do Cerro del Turuñuelo (Arroyo de San Serván), povoado proto-histórico que poderá corresponder a Evandria referida por Ptolomeu (II, 5) e no Ravennatis (Rav. IV.44).
- FINES, mansio do Itinerário XXI ainda sem localização segura. Tradicionalmente associado a Corte de Messangil ou a Vila Verde de Ficalho, no entanto, o topónimo sugere que estaria na fronteira com a Bética, pelo que a sua localização poderia ser junto da fronteira luso-espanhola, próximo da Herdade da Negrita (Santo Aleixo da Restauração, Moura).
- FOXEM, provável designação do vicus localizado em Ns. de Aires, Viana do Alentejo, dado que na Idade Média Viana era designada por "Villa de Vianna de Foxen" (Feio, 2010).
- FRAXINUM, mansio do Itinerário XV ainda sem localização segura; hipoteticamente no Monte da Pedra (Crato) ou em Alpalhão (Portalegre).
- FORO, estação viária do Itinerário XVIII, possivelmente localizada no sítio romano de San Salvador (Barca de Valdeorras), junto do qual apareceu um miliário (em Proba de Barca).
- FORUM LIMICORUM, oppidum situado talvez em Xinzo de Limia (Ourense); segundo Ptolomeu seria a capital da Civitas Limicorum (II, 6) e do povo Limici que ocuparia a região do Alto Lima.
- GEMESTARIO, estação viária do Itinerário XVIII a 13 milhas de Bergido, possivelmente localizada no Alto da Portela de Aguiar.
- GEMINAS, estação viária do Itinerário XVIII, possivelmente localizada no Castro de Torre de Sandiás (ara anepígrafa e cerâmica romana na igreja paroquial).
- GERAEA, povoado localizado por Ptolomeu a oriente de Évora (II, 5), ainda sem localização segura; o Pe. Joaquim Espanca propôs Juromenha com base na similitude fonética (Espanca, 1993), mas não existem dados que o suportem.
- IERABRIGA/ JERABRIGAM, oppidum e mansio do Itinerário XVI, tradicionalmente identificada em Alenquer, mas que poderá corresponder ao Povoado do Monte dos Castelinhos (Pimenta & Mendes, 2012:54-59), local precisamente a 30 milhas de Lisboa como indicado no I.A. e mais de acordo com um topónimo terminado em '-briga' (act. 2023).
- IGAEDITANA/IGAEDIS, povoado e estação viária localizada em Idanha-a-Velha, um museu a céu aberto rivalizando com Conimbriga, Ammaia e Tongobriga (vide Sá, 2007; Carvalho, 2009 e 2010). O estatuto municipal da Civitas Igaeditanorum foi confirmado pela inscrição de Caius Iulius Vegetus, flamine provinciae Lusitaniae, que reapareceu em 1999 na Quinta do Deão (CIL II 160; IRCP 617). A origem desta designação poderá estar relacionada com a inscrição votiva encontrada na Capela da Senhora do Almortão dedicada à divindade Igaedo (RAP 152; Encarnação, 1987:23). Assim, o nome do povoado indígena poderia ser Igaedis, com possível localização no chamado «Castelo dos Mouros», localizado a cerca de 4 km de Idanha-a-Velha, num meandro do rio Ponsul junto da actual albufeira da barragem Marechal Carmona. A ser assim, a designação Igaeditana corresponderia à mansio de Igaedis.
- ILEX[---], primeiras letras do vicus referido numa ara dedicada a Júpiter pelos Vicani ILEX[---] que apareceu
Quinta de Vila Maior, em Cabanas de Baixo, junto da ribeira dos Cavalos, no Vale da Vilariça (Torre de Moncorvo) (FE 67, 300).
- INTERAMNIO FLUVIO, estação viária mencionada no Itinerário XIX e como Intereraconio Flavio no Itinerário XVIII, a 30 milhas de Astorga, possivelmente localizada em San Román de Bembibre, na confluência dos rios Noceda e Boeza.
- INTERERACONIO FLAVIO, estação viária mencionada no Itinerário XVIII; o mesmo que Interamnio Fluvio.
- IPSA, povoação mencionada na Geografia de Artemidoro de Éfeso que poderá corresponder ao vicus portuário de Vila Velha do Alvor com base numas moedas com a legenda IPSES aqui encontradas. Estácio da Veiga descobriu uma glande de chumbo.
- IRIA, estação viária mencionada no Itinerário XIX que corresponde a Iria Flaviae localizada ligeiramente a norte do Padrón (Galiza).
- LACCOBRIGA, povoado mencionado por Ptolomeu (II, 5, 5) possivelmente localizada na região do Alto Alentejo. Em algumas cópias da «Geographia» surge também como Langobriga. Plutarco menciona um episódio das guerras Sertorianas envolvendo os «Lacobritas» (Sert., 13), mas não sabemos se se trata do mesmo lugar; Plínio refere ainda uma outra Lacobriga no conventus Cluniensis (III, 6), localizada em Carrión de los Condes (Palência), portanto já em território dos Vettones, também mencionada por Ptolomeu (II 6, 49) e ainda pelo Itinerário de Antonino (395.1; 449.3; 454.1).
- LACINIMURGI/LACONIMURGI, povoado mencionado por Ptolomeu (II, 5) que poderá corresponder a Lacimurga Constantia Iulia referida por Plínio (NH, III, 14) localizada no chamado «Cerro del Cogolludo», assentamento pré-romano na margem direita do Guadiana com base na descoberta nas proximidades (Finca La Mezquita) de uma inscrição dedicada ao Genius Lacimurgae (CIL II 5068=5550) e do terminus Augustalis de Mojón Gordo, 13 km a norte de Valdecaballeros, indicando a divisão territorial entre os Lacinimurgenses e os Ucubitanos. O termo Lacimurcensis surge também num fragmento de uma inscrição cadastral em bronze com um desenho da centuriação atravessada pelo rio Guadiana. Há também notícia de emigrantes Lag(imurgensis) em Encinasola, epitáfio de Marcus Baebius, e em Jerez de los Caballeros noutro epitáfio.
- LAELIA, povoado mencionado por Ptolomeu (II, 5) tradicionalmente identificada na Ermita de Santa Eulália (Almonaster la Real).
- LAMECO, designação no período Suévico da actual cidade de Lamego.
- LACALTA, hipotética designação do povoado romano que existia em Moura com base em 4 estampilhas de dolia do período alto-medieval, 2 encontrados junto do castelo e outros 2 provenientes da Herdade de São Cristóvão, cerca de 1 km a sul da vila, com a seguinte inscrição: «Eclesiae Sanctae Mariae Lacaltensi Agripi» (Canto, 1997). Um selo idêntico foi encontrado noutro dolium a cerca de 10 km, na villa do Monte da Salsa (Brinches), também do mesmo produtor, presumivelmente sediado em Moura, cuja Igreja Matriz é precisamente de invocação a Santa Maria; no período islâmico o nome evoluiu para Laqant (Macias e Valente, 2014).
- LANCIA OPPIDANA, mencionada por Ptolomeu entre os Vettones (II, 5); também referida na inscrição da Ponte de Alcântara; a sua localização permanece incerta, podendo corresponder ao castro de «Sortelha Velha» em Penamacor (Saa, 1964:228-273); um Lancienses foi registado numa inscrição de Idanha-a-Velha de Annia Vegeta. Uma inscrição proveniente da Casa de Barrantes em Alcântara (Cáceres), mas dada como falsa, referia supostamente um tal Lucius Cocei proveniente de Lancia Oppidana (CIL II *73).
- LANCIA TRANSCUDANA, oppidum sede do povo Lanciense Transcudani referido na inscrição da Ponte de Alcântara, muito provavelmente situado em torno da capela de Póvoa do Mileu, na Guarda, onde apareceu uma estátua loricata, atribuída a Trajano, sinal de centro político e administrativo.
- LANGOBRIGA, oppidum e mansio do Itinerário XVI, talvez localizada no Castro do Monte Redondo em Fiães (Corrêa, 1925; Almeida e Santos, 1971; Mantas, 1996:640-645 e 2012b:197-198); o territorium da civitas era delimitado a sul pelo rio Úl com base no terminus encontrado nas fundações da Igreja Paroquial de Úl. Aqui apareceu também um miliário de Tibério com a indicação de 12 milhas, o que coloca esta estação na Albergaria de Souto Redondo, a 16 milhas de Cale enquanto o Itinerário XVI indica 13 para esta etapa pelo que haveria de admitir um erro de transcrição, confundindo o numeral "XVI" com "XIII", o que é perfeitamente plausível. Langobrica no Ravennatis (Rav. IV.43).
- LATTOBRIGAL, povoado mencionado por Mela (Cor. III, 1, 7) junto do Promontorium Sacro (Cabo de São Vicente) que tem sido associada a Lagos e em particular ao povoado proto-histórico do Monte Molião, onde há abundantes vestígios da Idade do Ferro e Romano (Arruda, 2008).
- LAVARE, povoado localizado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura.
- LAVRENTIUM, povoação referida no Paroquial Suevo que deverá corresponder a Lavra (Matosinhos), possivelmente o nome do proprietário da villa de Fontão de Antela.
- LICINIANA, povoado localizado por Ptolomeu (II, 5) na Lusitânia, ainda sem localização segura.
- LIMIA, estação viária referida no Itinerário XIX, a 19 milhas de Braga, localizada em Ponte de Lima, local de travessia do rio Lima na Ponte Romana que ali existia da qual restam os primeiros 5 arcos da margem direita, construídos com grandes enormes silhares almofadados, alguns dos quais ainda com as respectivas marcas de fórfex; Limea no Ravennatis (Rav. IV.43).
- LONGOBRIGA, vicus localizado em Longroiva (Mêda) com base numa inscrição num altar dedicado a BANDI LONGOBRCV por um tal Quintus Iulius da Legião Equestre VII Gémina, hoje na Capela da Ns. do Torrão (FE 44).
- LORICA, provável nome romano da actual aldeia de Loriga, Seia (Serra da Estrela) embora com base apenas na toponímia.
- MAENOBA, povoação referida por Estrabão (Geo, I, 2, 5) a ocidente de Ossonoba que poderá corresponder à foz do rio Arade, actual Alvor ou a Lagos (Monte Molião). No Papiro de Artemidoro surge também uma referência a uma Ma[inoba] situada a 24 estádios de Ipsa que poderá corresponder a este mesmo lugar (Alarcão, 2010, 117; Bernardes, 2017).
- MADEQUISENSES, povo que ocupava o Castro de Alvarelhos (Trofa) com base numa inscrição encontrada na sua base (em Sobre Sá junto da Quinta do Paiço, actualmente no Museu da Maia), com o epitáfio de Ladronus referindo o Castro Madequisensis, que poderá estar na origem do nome actual da cidade da Maia (Madea > Madia > Maia) (Silva A.C.F., 1980); deveria integrar o grupo étnico dos calleaci.
- MALATECA, mansio do Itinerário XII, provavelmente localizada na actual povoação de Marateca, junto da travessia da ribeira homónima, a 16 milhas de Caetobriga (Setúbal); o povoado romano poderia corresponder ao chamado Castelo dos Mouros, junto do cemitério, onde há vestígios de estruturas romanas, possivelmente da própria mansio; surge na forma «Malabiste» no Ravennatis (Rav. IV.43). A etimologia do nome 'mala-teca' sugere uma origem Céltica com o significado de 'casa num outeiro', em concordância com as características do local (Cf. Curchin, 2007:146).
- MARCIE, estação viária mencionada no Itinerário XIX a 13 milhas de Lugo, possivelmente localizada junto da travessia do rio Gamoira em Vilamaior de Negral.
- MATUSARO, mansio do Itinerário XIV ainda sem localização segura, eventualmente a sul de Arronches no ponto onde a via cruzava o rio Caia num local designado por «Porto do Caia» ou «Porto das Escarninhas». Massusaria no Ravennatis (Rav IV.44). A etimologia do nome 'saro' poderá ser um hidrónimo (Cf. Curchin, 2007:146) pelo que esta poderia ser a antiga designação do rio Caia.
- MENDICULEIA, povoado localizado por Ptolomeu entre os Lusitani (II, 5), ainda sem localização segura (Castro de Vaiamonte?)
- MERIBRIGA, povoado mencionado por Ptolomeu entre os Celtici da Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura.
- MEROBRICA, povoado mencionado por Plínio entre o Tejo e o Cabo de São Vicente (NH, IV, 116) que deverá corresponder à cidade de Mirobriga em «Chãos Salgados», Santiago do Cacém.
- metalli ALBUCRARENSIS, importante mina de ouro e prata referida por Plínio na Galécia (NH, XXXIII, 80) que deverá corresponder à exploração mineira de Las Medulas, atendendo à inscrição dedicada a Júpiter colocada pelo respectivo procurator metalli Alboc(rarensis) (CIL II 2598) encontrada em Priaranza del Bierzo (Ponteferrada, León), cerca de 12 km a nordeste.
- metalli VIPASCENSIS, couto mineiro de Aljustrel, registado na epigrafia como 'coloni metalli Vipascensis' no pedestal da estátua de Berillo, 'procurador diligentíssimo' (IRCP 121), e como 'vico metalli Vipascensis' na famosa placa de bronze achada em 1876 onde é descrito o regime legal que vigorava na exploração mineira de cobre e prata em época romana (ver foto).
- MIRIETANORUM, a Civitas Mirietanorum é apenas referida numa inscrição muito duvidosa que apareceu na Igreja de Sant'Águeda (antiga ermida de São Neutel) e posteriormente encastrada por debaixo da varanda da Igreja da Misericórdia em Vila Nova da Baronia. Apesar de a inscrição não ter sido gravada no período romano é possível que seja uma versão adulterada de um texto genuíno. Deste modo, a Civitas Mirietanorum permanece uma hipótese em aberto. Jorge Feio aponta para o povoado romano de São Romão em Alvito como possível sede (Feio, 2010), mas sem outros dados é apenas uma hipótese.
- MIROBRIGA, nome de três povoações referidas por Ptolomeu, o que dificulta sobremaneira a sua identificação. A primeira na Bética Turdetana (II, 3), junto da fronteira com a Lusitânia, a segunda entre os Oretanos (II, 6), mais para leste, e a terceira entre as cidades celtas da Lusitânia (II, 5). A primeira poderá corresponder a Capilla (Badajoz), onde aparecem duas epígrafes honoríficas mencionando o municipium Flavium Mirobrigensis, junto com outras três inscrições de Mirobrigenses. Capilla era também uma estação do Itinerário 29 de Antonino entre Emerita (Mérida) e Caesar Augusta (Zaragoza).
A segunda Mirobriga estaria mais para leste, já em território Oretano, mas a sua localização permanece desconhecida.
A terceira era um povoado celta situado na Lusitânia e apesar das coordenadas de Ptolomeu a colocarem próximo de Setúbal, a sua localização era bem mais a sul, junto a Santiago do Cacém (Chão de Salgados), atendendo a que aqui foi descoberta uma inscrição do edil e duúnviro Marcellus, indiciando o estatuto municipal da cidade, onde se lê a abreviatura "m. F. M." que poderá ser desdobrada em Municipium Flavium Mirobrigensis (CIL II 25); outra inscrição apareceu a cerca de 4 km de Chão de Salgados, na Herdade dos Francisquinhos, referindo um C(aius) Porcius Severus como Mirobrigen(sis) Celt(icus) (IRCP 152; Quaresma, 2010). Por último temos ainda outra Mirobriga mencionada em cinco términos Augustais encontrados em Yecla de Yeltes, Ledesma, Ciudad Rodrigo (x2) e Salamanca, o que aponta para a localização de uma civitas com este nome a oeste de Salamanca, portanto em pleno território dos Vettones. Esta tem sido identificada com Ciudad Rodrigo, mas na verdade não há até agora confirmação desta localização, sendo mais provável que possa corresponder a um dos castros das proximidades.
- MONTOBRIGA, estação viária do Itinerário XV ainda sem localização segura, mas que poderia estar nas proximidades de Arronches (Portalegre). Em alguns códices surge na forma Mundobrica (B - Parisinus Regius 4807).
- MORON, povoado referido por Estrabão «que se ergue junto do rio Tejo num monte próximo do rio, a 500 estádios de distância do mar» (Geo, III, 3, 1) com um papel fulcral na campanha de Décimo Júnio Bruto em 138 a.C. (Girão & Oleiro, 1953). A distância indicada por Estrabão corresponde a cerca de 92 km, pelo que este povoado poderá corresponder ao sítio arqueológico de Chões de Alpompé, situado num terraço fluvial do rio Tejo, junto da confluência com o rio Alviela, onde há vestígios de acampamento romano sobre anteriores ocupações. O topónimo «Alpompé» poderá ser uma referência ao general Pompeio Magno ou ao seu filho Sexto Pompeio. Também é possível que Moron se localize em Santarém pois apresenta uma localização similar a Alpompé e muitos vestígios de ocupação romana. Seria Moron a antiga designação de Scallabis? Neste contexto notar que no século XV a Quinta da Nossa Senhora da Saúde situada em Assacaia, na planície a norte da alcáçova de Santarém, chamava-se Santa Catarina de Mouram ou de Mourol, possível reminiscência da antiga «Moron» (Beirante 1980:167).
- MYRTILIS, oppidum, sede de municipium e mansio do Itinerário XXII situado na actual vila de Mértola; o estatuto municipal está comprovado através da inscrição honorífica a Caracala pelos Municipii Myrtilensis; figura como Murtili em moedas cunhadas localmente; antigo porto fluvial desde tempos pré-romanos estrategicamente localizada no ponto a partir do qual o rio Guadiana deixava de ser navegável; esta rota comercial permitia escoar as exportações do interior alentejano navegando até à sua foz e daí para os portos mediterrânicos;
Mirtilin no Ravennatis (Rav. IV.43); Myrtilis em Plínio (NH, IV, 116 e 117) e em Mela (Cor. III, 5); referida em Ptolomeu (Geo. II, 4) como
Iulia Myrtilis situada em território Turdetano.
- NORBA CAESARINA, oppidum mencionado por Ptolomeu (II, 5), actual Cáceres. O nome poderá ter origem em Caius Norbanus Flaccus elevado a cônsul no ano 38 a.C. (Tovar, 1976:236).
- NERTOBRIGA, oppidum mencionado por Ptolomeu (II, 6, 57) e Plínio (NH III, 13) que acrescente o cognome de Concordia Iulia; provavelmente situado um pouco a sul de Fregenal de la Sierra (Badajoz), onde o nome a cidade surge na epigrafia (Canto, 1997). Poderá ser esta a 'cidade de Concordia' que foi arrasado pelos romanos no ano 145 d.C. e os seus habitantes cristãos massacrados, dando origem à «Lenda dos Santos Mártires de Concórdia», mas não há certezas.
- OCELUM, povoado localizado por Ptolomeu (II, 5) no território dos Vettones; alguns associam a Ocelo Duri, povoado mencionado no Itinerário 24 de Antonino, a norte de Salamanca. No entanto, no vicus da Quinta de São Domingos, situado no sopé do Santuário Luso-Romano de Cabeço das Fráguas, apareceu uma ara aparentemente colocada pelos vicani Ocelonenses, apesar da degradação actual da inscrição impedir uma leitura definitiva. Assim, é possível que o vicus Ocelona fosse o sucedâneo do povoado indígena de Ocelum localizado no alto de Cabeço de Fráguas (Fernandes et al., 2006; Santos e Schattner, 2010).
- OCULIS, nome referido no Paroquial Suevo que corresponde ao vicus romano localizado em Caldas de Vizela. Oculis Calidarum em documentos de 1014 e 1025. O nome romano poderia ser Aquae Calidae (Alarcão, 2004b); a sua fundação teria sido no século I atendendo a uma inscrição num lintel que passou pela Quinta do Aldão em Azurém (Guimarães) e hoje está no MSMS com o nº 54; é dedicada a Tito Flávio Archelaus Claudianus, possível administrador (legado augustal) da Lusitânia: Dedicavit T(itus) Flavius Archelaus Claudianus / leg(atus) Aug(usti) (CIL II 2408).
- OLISIPO Felicitas Julia, oppidum, actual cidade de Lisboa; sede do municipium Olisiponense, segundo Plínio «municipium civium Romanorum Olisipo, Felicitas Iulia cognominatum» (NH, IV, 117); mansio e caput viarum dos Itinerários de Antonino, para norte rumo a Bracara Augusta, para leste rumo a Augusta Emerita e para sul rumo a Ebora, Pax Iulia e Ossonoba; ara honorífica a Vespasiano descoberta nos alicerces de São Vicente de Fora e colocada pelos habitantes de Felicitas Iulia Olisipo; Ulisippo em Mela (Cor. III, 6), Oliosipon em Ptolomeu (II, 5) e Olisipo Estrabão (Geo, I, 3, 1).
- ONOBA/ ONUBA, cidade portuária, hoje Huelva, mencionada por Estrabão como Onoba (Geo, I, 2, 5) e Plínio (NH, III, 7), Itinerário de Antonino (Iter 23), Anónimo de Ravena (Rav.IV.43) e Ptolomeu como «Onoba Æstuaria» (II, 5); no entanto, a grafia correcta poderia ser ONUBA, conforme se pode ler em alguns numismas.
- OSCELA, nome provável do povoado que existia no Castro de Ossela (Oliveira de Azeméis) com base numa inscrição mencionada por Frei Bernardo de Brito e proveniente do «vale de Ossela» onde leu a abreviatura «oscel.» (Brito, 1609:4). «Osella» num documento medieval do ano 1135 (Monteiro e Sousa, 1972).
- OSSONOBA, oppidum, actual cidade de Faro, mansio do Itinerário XXI de Antonino; sede da Civitas Ossonobensis também mencionada em Mela (Cor. III, 5), Estrabão (Geo, III, 2, 5), Ptolomeu (II, 5) e Plínio (NH, IV, 116); várias inscrições revelam o seu estatuto municipal, duas inscrições colocadas pela res publica ossonobensis, uma dedicada ao imperador Aureliano (IRCP4), e outra dedicada ao imperador Valeriano, (CIL II 1), a inscrição no pedestal da estátua de Felicior, (CIL II 5141), flâmine e duúnviro da Civitas Ossonobensis, a inscrição de Marco Cornelio, flamine provinciae Lusitaniae e patrono da Civitas Ossonobensis (IRCP7); em São Brás de Alportel apareceu o epitáfio de Marinae, uma Ossonobense (CIL II 5142).
- OXTHRACAE, segundo Apiano, seria a maior povoação da Lusitânia (Iberica, 58), mas a sua localização é desconhecida.
- PAX IULIA, oppidum capital do conventus Pacensis, actual cidade de Beja; caput viarum no Itinerário XXI e Itinerário XXII; referida por Plínio (NH, IV, 117) como colonia Pacensis e Ptolomeu (II, 5) como Pax Iulia, integrando-a na lista dos lugares dos Turditani tal como Myrtilis. Estrabão chama-lhe Pax Augusta e indica que foi fundada conjuntamente por Turdetanos e Romanos em território dos Celtici (Geo, III, 2, 15); poderá ser apenas um erro de Estrabão, mas também é possível que o seu nome completo fosse Pax Iulia Augusta. Os vestígios da antiga cidade romana continuam sepultados sobre a cidade actual, mas recentes escavações identificaram o que será o maior templo romano no território nacional. Conhecem-se pelo menos 9 inscrições de pacenses, em particular o pedestal de Marcius Pierus, augustal da Colónia Pacensis e do Município Eborensis.
- PERBRIGAM, oppidum citado no Ravennatis ainda sem localização segura, mas que poderá ser apenas uma diferente grafia de Ierabrigam.
- PETAVONIUM, mansio do Itinerário XVII, também mencionada por Ptolomeu (II, 6) que corresponde ao acampamento militar romano da Legio X Gemina e Ala II Flavia Hispanorum localizado a oeste de Rosinos de Vidriales (Zamora); o povoado indígena deverá corresponder ao vizinho «Cerro del Castro» em San Pedro de la Viña (Martino, 2005).
- PINETUM, oppidum e mansio do Itinerário XVII situada no Castro do Cabeço da Mochicara, junto da aldeia de Vale de Telhas (Mirandela), povoado situado a 20 milhas de Chaves onde apareceu uma ara dedicada a Júpiter pelo cidadão romano Publius Aelius Flaccinus, sinal de algum estatuto administrativo sobre este território, possivelmente como sede de civitas; Pinetus em Ptolomeu (II, 6).
- PLAGIARIA, mansio comum ao Itinerário XIV e XV localizada no sítio romano de Pesquero em La Novelda del Guadiana, a 30 milhas de Mérida (Corrales 1987:104). Plagearia no Ravennatis.
- PONTE NEVIAE, estação viária mencionada no Itinerário XIX a 12 milhas de Timalino possivelmente localizada junto da travessia do rio Navia, no sugestivo topónimo A Ferrería, em As Nogais, onde haveria ponte romana (sem vestígios).
- PRAESIDIO, mansio do Itinerário XVII a 46 milhas de Braga; a sua localização permanece insegura, mas a distância a Braga sugere que esta estação viária estaria adiante de Pisões (Montalegre), junto da Cruz de Leiranque, local hoje submerso, onde apareceu o miliário que actualmente está no largo da aldeia de Viade de Baixo. O topónimo sugere algum tipo de assentamento militar, eventualmente uma statio para controlo da via. No entanto, a mansio poderia estar duas milhas mais adiante no sítio da Leiras de Padrões (milha 48), situado na bordadura da albufeira, a sul Penedones, local onde apareceram vestígios de estruturas e de outros materiais romanos compatíveis com uma estação viária.
- ROBORETUM, mansio do Itinerário XVII que deverá corresponder ao vicus da Torre Velha em Castro de Avelãs (Bragança).
- RUSTICANA, povoado localizado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5), o mesmo que a Rusticiana referida no Itinerário de Antonino a 42 milhas a norte de Cáceres (na rota 24 de Emerita a Caesaraugusta,), provavelmente localizada próximo da Fuente del Sapo entre Galisteo e Riolobos no Cerro de las Brujas (Roldán Hervás, 1971:86-87).
- SALACIA Imperatoria, oppidum sede de civitas, mansio do Itinerário XII que corresponde a Alcácer do Sal; mencionada por Plínio como Salacia Vrbs Imperatoria (NH, IV, 116), mas também em Mela (Cor. III, 6), Estrabão (Geo. I, 3, 1) e Ptolomeu (II, 5), enquanto no Ravennatis (Rav. IV.43) aparece na variante Salatia; o estatuto municipal é atestado por várias epígrafes honoríficas a magistrados, os duúnviros Iunio Philoni (IRCP 186) e Porcio Himero (CIL II 34), e do flâmine provincial Cornelio Boccho (CIL II 2479). Na Capela de São João dos Azinhais em Torrão apareceu uma inscrição a Júpiter por Flavia Rufina, natural de Mérida, flâmine da província Lusitânia assim como perpétua da Colónia Emeritense e do Município Salaciense, hoje no Museu de Évora (CIL II 32); moedas cunhadas no séc. I a.C. ostentam a legenda IMP SAL, comprovando o seu nome romano ("Alcácer do Sal ao Tempo dos Romanos"; Faria, 2002).
- SALACIA, mansio do Itinerário XVII, localizada a 20 milhas de Braga que deverá corresponder ao Castro de Vieira do Minho.
- SALANIANA, mansio do Itinerário XVIII localizada a 21 milhas de Braga, distância que coloca esta estação junto a Travassos (Vilar, Terras de Bouro), também referida no Ravennatis (Rav. IV.45).
- SALLAECUS, oppidum mencionado em Ptolomeu na Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura. Em algumas cópias surge também nas formas Salaecus, Salecus e Isalaecus. Hipoteticamente localizado no povoado de «Outeiro dos Castelinhos», próximo da aldeia do Rosário no Alandroal. A etimologia de «sal» remete para um 'curso de água' (Curchin, 2007:150), eventual referência à ribeira de Lucefécit que margina o povoado.
- SALMANTICA/ SALMANTICE, importante cidade romana, actual Salamanca, referida por Plutarco e Ptolomeu (II, 5) como uma das cidades dos Vetões.
- SARAPIA/ SERAPIA / RARAPIA, diferentes grafias de uma povoação na estrada de Évora a Faro, provavelmente situada na actual povoação de Alvalade.
- SCALLABIS, oppidum sede do conventus Scallabitanus e mansio do Itinerário XVI situada na actual cidade de Santarém. Também mencionada por Plínio com o cognome de Presídio Júlio («quae praesidium Iulium vocatur»; NH, IV, 117) e por Ptolomeu como Skalabis Colonia (II, 5) e em algumas traduções como Scalabiscus (por ex. no «Geographia Cl. Ptolemaei Alexandrini Olim a Bilibaldo Pirckheimherio traslata» de 1562). Aparece ainda no Chronicon de Idácio de Chaves (ca. 395 –d. 468) como Scalabim. A epigrafia corrobora o seu estatuto administrativo, em particular uma inscrição honorífica no pedestal da estátua de Aponius Capito, duúnviro e praefecto fabrum flamini coloniae Augustae, proveniente do demolido Convento de São Domingos (RAP 546), e uma inscrição honorífica encontrada em Alcácer do Sal, colocada pelos habitantes da Colonia Scallabitana e dedicada a Cornelius Bocchus (CIL II 35), tribuno militar e flâmine provincial. Há também inscrições funerárias de veteranos da VII Legião Gémina Félix naturais de Scallabis em Tarragona (AE 1987, 736) e Lambaesis (Numídia, Argélia), indicando que pertenciam à tribo Sérgia, assim como um soldado da VI coorte pretoriana em Roma (CIL VI 2614) (vide Encarnação, 2017).
- SEGOABONCA/ SANGOABONIA, possíveis designações do vicus localizado em torno da Capela de São Brás na Quinta do Campo (Coriscada, Mêda), com base numa
ara consagrada a Júpiter pelos Vicani S[?]/goaboaic(enses), actualmente no Museu da Guarda.
- SEILIUM, estação do Itinerário XVI também referida por Ptolomeu (II, 5), provavelmente situada na actual cidade de Tomar, junto da importante travessia do Rio Nabão, ou oito milhas mais a norte junto da ribeira de Ceras. Selio no Paroquial Suevo. Terá sido elevada a municipium na era Flaviana, com base numa inscrição votiva ao Genio Municipi(i) que apareceu reutilizada na construção da torre de menagem do castelo templário; marcas de oficina em tijolos com as iniciais "R. p. S." foram desdobradas em R(es) p(ublica) S(eiliensis) (Fernandes & Ferreira, 2002);
Forum nas traseiras dos Bombeiros;
inscrição a Nerva (CIL II 4961); há dúvidas na grafia do nome da cidade pois aparece como «Sellium» no Itinerário de Antonino e em Ptolomeu (II, 5), mas as referências a cidadãos Seilienses noutras paragens sugerem que a grafia seria mesmo Seilium, em particular no epitáfio de Gaio Valerius do Mosteiro de Lorvão (Coimbra) hoje no MNA, e o epitáfio de Caius Rufinus (CIL II 2562) da Iglesia Paroquial de Queiruga em Porto do Son (Galiza), embora neste caso se leia Seilense e não Seiliense. Ver também Silva, 1988; Mantas, 1989; Ponte, 1995; Fernandes, 1996; Romão, 2012.
- SELIOBRIGA, topónimo referido num documento do ano 907 como «Sancto Martino de Seliobria» (PMH DC 15) que, segundo Jorge de Alarcão, corresponde ao povoado de São Martinho de Pedrulhais em Sepins (Cantanhede) (Alarcão, 2004c), ocupando um planalto conhecido por «Chãs da Ventosa», cerca de três milhas a poente da via Aeminium-Cale.
- SENTICE, estação viária situada a sul de Salamanca mencionada no Itinerário 24 de Antonino que poderá corresponder aos vestígios descobertos na «Finca de Dueña de Abajo» ou «de Dueña Chica» em Pedrosillo de los Aires; a sua designação poderá ter origem no termo Celta 'sento' que significa "o caminho" (Curchin, 1997:274), nome assaz adequado a uma estação viária.
- SERIA Fama Iulia, civitas mencionada em Ptolomeu na Bética (II, 5) e por Plínio que adiciona o cognome de Fama Iulia («Seriae adicitur Fama Iulia», III,3); mencionada também no Ravennatis na sequência «Arucci, Fines, Seria». Ainda sem localização segura, mas tradicionalmente associada a Jerez de los Caballeros onde apareceu o epitáfio do seriense Modestus.
- SERPA, mansio do Itinerário XXI de Antonino que corresponde à povoação actual de Serpa; aqui existia um povoado da Idade do Ferro, ao qual sucedeu um aglomerado secundário tipo vicus, que integraria o território Pacense. Um numisma com a legenda «SIRPENS» tem sido associado a esta povoação, no entanto, a moeda apareceu num lugar muito afastado de Serpa, 70 km a leste de Sevilha, no lugar de Lentejuela, colocando sérias dúvidas nesta associação que ademais obrigaria a corrigir o topónimo original para Sirpa. A única referência epigráfica a Serpa foi fornecida por André de Resende que transcreve no século XVI uma inscrição contendo o epitáfio da Serpensis Fabia Prisca (Resende, 1790; CIL II 971), entretanto perdida, mas a sua veracidade tem sido posta em dúvida. Apesar destas dúvidas, a sua identificação com a Serpa actual é praticamente consensual.
- STATIO SACRA, povoação romana mencionada no Ravennatis (Rav. IV.43) ainda sem localização segura. O nome statio sugere uma estação viária com posto policial. Em 1877 Estácio da Veiga propôs a sua localização na Quinta do Marim em Olhão, hipótese rejeitada por estudos subsequentes (Graen, 2007); outros apontam para Moncarapacho (Fraga da Silva, 2007), outros para a villa de Milreu (Mantas, 2008:247). Outra possibilidade seria a estação viária do Cerro da Mesquita (act. 2021).
- TALABARA, possível nome de um vicus a partir da leitura duvidosa de Hübner de uma inscrição rupestre funerária descoberta em Capinha (V(ico) (Tal)bara), actualmente no Museu Tavares Proença Júnior em Castelo Branco; Alarcão propôs a sua localização em Alpedrinha, onde comprovadamente existia um vicus (Alarcão,1988b) e mais recentemente surgiu a hipótese do vicus da Quinta de Ervedal, em Castelo Novo; outra possibilidade seria uma das várias Talaveras que existem em território espanhol (Carvalho e Encarnação, 1994), mas a dúvida permanece.
- TALABRIGA, estação do Itinerário XVI localizada nas proximidades do rio Vouga, mas ainda sem localização segura (Silva, 2015), Uns apontam para Branca (e.g. Pereira, 1907; Arêde, 1938; Baptista, 1948a), outros para o Cabeço do Vouga ou Monte Marnel, a civitas marnele da documentação medieval (DC 819) (e.g. Madahíl, 1941, Souto, 1941; Oliveira, 1938
e 1943, Baptista, 1948a, Alarcão, 1988b:45 e 2004:327) Seabra Lopes, 2000a e 2000b), e ainda outros apontam para Cristelo (Mantas, 1990:225-6; 1996:630-40; 2012b:192-7). No entanto, segundo as distâncias indicadas no Itinerário a sua localização poderia ser no Castro da Ns. do Socorro, 6 milhas a norte do Vouga, sobranceiro a Albergaria-a-Velha, perfazendo as 40 milhas a Coimbra, como sugerido inicialmente por Costa Veiga (Oliveira, 1943: 61-62). João de Almeida refere a existência de um castro "luso-romano" (Almeira, 1948:46), mas até hoje não há registo de qualquer vestígio de povoamento no local. O seu território seria delimitado pelos termini augustales de Úl e Guardão, fazendo fronteira respectivamente com as civitates dos Turduli Veteres com sede em Langobriga (Castro de Fiães), e dos Interannienses, povo com eventual sede em Viseu. No Ravennatis surge numa sequência muito similar ao Itinerário, embora na grafia Terebrica (Rav. IV.43). Também Ptolomeu refere o topónimo Talabriga na Lusitânia (II, 5), no entanto, a coordenada indicada não permite a sua associação ao rio Vouga, apontando antes para um ponto algures a noroeste de Coria (Espanha), sugerindo a existência de várias povoações homónimas. Do mesmo modo, a referência de Apiano de Alexandria à conquista de "Talábriga" pelo general Decimus Iunius Brutus no século II a.C., aponta para a sua localização entre os rios Lima e Minho, portanto já fora dos limites da Lusitânia (Gomes, 2017:74). A epigrafia parece confirmar esta outra Talábriga, dado que na Igreja Paroquial de Estorãos (Ponte de Lima) apareceu uma ara colocada por uma Talabrigense (Neves, 1949), actualmente no MNA. A sua filiação no povo Limici é por sua vez atestada pelo epitáfio de Anceitus, 'Límico do castelo Talabriga', que apareceu em «El Repilado» (Jabugo, Huelva), não muito longe das Minas de Rio Rinto, onde aliás apareceu um outro epitáfio de um Talabrigense de nome Fuscus Fucini (Luzon, 1975). A dispersão geográfica destas referências não permite tirar conclusões definitivas, podendo estas epígrafes não ter qualquer relação com a Talabriga junto ao Vouga (Silva, 2015). Por fim, uma duvidosa inscrição transmitida pelo Fr. Bernardo de Brito no «Monarchia Lusytana», refere também a Cohors Talabrigensis (Brito, 1597:519) num grupo que inclui a coorte de Aeminium, o que permite a sua associação à Talabriga do Vouga (act. 2024).
- TAMEOBRIGA, possivelmente localizada no Castelo de Baixo/Castelo de Fornos, povoado proto-histórico na margem esquerda do rio Douro (Castelo de Paiva), com base numa inscrição votiva romana dedicada a divindade local Tameobrigus (CIL II 2377) que apareceu na base do povoado e actualmente no MSMS, nº 14). A sua localização e topónimo sugerem uma relação com rio Tâmega que em período romano poderia ser designado poe Tameo ou Tameco. Na outra margem do rio Douro viria a formar-se um pequeno povoado romano, actual Várzea do Douro, estação viária relacionada com esta travessia.
- TIMALINO, estação viária mencionada no Itinerário XIX a 22 milhas de Lugo, possivelmente localizada junto do cruzamento do rio Neira em Baralla.
- TONGOBRIGA, oppidum situado na actual aldeia de Freixo (Marco de Canaveses) com base numa ara dedicada ao Genius Toncobricensium que apareceu no local (Dias, 1997); importante nó viário, articulando as vias N-S rumo ao rio Douro com uma via E-O de ligação a Cale; mencionada no século VI no Paroquial Suevo como 'Tongobria'; deverá corresponder a Tuntobriga, povoação referida por Ptolomeu entre os rios Douro e Minho, integrando o território dos Callaeci Bracari (II, 6); ver sítio oficial da
Estação Arqueológica do Freixo.
- TUBUCCI/ TABUCCI, mansio do Itinerário XV situada a 32 milhas de Santarém tradicionalmente associada a Abrantes. No entanto, a sua localização mais provável seria junto do nó viário conhecido por Venda das Mestas (Casal de Tamazim, Bemposta, Abrantes). Admite-se que seja a mesma mencionada por Ptolomeu (II, 5) como Tacubis ou Tabuci (consoante os manuscritos), mas totalmente omissa na epigrafia com a excepção de uma inscrição muito duvidosa publicada por Fr. Bernardo de Brito na «Monarchia Lusytana», referindo o Oppidum Tubucci (Brito, 1597:550)
- TUDAE, oppidum e mansio do Itinerário XIX, actual cidade de Tui, na fronteira luso-espanhola; mencionada por Ptolomeu na grafia Tuda, integrando o território dos Gruiori (II, 6). Tude no Ravennatis (Rav. IV.43).
- TURMOGUM, oppidum localizado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5) que deverá corresponder à mansio de Turmulos ou Turmulus mencionado no Itinerário 24 de Emerita a Caesaraugusta, 20 milhas a norte de Cáceres, junto da travessia do rio Tejo (Roldán Hervás, 1975:274).
- TURRES ALBAE, povoado mencionado por Ptolomeu entre os Celtici da Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura. No original em grego lê-se Pyrgoi leukoi, levando Jorge de Alarcão a sugerir a sua localização em Tróia (Alarcão, 2012). Poderia, no entanto, corresponder ao Castelos de Monte Novo (São Manços, Évora), povoado proto-histórico também conhecido por 'Cidade dos Cuncos' (?).
- TUROBRIGA / TURUBRIGA / TURIBRIGA, Torobriga é mencionada por Plínio entre as civitates da Baeturia Celtica hipoteticamente localizada junto da actual Ermida de San Mamés (Llanos de la Belleza), três 3 km a norte de Aroche; várias inscrições testemunham a existência desta civitas nas formas Turubriga e Turibriga, mas nenhuma delas apareceu no povoado. Em território nacional, temos o epitáfio de um Turobrigense em Corte de Messangil (Serpa), a inscrição da Quinta do Marim em Quelfes (Olhão) onde se lê «Turubri...» e a ara votiva à Deae Sanctae colocada pelo Turubrigense Lucius Axonius encontrada talvez em Quintos (Beja), uma das muitas epígrafes dedicadas à Deae Sanctae Ataecina Turibrigensi (actualmente contam-se cerca de 36 em toda a Hispânia), indiciando a existência de um santuário dedicado a esta divindade celta.
- TUROQUA, estação viária mencionada no Itinerário XIX localizada junto da travessia do rio Leréz em Pontevedra. Na área apareceram três miliários, em 1988 o miliário de Adriano, indicando 96 milhas a Lugo (lê-se ainda «L. Aug. m.p. LXXXXVI»), em 2006, o miliário de Maximino Daia, e em 2007 o miliário de Nerva; há ainda outro miliário de Adriano que apareceu reutilizado como pedra de lagar no lugar da Almuíña, indicando 95 milhas a Lugo.
- TURRIS ARANIS, possível designação do vicus da Vila do Torrão proposta por Jorge Feio com base numa inscrição tardo-romano que apareceu na Igreja de São João Baptista dos Azinhais, antiga villa ou templo romano, situado a sul da vila; a inscrição que reaproveita uma antiga ara romana assinala a consagração deste local de culto aos Santos Mártires Justo e Pastor no século VII ou VIII; no frontão desta ara pode ler-se um monograma que foi interpretado como B(asi)L(ica) ARANA, o que levanta a hipótese de o povoado que existia no Torrão se chamar Aranis, sendo a palavra Torrão derivada do seu nome completo como Turris Aranis (Feio, 2010); neste local apareceu também uma ara ou pedestal com uma dedicatória a Júpiter colocada pela Emeritense Flavia Rufina, flaminica da província Lusitana, perpetua da colónia Emeritensis e do município Salaciensis (CIL II 32; IRCP 183); vide também Arandis
- UTTARIS, estação viária mencionada no Itinerário XIX, possivelmente localizada junto da Capela de Ruitelán em Vega de Valcarce.
- VACCA/VACCUA, possíveis designações do assentamento do Cabeço do Vouga/Monte Marnel, junto do local onde a estrada Porto-Coimbra cruzava o rio Vouga com base nos nomes antigos atribuídos ao rio Vouga, Vaccua em Estrabão (Geo. III, 3, 4), Vacca em Plínio (NH. IV, 35) e Vacus em Ptolomeu (Geo. II, 5).
O Frei Bernardo de Brito refere uma inscrição proveniente do Vale de Ossela, assinalando a presença de coortes da Légio X Fretense nos praesidia de «VACE OSCEL LANCO CALEN AEM» (Brito, 1609:3). A inscrição foi considerada como mais uma invenção de Brito, mas em suporte da sua veracidade, temos uma inscrição de um tribuno desta legião, de nome Avitus, em Idanha-Velha, atestando a sua presença em território nacional, e o mesmo autor refere uma outra inscrição proveniente de Conímbriga, hoje perdida, que mencionava um seu centurião (Brito, 1609:4). Surpreende a inclusão das iniciais VACE na lista de nomes dos povos da região, sugerindo a existência de uma oppidum sede. Os restantes não suscitam grandes dúvidas, referindo-se aos Oscelenses (Castro de Ossela), Langobrigenses (Castro do Monte Redondo), Calenienses (Porto) e Aeminienses (Coimbra) (Figueiredo, 1886; Souto, 1941; Baptista, 1950).
- VAGORNIA, provável designação do vicus referido em uma ara dedicada a Júpiter pelos vicani Vagornicensis, achada no sítio da Cortinha do Fundo em Fiães (Valpaços), hoje no Museu da Região Flaviense em Chaves; variantes Lavagornia/Lovagornia/Tovagornia.
- VALABRIGA, provável designação do vicus de Perrelos, na base do Castro de São Miguel-o-Anjo (Delães, Vila Nova de Famalicão), dado o achamento de uma inscrição dedicada à divindade Brigus por voto de um Valabrigensis nesse local (CIL II 5561), hoje no MSMS com o nº 24; o topónimo surge ainda numa inscrição funerária encontrada na villa da Quinta do Avelar em Adaúfe (Braga), o epitáfio de Bloena, também no MSMS com o nº 92.
- VELLADIS, povoado localizado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5), ainda sem localização segura.
- VENIA/ VIVENIA, prováveis designações do vicus dos vicani Veniensis referidos numa ara consagrada ao imperador Trajano achada em Meimoa (Penamacor); o vicus deverá corresponder aos importantes vestígios do Sítio da Canadinha na confluência do ribeiro da Queijeira com a ribeira de Meimoa, logo após a travessia desta na Ponte Filipina, junto da via para Igaeditana pelo que aqui poderia existir uma mutatio. (Curado, 1979; Carvalho, 2002).
- VENIATIA, mansio do Itinerário XVII situada a 67 milhas de Astorga, provavelmente localizada nas proximidades de Villanueva de Valrojo.
- VENOBRIGA, provável designação de um povoado romano com base no topónimo Venobria mencionado na «Carta do Couto do Mosteiro de Santo André de Ancede» do ano 1141; António Lima sugere a sua associação ao microtopónimo Viombra próximo da Quinta de Esmoriz em Ancede, onde há vestígios romanos (Lima, 2014).
- VERURIUM, povoação ainda sem localização segura mencionada por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5), próximo de Coimbra. Poderá corresponder ao povoado proto-histórico de Antanhol (?), junto da via Aeminium-Conimbriga, onde se viria a instalar um acampamento militar romano.
- VISSAIUM, provável designação do oppidum situado na actual cidade de Viseu com base numa ara votiva achada em 2009 na necrópole da Porta de Cavaleiros, onde se menciona a divindade local VISSAIEIGUS (Fernandes et alii, 2009).
POPULI
Povos em Época Romana
Os principais povos que habitavam o território nacional ou na sua fronteira são mencionados tanto nas fontes clássicas como em diversas inscrições. O termo «povo» tem aqui um carácter lato que comporta várias tipologias e poderá representar tanto uma pequena população de carácter tribal e confinada a um pequeno território, quer o nome de
populi ou
civitates que dominam toda uma região, partilhando afinidades étnicas ou territoriais, pelo menos ao olhar do invasor; esta organização administrativa do território em época romana está na origem dos actuais municípios. Segue-se a lista alfabética desses povos com breves apontamentos sobre a sua localização.
- ADDOUIENSES, povo apenas mencionado numa inscrição (HEp 3, 1993, 466 = AE 1987, 587), encontrada em Mogadouro (Bragança).
- AEMINIENSES, povo mencionado por Plínio (NH, IV, 118) com capital em Aeminium, actual Coimbra.
- ARABRIGENSES, povo ainda sem localização segura mencionado por Plínio entre as civitates estipendiárias da Lusitânia (NH, IV, 118) e também na inscrição da Ponte de Alcântara. Por sua vez, o término de Goujoim, indica que ocupariam, grosso-modo, o actual concelho de Moimenta da Beira. A inscrição funerária de uma Arabrigensis de nome Crispa apareceu no sítio de «El Gallego», 7 km a sul de Rosal de la Frontera, e outra terá aparecido em Coria, embora de leitura muito duvidosa (perdida).
- ARANDITANI, povo mencionado por Plínio na Lusitânia (NH, IV, 118); ver Arandis.
- ARAVI, povo que habitava a região do actual concelho da Mêda, com capital em Marialva; na inscrição da Ponte de Alcântara aparecem como Arani, talvez devido a um erro na transcrição do monumento original feita no século XIX.
- ARAOCELENSES, povo referido em uma inscrição honorífica encontrada em São Cosmado perto de Mangualde, colocada pelos habitantes do castellum Araocelensis que poderá ser o nome do povoado do Monte da Sra. do Castelo em Mangualde.
- ALBOCELENSES, povo referido em uma inscrição que apareceu em Miranda de Azán, ligeiramente a sul de Salamanca; trata-se do epitáfio da Albocolense Amma, esposa do Flaviense Cassius Vegetus de origem celta (CIL II 880). A capital poderia ser Albocela, povoado referido por Ptolomeu entre os Vaccaei (Geo, II, 6) e no Itinerário XXIIII entre Mérida e Zaragoza (IA, 434, 7). A sua localização permanece incerta, mas tem sido colocada em Villalazán ou em Toro (a este de Zamora, junto do rio Douro). Em Valongo, encastrada na parede exterior da Capela de São Bartolomeu de Susão, há uma ara onde se lê ALBOCO na primeira linha (RAP 6), que poderá ser a contracção de Albo Celo, divindade identificada em uma inscrição na Igreja Paroquial de Ns. da Assunção em Vilar de Maçada (Alijó) (CIL II 2394b) que também poderá estar relacionada com a mesma divindade eventualmente relacionada com os Albocelenses.
- ARBUENSES, povo referido em um inscrição aos Lares Couticivi encontrada em São João da Fresta (Mangualde).
- ASSANIACENSES, povo mencionado em uma inscrição achada em Numão que assinala a construção de uma via (Assaniacenses viam fecerunt).
- AOBRIGENSES/ AULOBRIGENSES/ AVIOBRIGENSES, diferentes propostas para o nome de um povo mencionado no «Padrão dos Povos» como uma das civitates dependentes de Aquae Flaviae; Tranoy leu Avobrigensis (Tranoy, 1981:63) mas Vasco Mantas e Alarcão preferem a variante Aulobrigensis; no entanto, existe uma inscrição nas traseiras da Igreja de Fermedo (Arouca), com o epitáfio do Aviobrigense Laetus Caturonis; ver foto.
- BANIENSES, povo mencionado na inscrição da Ponte de Alcântara possivelmente ocupando o Vale da Vilariça em Torre de Moncorvo, com base numa ara dedicada a Júpiter e à «CIVITATI BANIENSIV» por Lucius Basus encontrada nas ruínas da capela de São Mamede/Mesquita perto de Adeganha. Existe também uma possível referência a este povo numa inscrição rupestre em Penela da Beira onde se lê TVROS / BANIE(n)SV(m) (Carvalho, 1989:78). A localização do oppidum mantém-se incerta, com as propostas a oscilarem entre o Povoado do Baldoeiro em Adeganha, o sítio do Chão da Capela em Junqueira, a Vila Morta em Sta. Cruz da Vilariça (Lemos, 1993) e o núcleo de povoamento formado pela Quinta da Terrincha e Olival das Fragas, na base do povoado da Senhora do Castelo (Garibo Bodí e Pereira, 2014:545-550); na outra margem, na Quinta de Vila Maior em Cabanas de Baixo, existe um outro povoado romano que poderá corresponder a um vicus, dado que aqui apareceu uma ara dedicada a Júpiter pelos Vicani ILEX[---]; (FE 75; Lemos, 1993); nesta área apareceram também 17 estátuas zoomórficas, em particular no sítio do «Olival dos Berrões», atestando a sua afiliação aos Vettones.
- BIBALI, povo mencionado por Plínio (NH, III, 28) integrando o conventus Bracarensis, provavelmente na área de Chaves pois este mesmo povo é mencionado no «Padrão dos Povos»; segundo Ptolomeu (II, 6), a sua sede seria designada por Forum Bibalorum, possivelmente localizada no Castro de San Cibran de Las Casas em San Amaro (Fonte, 2006).
- BRACARI, povo com capital em Bracara Augusta, hoje Braga. Os Callaeci Bracari segundo Ptolomeu (II, 6).
- CALLAECI, povo mencionado por Plínio (NH, III, 28) ocupando muito provavelmente o território delimitado pelo rio Douro a sul, o rio Ave a norte, o Atlântico a poente e o rio Sousa ou o rio Tâmega a nascente; na Capela de Santa Comba (Sobreira, Paredes), numa área de exploração mineira, apareceu uma ara dedicada à sua divindade tutelar Calaicia; a capital poderia estar em Cale ou num dos castros mais centrais desse território como o Castro do Muro em Vandoma. Regista-se o nome Caellaecus em uma inscrição proveniente de Torrejón del Rey (Guadalajara).
- CALUBRIGENSES/ ABIANIENSES, povo mencionado na inscrição da estátua de guerreiro encontrada em Santa Comba (Refojos de Basto, Cabeceiras de Basto), provavelmente proveniente do povoado fortificado homónimo; o nome do povoado tanto poderia ser Calubriga como Abianium ou Abiania (Redentor, 2008).
- CELTICI, povo mencionado por Ptolomeu na Lusitânia (II, 5).
- COBELCI, povo com capital em Torre das Águias, Almofala (Figueira de Castelo Rodrigo); os Cobelci aparecem em várias inscrições como o
ex-voto de Flacci em Marialva,
epitáfio de Modestus em Barca Dalva e
epitáfio de Martialis em Mérida.
- COELERNI, povo mencionado no «Padrão dos Povos» e em Plínio (NH, III, 28); possivelmente associado a Castromao (Celanova, Galiza); há notícia de um numisma com a inscrição ÆL. MUNICIP. COEL. (Argote, 1732:318)
- COLARNI, povo mencionado na inscrição da Ponte de Alcântara e por Plínio (NH, IV, 118); ver Colarnum.
- CRONISENSES, com base em uma inscrição votiva encontrada na Quinta da Barreira em Zebras (Orca, Fundão) dedicada à divindade Arentio Cronisensi (RAP 16).
- ELBOCORI, povo mencionado por Plínio na Lusitânia (NH, IV, 118) e cuja sede é designada por Ptolomeu como Elbocoris (Geo, II, 5). Desconhecemos a sua localização exacta, mas, seguindo a coordenada Ptolemaica, é possível que estivesse localizada a leste de Tomar. Jorge de Alarcão propôs a sua associação a Bobadela (Oliveira do Hospital) (Alarcão, 2006), no entanto, a coordenada parece apontar antes para o Castro de São Miguel de Amêndoa, povoado da Idade do Ferro junto de um importante nó viário.
- EQUAESI, povo mencionado por Plínio (NH, III, 28) e no chamado «Padrão dos Povos» ainda sem localização segura.
- FIDUENAE, possível nome dos habitantes da Citânia de Sanfins com base numa inscrição votiva num penedo nas proximidades do castro, conhecido por «Penedo das Ninfas» (CIL 5607).
- GROVI, povo referido por Mela (Cor. III, 7) ocupando um território a norte do Douro próximo do Atlântico, e por Plínio entre os povos sobre a alçada de Bracara Augusta: conventus bracarum, Heleni, Grovii, Castelum Tyde» (NH, IV, 112) sugerindo, portanto, uma localização a norte do Braga e próximo de Tui e do rio Minho. Em Vila Mou (Viana do Castelo), apareceu uma ara votiva dedicada a Júpiter colocada por Rufus Grovius enquanto outra apareceu reutilizada na muralha de Coria, datada do século I d.C., contendo o epitáfio de Bassus um emigrante Grov[i]us (TRANOY, 1981:373).
- IGAEDITANI, povo mencionado na inscrição da Ponte de Alcântara e nos términos Augustais de Salvador e Pêro Viseu, centrados em Igaeditana, actual Idanha-a-Velha. No entanto, o povoado indígena poderá corresponder ao castro da Idade do Ferro chamado «Cabeço dos Mouros», localizado a cerca de 4 km da aldeia, num meandro do rio Ponsul junto da actual albufeira da barragem Marechal Carmona.
- INTERANIENSES, povo mencionado por Plínio (NH, IV, 118) sem localização segura; aparecem emigrantes Interanienses em Idanha-a-Velha (epitáfios de Vegeto e Amoena) e muitos outros em Mérida.
Uma tégula com a inscrição [...]ERRUS / [...]NIENSIS, achada na villa da Quinta do Prado e hoje no Museu da Guarda, poderá também referir este povo, mas é possível uma outra leitura, como, por exemplo, os Banienses.
- LABARENSES, povo mencionado em uma inscrição proveniente da Senhora da Moita em Galega, Mação (FE 638), possivelmente os habitantes de um vicus designado por Labara. Eventualmente poderá corresponder ao povoado de Lavare mencionado por Ptolomeu (II, 5).
- LANCIENSES OPPIDANI, povo mencionado na inscrição da Ponte de Alcântara, ocupando talvez a região a leste de Penamacor com base nos «termini augustales que apareceram em Salvador e Pêro Viseu, marcado a fronteira inter Lancienses et Igaeditani, estes últimos com sede em Idanha-a-Velha (Carvalho, 2005); sendo vizinhas, não surpreende o aparecimento na aldeia de três inscrições funerárias de Lancienses Oppidani em Igaeditana - o epitáfio de Lucrio, epitáfio de Albinus e o epitáfio de Aunia; há registo de outros emigrantes Oppidani em Cáceres (Taltico em Nuñomoral; Dutia em Villamiel) e Mérida. Ricardo Belo leu na última linha do miliário de Tácito de Lameiras a abreviatura «II L. O.» que poderia ser interpretada como «2 milhas a L(ancia) O(ppidana), distância compatível com um caput via localizado em «Centum Cellas» que fica aproximadamente a essa distância (Belo, 1960:41-44); Amílcar Guerra defende esta possibilidade (Guerra, 2007a:161-206), mas o local não apresenta vestígios pré-romanos nem as típicas características de povoado indígena. Nesse sentido, a proposta de localização de Lancia Oppidana em Sortelha Velha por Mário Saa é mais credível (Saa, 1964) e mais de acordo com o que seria expectável de um povoado Vetão.
- LANCIENSES TRANSCUDANI, povo mencionado na inscrição da Ponte de Alcântara mas ainda sem localização segura (ver Alarcão, 2001b), mas é muito provável que ocupassem o planalto da actual cidade da Guarda, com sede no Castro de Castelos Velhos, na base do qual se viria a desenvolver um vicus romano de Póvoa do Mileu, área actualmente ocupada pela Capela da Senhora do Mileu (Carvalho, 2005); em Vila Fria (Felgueiras) apareceu uma lápide sepulcral de um Lanciense Transquadani e em Mérida uma ara votiva do transcudano Arri Reburri (CIL II 5621).
- LAPPIOPPENSES, povo mencionado na estela funerária de Cloutus, achada em São Cosme do Vale (Vila Nova de Famalicão), mas ainda sem localização segura; em Tarouquela (Cinfães), na margem do rio Douro, existe uma inscrição a Mirobieus colocada pelos [---]apiobicensis, possível referência a este povo.
- LEUNI, povo mencionado por Plínio (Plínio IV, 112) localizados talvez no baixo Minho, num território que chegava ao mar.
- LIMICI, povo mencionado no «Padrão dos Povos», assim como por Plínio (NH, III, 28) e Ptolomeu (II, 6), possivelmente ocupando a região do Alto Lima na Galiza. A sua capital seria Forum Limicorum, situada talvez em Xinzo de Limia (Ourense).
- LUANCI, povo ainda sem localização segura mencionado por Ptolomeu que indica Merua como a sua capital (II, 6).
- LUBAENI, povo ainda sem localização segura mencionado por Ptolomeu (II, 6) que indica Cambaetum como a sua capital; o seu território poderia abranger a região entre os rios Cávado e Lima (Alarcão, 2001a).
- MEIDUBRIGENSES, povo mencionado por Plínio como «Medubrigenses qui Plumbari», ou seja, «exploradores de chumbo» (NH, IV, 118) e na inscrição da Ponte de Alcântara. Uma referência no «De bello Alexandrino», menciona o ataque de Q. Cássio Longino a Medobriga (Hirtius, 48, 2) que poderá corresponder à sede deste povo (Alarcão, 2005b:11; Mantas, 2012c:12); há também registo de emigrantes Meidubrigenses em Capinha (na Quinta de São Pedro, epitáfio de Hispanus) e em Lamego (epitáfio de Boutia). A localização do seu território mantém-se incerta, mas tem-se apontado a área de Freixo de Numão, com sede, segundo alguns no Castro romanizado de Ranhados (Cortez, 1953), outros no Castelo de Numão ou no Castro do Castelo Velho em Freixo de Numão (Alarcão, 2005b), apesar de estes últimos não apresentarem ocupação romana. A esta lista poderia acrescentar-se o Castro do Monte Meão, onde foram encontrados vestígios desse período, povoado associado à travessia do rio Douro na Barca do Pocinho.
- MIROBRIGENSES, povo mencionado em diversas inscrições, uma em Santiago do Cacém, especificando o cognome Celticus, uma em
Garrovillas de Alconétar (Cáceres), outra em Casas de Don Pedro (Badajoz), duas em Garlitos (Badajoz), três em Capilla (Badajoz), e ainda em cinco términos Augustais, um Ledesma (Salamanca), outro em Yecla de Yeltes (Salamanca), outro em Salamanca e os restantes em Ciudad Rodrigo. Com base nestes dados podemos equacionar a existência de dois povoados homónimos, um situado em Capilla no território Turdetano da Bética, e outro localizado na Lusitânia Céltica, a oeste de Salamanca, designado talvez por Mirobriga Celticum, também referida por Plínio como «Mirobrigenses qui Celtici cognominantur» (NH, IV, 118). Por fim, existia uma outra Mirobriga na Lusitânia que corresponde à cidade romana de «Chãos Salgados» em Santiago do Cacém.
- NEMETATI, povo mencionado por Ptolomeu (II, 6) com capital em Volabriga, possivelmente ocupando a área do Val de Nebro (Galiza).
- OCELENSES LANCIENSES, povo mencionado por Plínio (NH, IV, 118), ocupando talvez a região entre os actuais concelhos da Covilhã e Sabugal, com base em duas inscrições votivas com referências explícitas a este povo, uma encontrada no vicus da Quinta de São Domingos em Pousafoles do Bispo, onde se leria «Vicani · / Ocel[o]n[e]/nses», hoje no Museu do Sabugal (Osório, 2002), e outra dedicada às divindades indígenas Arantia Ocelaeca e Arantio Ocelaeco, epíteto que remete para este povo, encontrada em Ferro (Covilhã); Alarcão sugeriu que a sua capital poderia ser no sítio romano de Terlamonte (Covilhã) com base numa inscrição achada em Teixoso mencionando um duumvir primus, indício de poder municipal (Alarcão, 1988), mas para Pedro Carvalho, os vestígios de Terlamonte não se coadunam com uma capital de civitas, apontando mais para uma villa agrícola (Carvalho, P., 2007); por outro lado Amílcar Guerra sustenta a equivalência entre Lancienses Ocelenses, referidos por Plínio, e os Lancienses Oppidani referidos na inscrição da Ponte de Alcântara (Guerra, 2007a), propondo «Centum Cellas» para sua capital que poderia designar-se de Ocelum em época romana; dadas a incertezas ainda existentes, a localização destes povos continua sendo um problema em aberto.
- PAESURI, povo mencionado por Plínio (NH, IV, 113) que ocupariam a margem esquerda do rio Douro, com possível capital em Cárquere (Resende) ou no Castro de Sampaio (São Cristóvão de Nogueira, Cinfães). Aparece também na inscrição da Ponte de Alcântara e na inscrição rupestre de Pindelo (Cinfães); foram detectados emigrantes Paesuri noutras partes da península, Caturo em Idanha-a-Velha e Marco Flavio em Rasillo de Cameros (La Rioja, Espanha).
- QUERQUERNI, povo mencionado por Plínio (NH, III, 28) e no «Padrão dos Povos» na grafia Quarquerni que estariam relacionados com Aquis Querquernis, estação viária mencionada no Itinerário 18 de Antonino situada em Baños de Bande (Ourense, Espanha).
- SANBRUCOLENSES, com base em uma inscrição de um Sambrucolensis que apareceu no aro de Chaves (CIL II 2482).
- SEURBI, povo mencionado por Plínio (IV, 112) localizados a sul do rio Minho e a leste dos Leuni.
- SEILIENSES, povo que ocupava a região de Tomar, havendo referências a emigrantes Seilienses no Mosteiro do Lorvão (Coimbra), o epitáfio de Iulianus, e em Porto do So (Galiza), o epitáfio de Caius Rufinus.
- SERMACELENSES, mencionado em uma inscrição de Tinhela (Valpaços).
- TALORES, povo mencionado na inscrição da Ponte de Alcântara que deverá corresponder aos Tapori de Plínio.
- TAMAGANI, povo mencionado no «Padrão dos Povos» ainda sem localização segura. Alguns autores colocam-nos no Castro de Monterrei (Verín) e outros no Castro de Florderrei Vello (Colmenero et al., 2004:684). O nome poderá derivar do rio Tâmega (Tamaga/Tamaca) que cruzaria o seu território. Uma inscrição de Baños de Molgas contém um ex-voto dedicado às ninfas por um Tamacanus chamado Aurélio Flávio; outra inscrição dedicada a Júpiter e proveniente do Castro de Cabanca (Castrelo do Val) terá sido colocado pelo Tamacanus Lúcio Cássio Caeno, desdobrando a abreviatura TAMC registada na epígrafe.
- TAPORI, povo mencionado por Plínio (NH, IV, 118) ainda sem localização segura; Alarcão sugere um território com sede nos arredores de Castelo Branco, mais precisamente no aro formado pelo povoado do Monte de São Martinho e as capelas de Ns. de Mércoles e de Santa Ana; outros autores relacionam este povo com a região de Oliveira do Hospital com capital em Bobadela (Guerra, 1998, Carvalho, 2007); existem várias inscrições funerárias de Tapori, mas a sua dispersão geográfica não permite extrair a sua provável localização; a saber, os epitáfios de
Leuri em Idanha-a-Velha,
Amoenae em Conímbriga,
Maelo em Viseu,
Frontoni Lauri em Póvoa do Mileu (Guarda),
Iulius Proculus em Reguengos de Monsaraz,
[- - -]ano em Marvão,
Lubaecus em Torre dos Namorados e Tangini em Mata Rainha (Fundão).
- TUBENENSES, povo mencionado na inscrição da estátua de guerreiro encontrada em São Paio de Meixedo (Viana do Castelo), possivelmente originária da Citânia de Santa Luzia; o nome do povoado poderia ser Tubena ou Tubenum (Redentor, 2008).
- TURDITANI, povo mencionado por Ptolomeu (II, 5) que inclui Beja e Mértola entre as suas principais povoações.
- TURDETANI, povo mencionado por Ptolomeu (II, 5) ocupando o sudoeste da Península Ibérica, correspondendo hoje aos territórios da Andaluzia e do sul de Portugal, incluindo entre as suas povoações os portos de Balsa, Ossonoba, Mirobriga, Caetobrix e Salacia.
- TURDULI, povo mencionado por Mela (Cor. III, 8) e Ptolomeu (II, 5) ocupando parte da Andaluzia, entre o rio Guadiana e rio Guadalquivir. Várias inscrições funerárias de Túrdulos: epitáfio de Cloutine em Mérida (CIL II 523), epitáfio de Vegetus 12 km a sudoeste de Mérida (AE 1998, 709) e epitáfio de Manilius em Hornachos (Badajoz) (AE 1997, 790).
- TURDULI VETERES, povo mencionado tanto por Plínio (NH, IV, 113) como por Mela (Cor. III, 6) que ocuparia o território a sul do rio Douro, nos actuais concelhos de Vila Nova de Gaia e Santa Maria da Feira com base em duas raras tesserae hospitales datadas dos primeiros anos do século I mencionando especificamente os Turdili Veteres (AE 1983, 476 e 477) que apareceram na base do Castro da Sra. da Saúde (Carvalhos, Vila Nova de Gaia). É provável que ocupassem também o Castro do Monte Redondo (Fiães), Langobriga, podendo inclusive ser aqui a sede da civitas. Há também registo de um emigrante «Túrdulo Velho» de nome Quadratus que apareceu em Coria (Cáceres) (AE 1975, 513).
- TURODI, povo indígena mencionado por Ptolomeu (II, 6) com possível capital em Aquae Flaviae (Chaves).
- VETTONES, povo mencionado por Plínio junto ao rio Tejo (NH, IV, 116) e por Ptolomeu (II, 5), incluindo Salamanca entre os seus principais povoados, pelo que estes ocupariam a região entre os rios Douro e Tejo. Este povo é conhecido pelos grandes berrões em pedra que colocavam junto aos povoados ou de nós viários (como a chamada 'Porca de Murça'), permitindo alargar a sua área de influência ao território nacional (em Trás-os-Montes, exemplares em Murça, Torre de Dona Chama, Coelhoso, Vilas Boas, Vilar Seco, e na Beira Interior, Paredes da Beira, Castelo Mendo e Almofala; ver inventário em verracos.es).
- ZOELAE, o povo dos Zoelas que habitariam um vasto território entre Zamora e o Nordeste de Portugal, é mencionado por Estrabão (Geo. I, 3.6) e Plínio (NH, III, 28 e XIX, 10). , e na célebre Tábua dos Zoelas ou Tábua de Astorga (CIL II, 2633; ver foto) hoje no Staatliche Museen em Berlin. Trata-se de uma placa de bronze com um pacto de hospitalidade entre dois grupos tribais do povo dos Zoelas, os Desoncos e os Tridiavos. Desde modo é provável que a sua capital estivesse no actual território espanhol. Alguns autores propuseram o sítio da «Torre Velha» em Castro de Avelãs (Bragança), com base na inscrição colocada pela Ordo Zoelarum (CIL II 2606) à sua divindade tutelar designada por Aernus (Redentor, 2002:297). Esta divindade surge em mais duas inscrições, uma descoberta no mesmo local colocada por Placidius Placidiano (CIL II 2607) e noutra descoberta não muito longe na Capela do Sr. de Malta (Macedo de Cavaleiros) colocada por Lucretius Valens (ILER 710; Vasconcelos, 1913), indiciando que toda a região de Bragança seria habitada por este povo (Barranhão e Tereso, 2006).
INSULA . PORTUS . PROMONTORIA
Ilhas, Portos e Promontórios
- Insula ACHALE, a ilha de Achale é referida na «Ora Marítima» de Avieno, correspondendo possivelmente a Tróia (Ribeiro, 1996).
- Insula LONDOBRIS, mencionada por Ptolomeu (II, 5) como uma ilha adjacente à Lusitânia que poderá corresponder às Ilhas das Berlengas ou a Peniche que era também uma ilha na época romana separada da costa em 1200 m (Guerra, 2005:119-129).
- Insula POETANION, ilha referida por Avieno na «Ora Marítima», sem localização segura. Segundo Cardim Ribeiro corresponderia à Ilha do Bugio na boca do Tejo, também designada por Alpeidão, topónimo de origem moçárabe que poderá ter derivado da sua antiga designação Poetanion (Ribeiro, 1996).
- Mons HERMINIUS, surge em dois textos clássicos, nomeadamente no «De Bello Alexandrino» Hirtius, 48, 2) e na obra do historiador Dion Cássio sobre as campanhas de Júlio César na Lusitânia nos anos 61-60 a.C. (Dion Cassio, XXXVII, 52-55), tendo sido associada à Serra da Estrela, ainda que com bastantes reservas (Alarcão, 1993).
- Portus GADITANUS, referido por Mela (Cor. III, 4) actual porto de Cádiz.
- Portus HANNIBALIS, referido por Mela (Cor. III, 6-8), perto do Sacrum promontorium (Cabo de São Vicente), possivelmente a foz do rio Arade em Portimão.
- Portus SALACIA, porto marítimo de Alcácer do Sal mencionado no Papiro de Artemidoro que também refere uma torre (seria um farol?).
- PATULUS Portus, porto referido na «Ora Maritima» de Avieno; segundo Cardim Ribeiro estaria situado na foz do rio Sado (Ribeiro, 1996); o nome pode ser interpretado como "porto aberto" (Curchin, 2007:149), uma designação assaz adequada porque de facto o rio Sado forma um vasto estuário ao desaguar no oceano.
- Ostium Fluminis ANAE, ou Foz do rio Guadiana, referida por Ptolomeu (II, 5) e no Itinerário XXIII de Antonino.
- CYNETICUM Iugum, referido na «Ora Maritima» de Avieno, possivelmente o Cabo de São Vicente (Alarcão, 2001).
- CEMPSICUM Iugum, referido na «Ora Maritima» de Avieno, possivelmente o Cabo Espichel; na 'editio princeps' surge como Cepresicum (Ribeiro, 1996).
- Prominens OPHIUSSAE, referido na «Ora Maritima» de Avieno, possivelmente o Cabo da Roca; na região de Ophiussa Avieno menciona os povos Cempsi, Sefes e Dragani (Ribeiro, 1996).
- Promontorium AVARUS/ AUARON, referido por Ptolomeu (II, 6) entre os rios Neiva e Ave, no território dos Callaici Bracares, possivelmente o Cabo de Santo André, Póvoa do Varzim.
- Promontorium BARBARIUM, referido por Estrabão (Geo. I, 3, 1) e Ptolomeu (II, 5), possivelmente o Cabo Espichel.
- Promontorium CUNEUS, referido por Mela (Cor. III, 5) e Plínio (NH, IV, 116) aparentemente referindo-se à forma em 'cunha' da costa sudoeste da Ibéria, formada pela parte ocidental do Algarve e do litoral alentejano.
- Promontorium MAGNUN, referido por Plínio junto a Lisboa (NH, IV, 113) e também por Mela (Cor. III, 5), possivelmente o Cabo da Roca (Guerra, 2005).
- Promontorium MONS LUNAE, «Monte da Lua», referido por Ptolomeu (II, 5), possivelmente o Cabo da Roca.
- Promontorium SACRUM, referido por Plínio (NH, IV, 116) e Ptolomeu (II, 5), corresponde ao Cabo de São Vicente, no extremo sudoeste da península; Estrabão refere-se a este promontório como Hieron akrotérion (Geo. I, 1, 4; Alarcão, 2005). Segundo este autor, "este cabo é o ponto mais ocidental, não só da Europa, mas de todo o mundo habitado (...) o país adjacente a este cabo é chamado em Latin de Cuneus" (Geo. III, 1, 4), topónimo que faz alusão à forma em cunha desta região no extremo sudoeste da Península. Também Mela refere que «in Cuneo sunt Myrtili, Balsa, Ossonoba» (Cor, III, 5).
FLUMINA
Rios
Minho: MINIUS (1, 6, 7)/ MINUA (11)/ BAENIS (9)
Lima: LIMIA (1)/ LIMIUS (7)/ LETHES (10)/ HADE? (11)
Neiva: NEBIS (1, 6)
Cávado: CELADUS (1)
Ave: AVO (1)/ AVUS (6)
Tâmega: TAMEO (12)/ TAMACA (13)
Douro: Durio (2, 4)/ DURIUS (2, 7, 10)/ DORIUS (5)
Vouga: VACUA (7)/ VACCA (4)/VACUS(5)
Mondego: MUNDA (2, 4, 7)/ MONDA (5)/ AEMINIUM (4)
Nabão: NABUM (11)
Tejo: TAGUS (2, 4, 5, 8, 10, 11)
Sado: CALIPODIS/ CALIPUS (5)
Guadiana: ANA (3, 4, 5)
1. Mela, De Chorographia (III, 7): «
Avo, Celadus, Nebis, Minius et cui oblivionis cognomen est Limia».
2. Mela, De Chorographia (III, 6): «
Tagi ostium»; «
Munda»; «
Durius».
3. Mela, De Chorographia (III, 3): «
fluvium Anam».
4. Plínio, Naturalis Historiae (IV, 35): «
Durio»; «
Vacca»; «
Aeminium»; «
Munda»; «Tagus»; «
Anae».
5. Ptolomeu, Geographia (II, 5): «
Anas»; «
Dorius»; «
Calipodis»; «
Tagus»; «
Monda»; «
Vacus»
6. Ptolomeu, Geographia (II, 6): «
Avus»; «
Nebis»; «
Limius»; «
Minius»
7. Estrabão, Geographia (III, 3, 4): «
Vacua»; «
Minius»; «
Munda».
8. Estrabão, Geographia (III, 3, 1): «
Tagus».
9. Artemidoro, Geographoumena (II): «
Baenis».
10. Avieno, Ora maritima (Hisp.71): «
Tagus»; «
Lethes»; «
Oblivion» «
Durius».
11. Anónimo de Ravena, Cosmographia (IV, 45): «
Tagus», «
Nabum», «
Hade», «
Minua».
12.
Inscrição votiva à divindade
Tameobrigus (CIL II 2377) que apareceu nas proximidades da foz do rio Tâmega.
13. Os
Tamagani referidos no
«Padrão dos Povos» poderão estar relacionados com o rio Tâmega (
Tamaca).
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Outra Bibliografia
Bases de Dados Online
Existem algumas iniciativas 'online' com a inventariação de sítios arqueológicos e dados epigráficos:
- Endovélico - Sistema de Gestão e Informação Arqueológica - gerido pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), é a mais completa base de dados de sítios arqueológicos no território português, sendo actualizada regularmente. Em 2019 a página 'online' sofreu uma grande remodelação, permitindo agora o acesso livre às respectivas coordenadas.
- SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico - gerido também pela DGPC com base na informação recolhida pela extinta Direcção Geral dos Monumentos Nacionais, actual Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (!) com informação muito completa sobre património arquitectónico, urbanístico e paisagístico, incluindo os sítios romanos classificados como monumentos nacionais.
- EDCS - Epigraphik-Datenbank Clauss / Slaby - iniciada por Manfred Clauss na Katholische Universität Eichstätt-Ingolstadt em 1980, com uma actualizada e vasta compilação de epígrafes de todas as províncias romanas incluindo a Hispânia Citerior e a Lusitânia.
- EDH - Epigraphische Datenbank Heidelberg - criada pela Universidade de Heidelberg em 1986, constitui uma vasta compilação de epígrafes com mais de 78 000 inscrições iniciada pela Universidade de Heidelberg.
- HEpOL - Hispania Epigraphica online database - base de dados epigráficos lançada pelo Prof. Joaquín Gómez-Pantorra na Universidade Complutense de Madrid.
Blogs
Existem algumas iniciativas interessantes na web entre as quais destacam-se os seguintes:
Revistas
Os trabalhos disponíveis sobre a romanização do território nacional encontram-se dispersos por uma multitude de publicações muitas delas de carácter regional e com periocidade muito variável ou mesmo efémera. Entre as mais relevantes, destacam-se as seguintes:
«Revista Portuguesa de Arqueologia» - Revista de arqueologia editada pela Direcção-Geral do Património Cultural (1998 -).
«Conimbriga» - Revista de arqueologia editada pela Universidade de Coimbra (1959 - ).
«Ficheiro Epigráfico» - suplemento da Revista Conimbriga dedicada ao estudo de inscrições romanas (1982 - ).
«Portugália» - Revista de arqueologia editada pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (1980 - ).
«Cadernos de Arqueologia» - Revista de arqueologia editada pela Universidade do Minho (1981 - ).
«Máthesis» - Revista do Departamento de Letras da Universidade Católica Portuguesa de Viseu (2000 - 2013).
«Revista de Guimarães» - Revista de história editada pela Sociedade Martins Sarmento (1884 - 2004).
«O Arqueólogo Português» - Revista do Museu Nacional de Arqueologia (1895 - 2014).
«Al-Madan» - Revista de arqueologia e história editada pela C.M. de Almada (1982 - ).
«Eburobriga» - Revista do Museu Arqueológico Municipal José Monteiro, C. M. do Fundão (2004 - ).
«Oppidum» - Revista de história e arqueologia editada pela C.M. de Lousada (2006 - ).
«Ibn Maruán» - Revista cultural editada pela C.M. de Marvão (1991 - 2000).
«Vialibus» - Revista editada pela Fundação Arq. Paes Teles no Ervedal (2009 - 2010).
«Almansor» - Revista de cultura editada pela C.M. de Montemor-o-Novo (1983 - ).
GLOSSARIUM
Glossário
Latim
- Agri - campos agrícolas na dependência da villa romana.
- Agger - estrutura sobrelevada formando um talude de terra por onde corria a via.
- Balneum - banhos ou balneários privados integrados na villa romana.
- Calx (pl. Calcis) - óxido de cálcio, vulgo cal; utilizada como aglomerante no fabrico de betão, como elemento de união de silhares e para impermeabilização de superfícies.
- Caput Via - ponto de partida ou chegada de uma via; ponto incial para a contagem das milhas; nó viário.
- Cardus Maximus - via principal no urbanismo romano com a direcção norte-sul.
- Castellum (pl. Castella) - povoado fortificado da Idade do Ferro; também usado para designar as torres para reservatório e distribuição de água como seja o caso de Alcabideque em Conímbriga.
- Cetaria - tanque para a preparação do garum.
- CIL Corpus Inscriptionum Latinarum - compilação de inscrições latinas; o epigrafista alemão Emil Hübner publica em 1869 o CIL II com as inscrições da Hispânia.
- Civitas (pl. Civitates) - circunscrições com poderes tributários e administrativos, com a capital centrada numa povoação proto-urbana muitas vezes fortificada, designada por oppidum, habitualmente associadas a um povo, tribo ou comunidade. A área territorial das civitates é muito variável em função das características geográficas do local, mas oscila habitualmente entre as 15 e as 20 milhas de raio.
- Cloaca - rede de esgotos utilizando colectores de grandes dimensões.
- Conventus - divisão administrativa; em Portugal existiram três sedes administrativas deste tipo com sede em Braga, Santarém e Beja.
- Curator Viarum - título do responsável pela construção e manutenção das viae publicae.
- Cursus Publicus - rede viária incluindo o correio oficial, pontes, vias e sistemas de apoio.
- Decumanus Maximus - via principal no urbanismo romano com a direcção este-oeste.
- Diverticulum - desvio ou ramo que partia da via principal.
- Domus - casa particular ocupada por um único proprietário e sua família.
- Flumen - rio, ribeiro, corrente de água.
- Forum - praça central no cruzamento da Cardus Maximus com a Decumanus Maximus, centro da vida pública romana.
- Fundus - área na dependência de uma villa romana.
- Garum - pasta de peixe com ervas aromáticas, azeite e sal, exportado para Roma.
- Glandes Plumbeae - projéteis em chumbo utilizadas em conjunto com a arma de guerra designada funda.
- Imbrex (pl. Imbrices) - telha cerâmica em meia cana colocada sob as tegulae para escoamento da água.
- In Situ - no sítio, no local original.
- Lares Viales - divindades protetoras das estradas; em geral estas inscrições aparecem junto a vias.
- Lares Compitales - divindades protectoras das encruzilhadas da mesma forma que os cruzeiros medievais.
- Legatus - general do exército com categoria senatorial no comando de uma legião.
- Magistri Pagi - homens notáveis de uma região que sob as ordens do Curator Viarum geriam a manutenção das vias.
- Mansio (pl. mansiones) - estação oficial de apoio à via com albergue e muda de montadas, em cada 20 a 30 milhas (30-45 km).
- Milia Passuum - mil passos ou milha romana, cerca de 1500 m.
- Municipium - cidade com estatuto municipal.
- Mutatio (pl. mutationes) - muda de montadas de apoio à via em cada 10 a 12 milhas (15-18 km).
- Oppidum (pl. Oppida) - povoado com um núcleo urbano fortificado.
- Oppidum Latii - povoado ao qual foi atribuído o «antigo direito latino», estatuto que conferia a cidadania romana aos seus habitantes; Plínio refere 3 cidades na Lusitânia com este estatuto: Évora, Mértola e Alcácer do Sal (oppida veteris Latii Ebora, quod item Liberalitas Iulia, et Myrtilis ac Salacia) (NH, IV, 117).
- Oppidum Stipendiarium - estatuto atribuído a um povoado com importância regional, ficando sujeito ao pagamento de um tributo, chamado de vectigal ou stipendium.
- Opus Caementicium - o betão romano, um cimento produzido com areia, cal e cinzas pozolânicas.
- Opus Incertum - técnica construtiva com recurso a pequenas pedras de formato irregular.
- Opus Quadratum - técnica construtiva com recurso a blocos de pedra (silhares) de forma paralelepipédica para construir muros ou paredes.
- Opus Signinum - argamassa feita de cal hidráulica, areia e tijolo miúdo, para construção de pavimentos e impermeabilização de tanques e paredes.
- Pars Fructuaria/frumentaria - parte da villa romana onde se situa os anexos produtivos (lagar, celeiro, estábulos, forja, etc.).
- Pars Rustica - parte da villa romana onde se situam as residências dos criados.
- Pars Urbana - parte da villa romana onde se situa a residência do proprietário.
- Podium - base onde assentam os edifícios monumentais romanos.
- Pons Sublicius - ponte assente em pilares de madeira.
- Pons Roboreus - ponte construída em madeira.
- Saltus - área de pastagem na dependência da villa romana.
- Silva - área de bosques ou florestas.
- Stadia - distância de um estádio = 184.7 m; unidade utilizada em trajectos marítimos ou fluviais.
- Statio - posto de controlo viário nos pontos estratégicos da via como sejam pontes e fronteiras territoriais.
- Tabernae - lojas; albergue na estrada onde se podia comer e pernoitar.
- Tegulae - telha cerâmica plana com rebordos para encaixe.
- Terminus Augustalis (pl. Termini Augustales) - inscrição de demarcação de limites territoriais.
- Terra Sigillata - cerâmica fina de mesa, indicador de trocas comerciais preponderantemente de importação.
- Trifinium - inscrição que demarca os limites de três territórios.
- Tugurium - pequeno grupo de casas e casebres de habitação.
- Urbs - grande centro urbano, o mesmo que cidade.
- Viae Publicae - via pública, principal, militar, da responsabilidade do estado.
- Viae Vicinales - vias secundárias que interligam viae publicae.
- Viae Privatae ou Agrari - vias privadas ou apoio à exploração agrícola.
- Vicus (pl. Vici) - aglomerado populacional, aldeia.
- Vicus Viarum - aglomerado junto à via com estruturas de apoio à viação; estação viária.
- Villa (pl. Villae) - expressão genérica para casa senhorial.
Português
- Alvalade - caminho empedrado, estrada, do árabe al-balat.
- Anepígrafo - que não tem inscrição.
- Ara - pedra em forma de altar para receber inscrição votiva ou funerária.
- Atalaia - do árabe at-talaya' com o sentido de "vigia" ou "sentinela".
- Azinhaga - caminho estreito, do árabe az-zinayqa.
- Cetária - Tanque de forma rectangular destinado à salga e fabrico de molhos e outros preparados de peixe como o Garum
- Légua - a antiga légua terrestre corresponde a 6000 m; 1/4 de légua (1500) equivale a cerca de uma milha romana.
- Necrópole - cemitério, literalmente "cidade da morte".
Abreviaturas
- AE - Auto-estrada.
- EN - Estrada Nacional.
- EM - Estrada Municipal.
- CM - Caminho Municipal.
- CF - Caminho-de-Ferro.
- CM - Câmara Municipal.
- JF - Junta de Freguesia.
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Lares |
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Povoados |
Bibliografia |
Glossário
Ponte Romana de Vila Formosa (Alter do Chão)