Vias Romanas em Portugal
Evolução do Site
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Histórico da evolução do site


Esta página apresenta por ordem cronológica as principais alterações introduzidas no site desde o seu arranque em 2004.
Artigos
  • Soutinho, P. (2021). "Alguns comentários sobre os números FE 731 a 733 (possíveis miliários no concelho de Moimenta da Beira)". Ficheiro Epigráfico, 210, Addenda_et_corrigenda.
  • Soutinho, P. (2021). A Serra do Marão na rede viária romana. Actas do I Colóquio Viário do Marão, Vol. 1, Biblioteca Municipal de Vila Real, 19-44
  • Soutinho, P. (2023). Vias Romanas - Um Mundo por Descobrir. Artigo de divulgação na Revista Super Interessante, 298, Fevereiro 2023, 22-27
  • Soutinho, P. (2024). Origem e Resiliência da Rede Viária Romana: uma viagem no tempo centrada na viação antiga. Actas do III Colóquio Viário do Marão, Biblioteca Municipal de Vila Real (no prelo)
  • Vídeos
  • 2021, 17 de Outubro - "Enquadramento da Serra do Marão na Rede Viária Romana". I Colóquio Viário do Marão. Ver no YouTube (1h26 - 2h30)
  • 2023, 29 de Abril - "Origem e Resiliência da Rede Viária Romana". III Colóquio Viário do Marão. Ver no YouTube (5h31 - 6h17)
  • Referências: Lista de Referências ao site em trabalhos científicos.

    Alterações por ordem cronológica


    2024 Agosto
  • Via Porto-Guimarães: o traçado desta via estava cartografado até ao nó viário de Santo Amaro, a 31 milhas do Porto, local onde cruza a via Braga-Tongobriga-Douro. Daqui a via seguia para Guimarães, mas o seu detino final continuava incerto. No entanto, uma referência a uma «via vetera per valle usque Moutam de Cerzariis» (PMH Inq. 723) nas Inquirições de 1258, sugere que a via seguia pela Praça do Toural rumo ao Monte de Azurém. Assim, tudo indica que esta estrada seguia para o cruzamento do rio Selho junto a Aldão, continuando até Venda da Gonça, atingindo pouco depois 40 milhas ao Porto. Daqui seguia até Garfe para cruzar o rio Ave, continuando talvez por Porto do Ave, Ralde e Serzedelo rumo a Botica de Baixo, onde entronca no Itinerário XVII de Braga a Chaves, perfazendo um total de 50 milhas desde o Porto. Ora, esta paragem de Botica de Baixo está a 14 milhas de Braga, pelo que se somarmos às 36 milhas de Braga ao Porto temos um total de 50 milhas, ou seja, a mesma distância de Porto a Chaves, quer por Braga quer por Guimarães! (ver traçado em #guimares_botica).
  • Nó viário de Seia: Com a estabilização da proposta de percurso para a via Celorico-Bobadela (ver entrada anterior), fez-se uma revisão das vias transversais a esta na direcção oeste-este, cruzando a Serra da Estrela na área de Seia, o principal ponto de acesso à serra pela sua vertente ocidental. Após a recente identificação de um miliário em Santa Comba, ficou claro que este era o local onde havia o cruzamento com a via Viseu-Seia. Seguindo esta via para poente temos o rio Mondego a 8 milhas e o rio Dão a 20 milhas (Ponte de Alcafache). Para nascente, a via seguia por Seia até à bifurcação junto do vicus viarum da Quinta da Nogueira. A partir daqui havia três rotas que cruzavam a serra, uma em direcção à Torre de Centum Cellas (#seia_belmonte, outro para o Fundão por Loriga (#seia_fundao) e por último a via para Covilhã (#seia_covilha) cujo percurso foi finalmente identificado e cartografado. Sabia-se que esta via passava junto do Alto da Torre, mas a descida pela vertente ocidental era incerta.
    No entanto, uma referência nas Inquirições de 1258 à "viam vadit pro que ad Covillianam" (PMH Inq. 773), delimitando uma propriedade junto do Castro de São Romão (aproximadamente a área da actual freguesia de Lapa dos Dinheiros, foi possível colocar esta via junto do ribeiro do Paramol e da estrada que segue por Pena Ruiva e Lagoa Comprida para a Covilhã. No sentido contrário descia encosta pelo caminho da Casa das Mimosas até à Sra. do Desterro, onde cruzava o rio Alva. Daqui poderia seguir para Seia rumo a Viseu, mas a "estrada da Covilhã" mantinha a sua directriz nordeste-sodoeste, continuando por São Romão e Catraia de Assamaça até à Quinta do Olival da Meia Légua, nó viário, onde entronca na via para Bobadela rumo a Coimbra. Aliás, no mesmo documento parece haver referência a esta via como "viam publicam colimbriensem", servindo para delimitar a parte noroeste da propriedade que deverá corresponder ao troço entre a Sra. do Desterro e São Romão (PMH Inq. 773). A contagem miliária revela um acerto inesperado, pois o nó viário do Olival da Meia Légua está a 30 milhas tanto da Covilhã como de Celorico da Beira!
  • Via Bobadela-Celorico: revisão desta rota próximo de Seia. Afinal a via não vai por Carrozela como a estrada actual, mas passa a sul desta povoação pela Quinta do Olival da Meia Légua, nó viário de onde deriva a via para a Covilhã; daqui seguia pelo topónimos viários Alto do Cruz,Pedrão e rua da Carreira rumo à travessia do rio Seia na Ponte de Folgosa. Esta alteração alonga o percurso em algumas centenas de metros, acertando a contagem miliária com as 40 milhas medidas entre a travessia do Mondego na base do Castro de Celorico (em São Gens, e não junto da Ponte Medieval da Lavandeira, como se supunha antes) e a povoação da Bobadela (vencendo 40 milhas exactamente na bifurcação da estrada que seguia para de Bobadela para Viseu). Há várias referências a esta via na documentação medieval (e.g. PMH Inq. 773, PMH Inq. 776 e PMH Inq. 777). Neste último, poder ler-se um notável testemunho dos abusos que iam sofrendo as terras em posse da coroa por parte de proprietários locais, abusos esses que estão na origem do lançamento destas inquirições por D. Afonso III no ano de 1258.
  • Rotas: o trajecto de Viseu a Moimenta da Beira afinal não é uma via directa entre estes locais. Para chegar a Moimenta seguia primeiro a via Viseu-Aguiar da Beira e depois inflectia para norte rumo a Moimenta pela via norte-sul proveniente do Douro (Covelinhas). Portanto, a via não seguia para Moimenta, mas rumo à travessia do rio Távora entre Faia e Freixinho, entroncando assim na rota proveniente da Régua rumo a Marialva, com miliários em Prados de Cima (Caria) e Quinta da Lagoa (Faia). Deste modo, foi criada uma nova rota ligando Viseu a Marialva que nunca tinha sido equacionada anteriormente. Ver descrição em #viseu_marialva. Entretanto José Carlos Santos identificou outra coluna em A-dos-Barros, possível miliário, que poderá ter sido deslocada desta rota. Este autor acaba de publicar também o achado de um novo término Augustal que apareceu numa casa da aldeia de Vide (FE 890).

  • 2024 Julho
  • Mapa de Vias: actualização do «Mapa de Vias» para a versão 5.9, com a inclusão das duas rotas abaixo.
  • Rota Cávado-Minho por Orbacém: revisão do percurso e cartografia desta rota alternativa entre os rios Cávado e Minho desviando na Barca do Lago. Daqui seguia em direcção à travessia do rio Lima a montante da Ponte Medieval do Fragoso, onde vencia a décima milha. Neste troço poderia haver mutatio na oitava milha que era vencida junto do Convento Beneditino de São Salvador de Palme. Seguia depois por Subportela para a travessia do rio Lima entre Deão e São Salvador da Torre. Seguia depois por Orbacém, Dem e Vilar de Mouros até ao rio Minho. Esta rota está dividida em dois trechos com 18 milhas, da Barca do Lago ao rio Lima, e daqui ao rio Minho. Neste último, Orbacém está a meio percurso, ou seja, na milha nove, com uma possível mutatio na oitava milha que era vencida na base do Castro do Alto da Corôa, entre Amonde e a Ponte de Tourim. Por sua vez, Dem está a 12 milhas da Barca do Lago e a 6 do rio Minho, posição que também permite equacionar uma nova estação, antes da via iniciar a descida ao vale do rio Minho. Temos assim mais um trajecto assente no módulo de 18 milhas.
  • Rotas ao Castelo de Calábria: revisão das vias que ligavam ao Castelo de Calábria. As anteriores propostas eram baseadas no trabalho de Susana Cosme (2002), mas o estudo cartográfico destas vias permitiu identificar a configuração da rede nesta região que era articulada por dois grandes eixos viários, um rumo a Marialva e outro a Torre de Almofala. O primeiro têm origem em duas travessias do rio Douro, Barca Dalva e Barca do Pocinho, seguindo ambas até ao local de travessia do rio Côa junto da Quinta de Ervamoira, perfazendo 12 milhas nos dois casos. Reunidas junto à mutatio de Ervamoira, seguia depois em direcção a Marialva, percorrendo treze milhas, e daqui até Pai Penela, onde cruza a importante via norte-sul entre a travessia do Douro no Vesúvio e Celorico da Beira. A via totaliza 18 milhas entre o Côa e Pai Penela, valor típico entre etapas na região do Douro. O segundo eixo viário partia da base do Castelo de Calábria, junto do estação romana de Olival de Telhões, que poderá corresponder a outra mutatio, seguindo por Vilar de Amargo e Figueira de Castelo Rodrigo rumo a Torre de Almofala. Ver itinerários em #pocinho_ervamoira, #dalva_ervamoira, #ervamoira_paipenela e #calabria_almofala.
  • Rota de Lisboa a Alcácer do Sal: este via é mencionada no Itinerário XII de Lisboa a Mérida, mas algumas das distâncias intermédias indicadas estão manifestamente erradas. A parte inicial até Setúbal não oferece dificuldades porque as 24 milhas indicadas de Lisboa a Setúbal acertam com o percurso pela Serra da Arrábida, com uma estação intermédia a meia distância, localizada em Coina. Os problemas surgem nas etapas seguintes até Alcácer, Caeciliana e Malateca, sendo que esta última estaria junto da ribeira de Marateca. Assim, propôs-se uma correcção das distâncias indicadas, mantendo as oito milhas a Caeciliana, corrigindo a distância para Malateca para sete milhas, e a distância daqui a Alcácer para 22 milhas. No entanto, uma análise mais atenta da contagem miliária, permite equacionar uma solução mais em linha com a habitual modularidade evidenciada pela rede viária antiga. Assim, corrigindo a distância a Malateca de sete para oito milhas, obtemos um total de 40 milhas a Lisboa, valor de acordo com o módulo de 10 milhas. Continuando o percurso por mais 16 milhas chegamos ao nó viário de Vale dos Reis (designada por Albergues no «Roteiro Terrestre»), onde a via bifurcava. Daqui partia o ramal de ligação ao porto de Alcácer, percorrendo cinco milhas, perfazendo um total de 21 milhas a Marateca e 61 milhas a Lisboa. O outro ramal, mantinha a directriz rumo à travessia da ribeira de Santa Catarina em Porto da Lama (miliário), continuando por Torrão em direcção a Beja. Seguindo esta rota verifica-se que a ribeira de Santa Catarina está a 60 milhas de Lisboa, pelo que esta seria a rota principal, acertando com o habitual módulo de 10 milhas.




  • 2024 Junho
  • Itinerário XX per loca maritima: Este itinerário era brevemente apresentado devido às grandes dúvidas que permaneciam sobre o seu trajecto, em particular na sua parte inicial de Braga a Aquis Celenis. Diversos autores têm proposto uma via terrestre partindo de Braga rumo ao litoral (rumo a Caminha ou a Esposende), mas nenhuma dessas hipóteses se viria a verificar no terreno. Seguindo proposta do investigador galego César Crespán, os 165 estádios indicados para a etapa inicial corresponderia ao trajecto fluvial entre Tui e Caminha na foz do rio Minho que de facto ronda as 20 milhas (Crespán, 2015). Ora, esta solução é a mais plausível pois acerta as distâncias do restante percurso até Lugo. Deste modo, é muito provável que a parte inicial seja comum ao Itinerário XIX (Braga-Ponte de Lima-Tui), razão pela qual estas estações terão sido omitidas no itinerário XX.
    Com o lançamento de primeira proposta completa de traçado para o Itinerário XIX (ver abaixo entrada de Março de 2024), voltei a rever os dados disponíveis sobre este peculiar itinerário que segue inicialmente uma rota marítima ao longo da costa galega (daí ser co-designada per loca maritima, ou seja, algo como «por locais marítimos") e depois por via terrestre até Lugo. A parte marítima parece acertar com as principais desembocaduras ao longo desta costa (a foz do Minho, a ria de Vigo e a ria de Arousa), com término em Grandimiro (no interior da ria de Arousa). Se é hoje praticamente consensual que esta rota se dirigia para Santiago de Compostela, então designada por Trigundo, a 22 milhas do porto de Grandimiro, a sua continuação para Lugo continua problemática. Com efeito, a maioria dos autores faz seguir esta rota por Arzúa, Boente e Vilamaior de Negral rumo a Lugo (por consequência, estes autores propõem um traçado mais meridional para o Itinerário XIX, seguindo junto do miliário San Fins de Sales, o que não me parece viável).
    No entanto, conforme a proposta apresentada para o Itinerário XIX, esta seria a rota referida neste itinerário, sendo que a rota referida no Itinerário XX, seria uma variante mais setentrional para Lugo, derivando logo após atravessar Santiago, e seguindo por Portela de Santiso, Castro de San Gregorio (16 milhas a Santiago), Boimorto (miliário a 27 milhas) até à actual povoação de Foro, a 30 milhas de Santiago, distância que acerta com a estação de Brigantium. A partir daqui inflectia para nascente, seguindo junto do Mosteiro de Sobrado rumo a Friol, onde assentava a estação Caranico, a 18 milhas de Foro e a 17 milhas de Lugo. O trajecto para Lugo seguia por Guldriz de Abaixo, passando no miliário do Monte Lodoso que indica 13 milhas a Lugo. Ver mais detalhes na respectiva entrada do Blog: 2024/06/14/o-itinerario-xx-per-loca-maritima-para-santiago-de-compostela.

  • 2024 Maio
  • Rota de Gogim à Ponte do Touro: publicação de uma "nova" rota com origem no rio Douro, ligando a povoação de Gogim à Ponte do Touro (onde entronca na via Lamego-Tarouca-Viseu), cruzando os concelhos de Armamar, Moimenta da Beira, Tarouca e Castro Daire. O trajecto passa junto da base do povoado romanizado conhecido por Castro de Mondim, totalizando 20 milhas ao rio Douro. O trajecto até Gogim estava já publicado na rota Covelinhas-Cabeça do Alva, desviando para sudoeste rumo a Passô, onde há grande concentração de marcos viários. O trajecto apresenta ainda largas extensões em pavimento calcetado num percurso em altura interligando Covelinhas ao vale do rio Varosa. Partindo de Gogim, a via seguia por Cimbres (junto da Capela do Espírito Santo) até à Ponte das Tábuas, onde cruza a ribeira de Salzedas. Continua pela povoação de Passô e pela base do Castro de Mondim até Vila Chã do Monte, onde cruza o rio Varosa, descendo pouco depois à Ponte do Touro (ver #gogim_touro)

  • 2024 Abril
  • Rota Alter do Chão-Estremoz: havia dúvidas sobre qual seria a via assinalada pelo miliário tardio que apareceu reaproveitado na necrópole de Silveirona (Estremoz); uma possibilidade seria integrá-lo numa via partindo de Estremoz para este rumo a Cano, mas André Carneiro sugeriu que a via inflectia para noroeste em Silveirona, seguindo depois rumo a Fronteira (Carneiro, 2008). Com efeito, existem ainda indícios de uma via que seguia pelo Monte da Coelha, Monte da Cavaleira e Monte da Cântara, continuando entre a ribeira dos Olivais e a ribeira de Souséis até ao Monte da Albardeira, onde inflecte para cruzar esta última ribeira. Este autor prolonga o trajecto até Fronteira, no entanto tudo indica que a travessia da ribeira Grande seria mais jusante, junto do Porto de Melões (talvez no sítio de Pegos da Pedra), seguindo daqui para Alter do Chão. Esta hipótese é reforçada pelo acerto da contagem miliária pois contam-se 40 milhas entre Estremoz e Alter, sendo que as vinte milhas eram atingidas próximo do Porto de Melões, onde há vestígios de um habitat romano, possível mutatio. Para nascente, em torno do marco geodésico do Outeiro de São Miguel, há vestígios de um povoado indígena "romanizado" que deverá estar relacionado com esta importante passagem a meio-percurso. Consequentemente foi criado um novo Itinerário de Alter do Chão a Estremoz por Silveirona.
  • Miliários: publicação de uma foto do miliário de Diocleciano que apareceu reutilizado na construção do Castelo da Feira (in Teixeira, 2017:49). Trata-se do primeiro miliário descoberto junto à via antiga que cruzava o termo de Santa Maria da Feira rumo a Oliveira de Azeméis. Além de atestar a sua utilização em período romano, esta rota constitui um traçado alternativo para quem vinha de Cale, bifurcando por alturas de Picoto para o Castelo da Feira. Com base nesta descoberta e na relevância do povoado indígena (actualmente ocupado pelo castelo medieval), os seus descobridores voltaram a equacionar a possibilidade de Langobriga (a última estação mencionada no Itinerário de Antonino antes de Cale) poder situar-se neste local. Com efeito, a sua tradicional localização no Monte Redondo (Fiães) tem contra si o facto de este povoado estar situado um pouco afastado da via que passa cerca de 3 milhas a nascente pela Albergaria de Souto Redondo. Apesar de não ser possível descartar esta hipótese, a mesma levanta problemas na contagem miliária, dado que daqui a Cale contam-se cerca de 19 milhas enquanto o I.A. indica treze. Por outro lado, esta variante pelo Castelo da Feira obriga a percorrer uma maior distância a Oliveira de Azeméis face à alternativa por São João da Madeira. Esta duas variantes seguima para norte até reunirem no Picôto e daqui a Cale. No entanto, é muito provável que a variante pela Feira tivesse continuação até ao cais fluvial de Crestuma, perfazendo cerca de 15 milhas, valor normal entre etapas, pelo que poderia ser esse o valor indicado no miliário, ou seja 15 milhas ao Douro.
    (Teixeira, R., et al. (2017). “Castelo de Santa Maria da Feira: estudos arqueológicos”).

  • 2024 Março
  • Itinerário XIX de Braga a Astorga: descrição e cartografia da parte galega do itinerário de Braga a Astorga passando em Lugo. O seu trajecto não é consensual. A proposta apresentada tenta adequar as distâncias indicadas aos valores obtidos no terreno, propondo três correções. Em particular, as 24 milhas entre Turoqua e Aquis Celenis parecem excessivas face às presumíveis localizações destas estações, respectivamente Pontevedra e Caldas dos Reis, que estão separadas por cerca de 14 milhas. Neste caso poderá ter havido troca entre os numerais «XXIIII» e «XIIII». A estação seguinte, TRIA, deverá ser um erro de transcrição que se deve corrigir para IRIA, ou seja, a estação de Iria Flaviae a 12 milhas de Aquis Celenis, localizada com toda a probabilidade um pouco a norte da povoação de Padrón, cujo topónimo remete aliás para o miliário ali encontrado.
    A segunda correção proposta é na etapa entre Iria e Assegonia. Tudo indica que a via continua para norte rumo a Santiago de Compostela, importante nó viário onde haveria estação viária. A sua possível associação a Assegonia é corroborada pela distância indicada no I.A. de 13 milhas, no entanto, os valores indicadas para a restantes etapas até Lugo (cerca de 68 milhas), Brevis e Marcie, são insuficientes para cumprir a distância que separa Compostela de Lugo (cerca de 73 milhas), restando portanto 5 milhas. Ora acrescentando este valor em falta à etapa para Assegonia obtemos o valor de 18 milhas, colocando esta estação junto da travessia do rio Sionlla em Lavacolla, local que também surge na variante «Sioña», topónimo que poderá ter origem na estação romana. Naturalmente que o erro poderá estar nas outras etapas, mas o registo arqueológico aponta para valores correctos no caso de Brevis e Marcie, com a primeira localizada em Boente (ara a Júpiter), entre Arzúa e Mélide, e segunda junto do cruzamento do rio Gamoira em Vilamaior de Negral. A ser assim, a distância de Iria a Assegonia, deverá ser corrigida para 18 milhas. Neste caso poderá ter havido confusão entre os numerais «XIII» e «XVIII», novamente um erro bastante plausível.
    Finalmente, a terceira correção proposta refere-se ao troço entre Lugo e Astorga, onde a única estação com localização segura é Bergido, identificada com o Castro Ventosa, em Cacabelos. Neste caso, a soma dos valores indicados no I.A. (70 milhas) é um valor excessivo face às cerca de 66 milhas medidas no terreno. O problema parece estar na distância de 20 milhas indicada na etapa Ponte Neviae-Uttaris. Com efeito, admitindo a presumível identificação de Ponte Neviae com a travessia do rio Navia em As Nogais, a estação de Uttaris deverá estar localizada a 16 milhas tanto de Bergido como de Ponte Neviae, posição que coloca esta estação junto da Capela de Ruitelán, próximo de Vega de Valcarce. Mais uma vez poderá ter havido um erro de transcrição, trocando os numerais «XX» e «XVI». Com estas correcções há finalmente acerto da contagem miliária no Itinerário XIX seguindo o trajecto proposto. Daqui decorrem as propostas de localização das estações intermédias desta grande rota que utiliza várias vias independentes, a via sul-norte de Braga a Santiago, a via de Santiago a Lugo e finalmente desta cidade a Astorga pelo grande eixo viário que ligava ao porto de mar da Coruña. A cartografia destas rotas em território Galego está publicada no «Mapa de Vias» a partir da versão 5.7.
  • Miliários: lista actualizada dos miliários encontrados no concelho de Pontevedra: ABASCAL, J.M. (2020) - Miliarios romanos de la provincia de Pontevedra (Hispania citerior). Anuario Brigantino, n. 43, 47-86.

  • 2024 Fevereiro
  • Rotas: publicação de uma nova rota entre Vila Chã (Alijó) e o Pinhão, derivando do Itinerário Chaves - Carlão - Vesúvio no Aeródromo de Alijó, próximo do lugar da Chã, totalizando 15 milhas. Seguia por alturas da serra por Sanfins do Douro, Favaios, Vilarinho de Cotas, Casais de Loivos e Pinhão, onde cruzava o rio Douro (ver #cha_pinhao).
  • Miliários: Há um miliário em Ulme que assinalava a via que partia daqui rumo ao nó viário de Perna Seca (3 m.p.), entroncando na via para Mérida. Actualmente encontra-se no centro da povoação, no cruzamento da rua Velha com a rua do Chafariz. Junto à via, próximo do cemitério, existe outro cilindro muito similar erradamente classificado como menir "fálico", mas que poderá ser antes um outro miliário anepígrafo desta paragem (ver Itinerário XV).
  • Itinerários: revisão do trajecto do itinerário de Jales ao Douro passando por Carlão e Selores. Por gentil contributo de Nelson Miranda, o trajecto na descida ao povoado mineiro da Ns. da Ribeira, onde cruza o Douro, não seguia pela estrada actual (EN632) dado que há memória local da sua construção no século XX; o caminho fazia-se antes pelo micro-topónimo «calçadas» ou «calçados» que corresponde ao caminho que passa junto da Sra. Costa e Alto do Arejadouro, onde inicia a descida da encosta com forte pendente até à Quinta da Ns. da Ribeira. Após esta correção, fez-se uma tentativa de acertar a contagem miliária e verificou-se um outro erro no percurso, no troço entre o rio Tua e Pombal. Com efeito, chegando à povoação de Pinhal do Norte não continua directo a Pombal, mas segue um caminho mais oriental que passa na Capela de Santa Marinha, local a seis milhas do rio Tua e a dezoito do Douro. Daqui seguia pelo caminho ainda preservado que cruza a estrada actual no extremo sul da povoação de Pombal, a cerca de 16 milhas do Douro, continuando junto do vicus viarum da Costa. Corrigindo o traçado, obtém-se um percurso modular, ou seja, são 21 milhas de Jales ao Tua, e mais 22 milhas à travessia do Douro, perfazendo um total de 43 milhas, valor típico em vias independentes.

  • 2024 Janeiro
  • Mapa de Vias: publicação da versão 5.5 com as mais recentes actualizações, nomeadamente a completa revisão do Itinerário XVI com nova proposta de trajecto em algumas partes do traçado. Em resultado destas alterações, os ramais relacionados com este eixo principal de Cale a Olisipo foram também revistos, em particular (de sul para norte):
  • Itinerário XVI: Vouga-Azeméis: revisão do percurso entre o rio Vouga e Oliveira de Azeméis em resultado da proposta de localização de Talábriga no Castro da Ns. do Socorro. Partindo da travessia do rio Vouga na base do povoado do Cabeço do Vouga, percorria quatro milhas até Albergaria-a-Velha, onde desvia da rota da Estrada Real para nordeste, subindo ao Santuário da Sra. do Socorro, e daqui pela cumeada da serra seguia junto dos povoados de São Julião e da Mó rumo ao Castro de Lações em Oliveira de Azeméis. Deste modo, a antiga proposta de traçado passando no Castro de Úl foi descontinuada, dado que obrigaria a um desvio da rota ideal. Este problema já era perceptível devido à difícil passagem nesse ponto. Então como explicar a presença de miliários junto a este povoado proto-histórico? A explicação pode passar pela existência de uma via que partia do Castro de Lações para sudoeste rumo ao litoral que cruzava o rio Antuã junto do Castro de Úl. Deste modo, estaria explicado o facto de o segundo miliário ter sido encontrado em Adães, na outra margem do rio Antuã, junto da Igreja de Ns. de Febres (a uma milha da Igreja de Úl e a quatro milhas de Lações). Assim, esta via poderia continuar junto da Mamoa das Almas Mouras (nas traseiras da fábrica de moldes) em direcção a Freixo, seguindo daqui até Barreiro de Cima (de onde poderia partir um ramal de ligação ao Castro de Santiais),vencendo a décima milha junto da Capela da Ns. da Luz (10 m.p.), em Santo Amaro, onde conflui também a via litoral proveniente de Cale). Daqui poderia continuar por Beduído (Igreja de Santiago), cruzando o rio Antuã na base do Castro de Salreu (11 m.p.); continua por Antuã (EM563) e Santo (12 m.p. no cruzamento para Adou de Cima) e Salreu (Igreja de São Martinho, atingindo a 13ª milha no Cruzeiro da rua do Feiro). A continuação da via é ainda incerta, mas o nó viário deveria estar na 15ª milha a Lações, perfazendo 40 milhas a Cale, e a 12 milhas da Igreja de Úl, distância que corresponde ao valor indicado no miliário ali encontrado.
  • Blog: publicação de um novo post intitulado "Passagem por Tomar", da via Santarém-Coimbra. Apresenta-se uma nova proposta de traçado na aproximação a Tomar com base na contagem miliária passando por Ponte da Pedra, Atalaia, Venda de Peralva e Santa Catarina de Delongo, cruzando aqui a ribeira de Beselga rumo a Tomar. Por consequência o cruzamento desta via com a via proveniente de Ansião rumo a Tancos, passou de Paialvo para Delongo, explicando assim as notícias do aparecimento de miliários neste local. Fica assim resolvida a incerteza que pairava sobre a rede viária a sul de Tomar, em particular, acertando a marcação miliária a Lisboa. Esta alteração teve fortes implicações no acerto da chamada «via Colimbriana», via que bifurcava em Delongo, seguindo por Fungalvaz, Ansião, Aljazede, Penela e Chão de Lamas rumo a Coimbra. Ora, a directriz desta via sugere que na outra direcção, a via seguia para a travessia do rio Tejo na Barca de Tancos, subindo depois ao planalto de Tamazim, onde entronca na via para Mérida. Antes, descrevia-se este troço no âmbito de uma possível rota de Tomar a Mérida, mas pela directriz da estrada, é mais plausível que a via fosse de encontro a uma outra grande rota com origem em Collippo (Leiria) rumo também a Mérida e que cruzava o rio Tejo junto da Golegã. Deste modo o link #tomar_tancos passa a indicar uma hipotética ligação de Tomar a Tancos por Asseiceira, enquanto o link #leiria_mestas passa a indicar essa rota de Collippo a Emerita. Ainda sobre o traçado da «via Colimbriana», a principal alteração decorre do abandono da hipótese por Rio de Couros, seguida posteriormente pela Estrada Real, optando pela sua passagem por Freixianda rumo à travessia da ribeira de Caxarias no «Porto de Tomar», junto a Formigais. Junto desta travessia existe o «Marco da Soalheira», marco territorial de cronologia incerta, assinalando a divisória entre os concelhos de Ourém e Tomar. A passagem da via no «Porto de Tomar» é referida no documento de doação do Termo de Ceras, sendo um local estratégico desta via dado que se encontra a 22 milhas de Aljazede e a 22 milhas de Tancos, ou seja a meio-percurso entre estes lugares, sendo que de Aljazede a Coimbra são mais 20 milhas, partindo esta rota em três etapas regulares.

  • 2023

    2023 Dezembro
  • Blog: publicação de um novo post intitulado "Passagem por Alenquer", da via Lisboa-Santarém. O miliário da Quinta de Santa Teresa indicando 15 milhas pode não pertencer a esta via, mas a uma outra rota que corria transversal a esta, sendo o seu cruzamento em Alenquer.
  • Blog: publicação de um novo post intitulado "Travessias do Douro entre Régua e Numão", que pretende sintetizar a rede viária antiga neste troço do rio Douro. Ver entradas abaixo sobre miliários e trajectos destas vias. Notar a confluência no nó viário de Guilheiro das diversas vias identificadas, constituindo a grande encruzilhada desta parte da Beira Alta, de onde seguia para a travessia do Mondego e da Serra da Estrela rumo a Belmonte, entroncando na grande via para Mérida por Idanha-a-Velha, Segura, Alcântara e Cáceres. Estamos assim perante uma grande rota com origem em Chaves que ligava à capital da Lusitânia, formando um eixo estruturante conectando estes dois territórios.
  • Miliários: Em 2016, Vasco Mantas publicou um artigo sobre o achamento de um miliário na Quinta de Santa Teresa em Alenquer (Mantas,2016). A indicação miliária mostra o numeral XV, portanto incompatível com a distância entre esta povoação e Lisboa (ver entrada abaixo de Janeiro de 2018). Perante esta incongruência, este autor equacionou a hipótese de o marco poder assinalar uma outra via que não a via para Lisboa, mas sem especificar, tendo a questão ficado em aberto. De facto, a via Lisboa-Santarém cruzava em Alenquer com uma outra via que seguia para a margem do rio Tejo (a cerca de 5 milhas). No outro sentido, a via seguia de Alenquer para oeste, passando em Dois Portos e ligando a outra importante rota N-S, a via que ligava Lisboa a Óbidos (Eburobrittium). Ora, medindo a distância de Alenquer até entroncar na via para Óbidos (junto da povoação de Runa), obtemos precisamente as 15 milhas indicadas no marco. Deste modo, o miliário de Santa Teresa poderia indicar, não a via para Lisboa, mas esta via transversal (ver descrição da via em viasromanas.pt/#portos_alenquer). Notar que esta estrada de Runa à margem do Tejo, perfaz um total de 20 milhas, valor típico entre estações nesta região.(ver também entrada do blog sobre esta questão em https://viasromanas.pt/blog/index.php/2023/12/12/passagem-por-alenquer/).

  • 2023 Novembro
  • Miliários: publicação de um miliário recentemente identificado na aldeia de Chosendo em Sernancelhe. SANTOS, J. C. e ENCARNAÇÃO, J. d' (2023a). Miliário em Chosendo, Sernancelhe. Ficheiro Epigráfico 255 (864).

  • 2023 Outubro
  • Mapa de Vias: publicação da versão 5.4 com as mais recentes actualizações, nomeadamente a completa revisão da rede viária antiga na região do Alto Douro, entre a Régua e Numão descrita nas entradas abaixo. Os traçados mostram a preponderância da orientação geral norte-sul já verificada nas outras vias que cruzavam o rio Douro em resultado da difícil orografia cruzada pelo rio, procurando preferencialmente a sua travessia junto da foz dos seus afluentes, o que neste caso particular corresponde aos cais da foz do Ceira/foz do Tedo e da foz do Pinhão/foz do Torto (ver abaixo). Com a publicação destas vias agora cartografadas, foram finalmente identificados os eixos principais que cruzavam o Douro rumo à travessia da Serra da Estrela rumo a Mérida. De facto, tudo indica que as vias correspondentes as estes locais de cruzamento do Douro, acabam por se unir num traçado único em direcção a Belmonte, confluindo todas na Cruz do Guilheiro, já na zona planáltica, continuando daqui para a travessia da Serra da Estrela por Linhares, Quinta da Taberna e Barrelas até atingir a estação viária de Centum Cellas, onde entroncam no eixo principal para Mérida que segue por Igaeditana (Idanha-a-Velha) para a travessia do rio Tejo na Ponte Romana de Alcântara. Temos assim pela primeira vez, a cartografia completa dos itinerários que permitiam ligar Braga e Chaves a Mérida.
  • Itinerários: publicação da proposta de trajecto de um itinerário inédito que ligava Lamares à foz do rio Pinhão e rio Tedo. Esta via constitui um ramal da via proveniente de Chaves rumo à travessia do Douro em Covelinhas (por Panóias), desviando junto do Castro de Lamares para sudeste e seguindo por Vilar de Celas, São Martinho de Anta, Vilela e Serra de São Domingos. Aqui a via bifurcava, seguindo um ramo por alturas de Gouvães rumo à foz do rio Pinhão (totalizando cerca de 18 milhas) enquanto o outro ramo segue pela vertente oeste da serra passando junto da Mamoa da Meieira e seguindo descia à travessia do Douro junto da foz do Ceira/foz do Tedo. Todos estes percursos são pontuados por monumentos megalíticos o que atesta a sua antiguidade, sendo que muitas delas estão junto dos locais onde era vencida mais uma milha. Estes trajectos vêm completar a rede viária antiga nesta área do alto Douro, dando continuidade às vias identificadas a sul do Douro. Deste modo, a variante pelo Pinhão, tinha continuidade a partir da foz do rio Torto, quer por São João da Pesqueira e Horta (ver viasromanas.pt/#pesqueira_horta) quer por Paredes da Beira e Penedono (ver viasromanas.pt/#torto_belmonte), enquanto a variante que cruzava o Douro na foz do Ceira/foz do Tedo segue por Longa, Arcos e Riodades rumo a Guilheiro (ver viasromanas.pt/#tedo_guilheiro). Todas estas vias acabam por se reunir no importante nó viário de Guilheiro.

  • 2023 Setembro
  • Itinerários: revisão do trajecto do itinerário de Chaves a Moimenta da Beira, cruzando o rio Douro entre Covelinhas e Folgosa com base nos diversos marcos dispersos pela região, possíveis miliários. A via segue até Gogim (marco), bifurcando aqui em duas variantes até Cabeça de Alva. Um ramo segue por Lameira Longa, Leomil e Carapito (todos com marcos) e outro por São Martinho de Chãs (marcos), São Cosmado, Lapinha, Vale de Mogo (marco) e Castelo. Ver descrição em Chaves-Moimenta.
  • Itinerários: extensa revisão dos itinerários em Tabuaço, São João da Pesqueira e Numão, integrando na rede diversos troços de via que estavam até agora sem enquadramento. A recente identificação de possíveis miliários nesta região permitiu resolver o puzzle de como se interligam os diversos troços de vias. A saber, as quatro vias identificadas a partir das travessias do rio Douro a montante de Covelinhas: Foz do Tedo (por Longa), Bateiras (uma por Paredes da Beira e Penedono e outra por S. João da Pesqueira) e finalmente a via que partia da travessia em Arnozelo (por Numão e Ranhados). Todas estas vias seguem em direcção ao nó viário de Cruz de Guilheiro. A partir deste ponto a via segue uma orientação norte-sul rumo à travessia do rio Mondego junto a Fornos de Algodres (por Queiriz e Muxagata). Depois de cruzar o Mondego junto da Ponte de Juncais, ascendia a Serra da Estela por Linhares, cruzando a serra em direcção à Torre de Centum Cellas (Belmonte). Deste modo, forma-se um grande itinerário ligando esses pontos de travessia do Douro a Belmonte, ou seja, na via para Cáceres (e daqui a Mérida) pela Ponte de Alcântara. Antes estes troços finais estavam integrados num hipotético itinerário de Moimenta da Beira a Belmonte que afinal não se confirma e por isso retirado.
  • Miliários: inclusão de três possíveis miliários identificados em 2023 por José Carlos Santos no concelho de Armamar: o marco de Travanca, o marco de Gogim e o marco de São Martinho das Chãs.
  • Miliários: inclusão de dois possíveis miliários ainda inéditos identificados por José Carlos Santos no concelho de Tabuaço, o primeiro foi descoberto na povoação de Arcos em 2019 e o segundo em Longa em 2021 no âmbito dos levantamentos promovidos pelas respectivas juntas de freguesias.
  • Miliários: inclusão de três possíveis miliários no aro de Tarouca identificados por José Carlos Santos. O primeiro está numa casa particular na Av. Sá Carneiro nº 9 em Tarouca, mas estava antes na Rua de São Miguel na mesma povoação, servindo de pilar a um alpendre. O segundo está junto à Capela de São Pedro, na Rua Alberto Pereira Martins em Tarouca. Ambos assinalariam a via antiga N-S de Lamego a Viseu, indicando presumivelmente oito milhas, a distância de Tarouca a Lamego, reforçando a passagem da via nesta povoação. O terceiro marco está junto do Arco da Paradela e apresenta treze cruzes esculpidas, uma das quais no topo, o que indica a sua possível reutilização como marco monástico (Encarnação e Santos, 2022).
  • Miliários: inclusão de um miliário recentemente identificado na Rua das Canastras em Lisboa; a proximidade do achado à Casa dos Bicos, onde apareceu outro miliário faz supor que assinalavam o mesmo local, ou seja, a milha zero a partir de Lisboa. Ver, RIBOLHOS, R.; ENCARNAÇÃO (2023) - "Marco romano epigrafado da Rua das Canastras (Santa Maria Maior - Lisboa)". Ficheiro Epigráfico 241 (831).

  • 2023 Junho
  • Blog: publicação de dois posts sobre as "Transformações na orla costeira", o primeiro focado na costa ocidental e o segundo na costa algarvia.
  • Mapa de Vias: publicação da versão 5.3 com as mais recentes actualizações, nomeadamente os novos traçados da via Santarém - Évora e da via Tomar - Bemposta (ver abaixo).
  • Via Scallabis a Ebora: revisão deste itinerário, fixando a marcação miliária, permitindo nova interpretação do miliário do Monte Silval. Este poderia estar originalmente no sítio de Alcanede, onde a via faz uma inflexão, poucos metros a norte da casa do monte, a 12 milhas a Évora. O outro miliário conhecido desta via apareceu no Monte da Valeira, na oitava milha. Nestes locais é notável a concentração de monumentos megalíticos, permitindo recuar esta rota ao Neolítico Final. No caso de Alcanede/Monte Silval temos as antas do Carrascal, da Azinheira Galega, da Cegonheira, da Serranheira, assim como uma inscrição romana. O carácter viário destes locais é também evidente no caso do Monte da Valeira, dada a proximidade do recinto-torre do Cabeço do Diabo (para controlo do acesso a Évora), assim como o registo de duas antas, além dos vestígios romanos em torno da Capela de São Romão que poderá ser os restos da mutatio. A via cruzava o rio Sorraia em Coruche, onde há vestígios romanos no sítio da Quinta Grande, actualmente classificados como "casal agrícola", mas que poderia ter função viária atendendo ao achado de seis glandes plumbeae neste local, atestando presença militar. No entanto, a travessia poderia ser ligeiramente a montante, junto do sugestivo topónimo Monte da Barca, (ânfora romana), que até ao século XVI mantinha a designação de "Porto de Évora".
  • Via Tomar - Bemposta: criação deste itinerário que reúne troços antes dispersos que seria assinalada pelo miliário da aldeia do Crucifixo. A via deveria derivar da estrada Conímbriga-Tomar no lugar de Calçadas, seguindo por São Pedro de Tomar rumo à travessia do rio Zêzere a jusante da barragem de Castelo de Bode (sítio da Barca), continuando por Giesteira, Alqueidão, Outeiro e Quinta da Légua, rumo à travessia do rio Tejo entre Montalvo e Amoreira, onde há importantes vestígios romanos compatíveis com uma mutatio no sítio de Chã da Bica. Ascendia depois por Crucifixo (miliário) em direcção a Bemposta onde entronca o Itinerário XV para Mérida (aqui).

  • 2023 Abril
  • Términos - numa das torres da Sé de Viseu (Torre do Aljube) foi recentemente identificada uma inscrição que aparenta tratar-se de um Terminus Augustalis, aumentando assim a reduzida lista destes monumentos que na sua maioria foram encontrados na Região da Beira Interior. Ver em ENCARNAÇÃO, J. d'; GAIDÃO, R.; PINTO, A. (2023) - "Uma inscrição do imperador Augusto em Viseu". Coimbra: Ficheiro Epigráfico 243 (834).
  • Términos - no início de 2023 foi identificado um outro término Augustal no lugar de Gadanha, a sul da povoação de Contim (São Cosmado, Armamar), também colocado durante o consulado do Imperador Cláudio no ano 43 d.C., delimitando os COILARNI, a poente, e os ARABRIGENSES, a nascente. Esta inscrição veio confirmar esta disposição geográfica que era já intuída com base nos outros términos encontrados na região, permitindo estabelecer o rio Tedo e a ribeira de Leomil como linha divisória entre os respectivos territórios. Ver SANTOS. J.C. e ENCARNAÇÃO, J. d' (2023) - "Terminus augustalis inter Arabrigenses et Colarnos". Coimbra: Ficheiro Epigráfico 242 (832).

  • 2023 Março
  • Documentos: análise das vias referidas na Carta de Doação do Termo de Ceras de 1159 (DMP Doc. 271) e no Foral de Leiria de 1142 (DMP Doc. 189.
  • Blog: início da publicação de uma série de seis posts sobre o itinerário de Olisipo a Bracara ou Itinerário XVI de Antonino. O artigo aborda os principais problemas ainda em aberto neste itinerário, em particular sobre o posicionamento das estações de Ierabriga, Seilium e Talabriga, apresentando novas propostas de localização com base nas distâncias indicadas no itinerário, diferentes da sua identificação respectivamente com Alenquer, Tomar e Cabeço do Vouga.

  • 2023 Fevereiro
  • Blog: novo post sobre os chamados "Caminhos de Santiago" na viação antiga.

  • 2023 Janeiro
  • Miliários: Publicação de um possível miliário ainda inédito, actualmente encastrado num muro de uma casa na rua das Oliveiras, no lugar de Sernados em Ponte de Lima (50 cm de diâmetro e cerca de 100 cm de altura visível), eventualmente deslocado da via Bracara-Limia que passa cerca de 500 m a poente. O miliário serve actualmente de marco divisório entre as freguesias de Feitosa e Arca, pelo que terá sido deslocado para esse fim. Contributo enviado pelo seu descobridor, o Sr. Joaquim Ferreira. Ver no Google Street View.
  • Blog: novo post sobre a resiliência dos trajectos antigos intitulado, "Mas afinal o que é a via romana?".
  • Itinerário XVIII: revisão do trajecto e nova proposta de localização das estações na parte espanhola do Itinerário XVIII. As grandes divergências dos autores no país vizinho reflectem as várias incongruências encontradas no seu estudo, quer na marcação miliária no terreno, quer a sua relação com os valores entre etapas indicados no Itinerário de Antonino. O traçado até Geminas estava já bastante consolidado, mas a partir daí as propostas divergem. Analisando todos os dados e possíveis traçados, utilizando os métodos geográficos que utilizamos para a parte portuguesa, obtemos a seguinte sequência de estações e locais relevantes: Geminas (Torre de Sandiás), Salientibus (Vigueira de Abaixo, XVIII), Praesidio (Pobra de Trives, XVIII), Nemetobriga (Ponte da Cigarrosa, XIII, 120 milhas a Braga), Foro (IX, Pobra de Barco), Gemestario (Alto da Portela de Aguiar, XVIII) e Bergido (Cacabelos, XIII), entroncando aqui na via Lugo-Astorga, seguindo o trajecto desta via com uma estação intermédia localizada em Bembibre (a 20 milhas de Bergido), designada nos itinerários como Interamnio Fluvio ou Intereraconio Flavio, percorrendo as restantes trinta milhas até Astorga por Ribeira de Folgoso, Torre del Bierzo, São João de Montealegre, Manzanal del Puerto e Brimeda. Ver descrição do percurso aqui.

  • 2022

    2022 Dezembro
  • Mapa de Vias: publicação da versão 5.0 com as mais recentes actualizações, disponível aqui.
  • Itinerário Compleutica - Barca Dalva/Carril Mourisco: a identificação de um miliário no percurso do «Carril Mourisco» no apeadeiro de Urrós vem confirmar o trajecto da via ao longo da linha férrea até área do conjunto megalítico da Pena Mosqueira, nó viário da maior importância de onde partiam ramais de ligação a Penas Roias e Mogadouro. A via continua para Vila de Ala, local onde conflui num outro importante itinerário que tinha origem na estação viária de Babe (mutatio do Itinerário XVII de Chaves a Astorga), passando por Vimioso e Ponte de Algoso até Vila de Ala. O traçado desta última foi finalmente identificado em todo o seu percurso e passa a estar descrito aqui. Fez-se também revisão do traçado do Carril com pequenas correcções e ajustes, em particular na área entre Brunhosinho e Vila de Ala, havendo finalmente um acerto da marcação miliária no terreno.
  • Miliários: publicação de foto do miliário anepígrafo com base quadrangular, actualmente no apeadeiro de Urrós (Mogadouro), junto do Café Ramiro, e retirada do Google Street View. O miliário teria vindo de um pequeno curral na freguesia de Brunhosinho, assinalando a via que percorria o planalto Mirandês rumo a Barca Dalva, também designada por «Carril Mourisco».

  • 2022 Novembro
  • Referências: diversas citações dos itinerários romanos na área de Valongo na magnífica obra coordenada por Lino Tavares Dias intitulada "Os Romanos em Valongo", com textos de diversos autores e que foi recentemente editada pela Câmara Municipal de Valongo (Junho de 2022), sendo apresentada em sessão público a 24 de Novembro que contou com a notável participação do Prof. Jorge de Alarcão. O livro foca-se essencialmente nos importantes vestígios de mineração romana do concelho (vídeo). Neste âmbito, importa deixar uma nota sobre a epígrafe que se encontra encastrada na parede exterior da Capela de São Bartolomeu de Susão, aparentemente dedicada a uma divindade designada Alboco (RAP 6). No entanto, Alboco poderá ser antes a contracção da Albo Celo, divindade referida numa inscrição actualmente na Igreja Paroquial de Ns. da Assunção em Vilar de Maçada (Alijó) (CIL II 2394b). Também é possível que esta divindade esteja relacionada com os Albocelenses, povo referido numa inscrição de Miranda de Azán (Salamanca), cuja capital, Albocela, surge como uma das estações entre Salamanca e Zaragoza (IA, 434, 7). Por sua vez, Ptolomeu indica que Albocela era um dos povoados dos Vaccaei (Geo, II, 6), dados que concorrem para a sua localização a norte de Salamanca, oscilando actualmente entre Villalazán e Toro (ambos a este de Zamora, nas proximidades do rio Douro). A ser assim, teríamos imigrantes deste povo na área das Minas de Valongo. Este fenómeno tem paralelo no complexo mineiro de Trêsminas, onde se regista a presença de diversos imigrantes Clunienses, possivelmente técnicos de mineração. Por sua vez, a exploração de Valongo está associada a um importante eixo viário que ligava Cale a Tongobriga passando no Castro de Quires, estrada que tinha a primeira estação precisamente junto da Igreja Matriz de Valongo, a oito milhas do Porto. Deste modo, é provável que a povoação actual tenha origem nesta estação viária relacionada com a actividade mineira (ver itinerário Cale - Tongobriga).

  • 2022 Agosto
  • Miliários: publicação de foto de um possível miliário em Monção que actualmente serve de marco territorial (retirado de Santos-Estévez et al., 2017: 82, fig. 9). Poderia assinalar a via Braga-Monção (?).

  • 2022 Julho
  • Itinerário Marnel - Viseu: as dúvidas sobre o verdadeiro trajecto deste itinerário estavam relacionadas com a indicação de 18 milhas no miliário da Igreja de Vouzela dado que existe uma rota ligando Viseu a Vouzela com apenas 15 milhas, seguindo próximo das Minas da Bejanca, Carvalhal do Estado (miliário), Figueiredo das Donas e Fataúnços (miliário). Esta diferença poderia ser explicada pelo deslocamento do miliário para Vouzela a partir da milha dezoito. No entanto, essa distância corresponde a São Tiaguinho, já no concelho de Oliveira de Frades, o que fragiliza esta hipótese. Assim, se a milha dezoito era de facto em Vouzela, então a contagem miliária teria de seguir outro trajecto três milhas mais longo. Ora, essa distância corresponde ao trajecto que por Abraveses, Pascoal, Moselos (miliário), Bodiosa (miliário), Mozelos, Gumiei e Lufinha, rumo a São Pedro do Sul e daqui a Vouzela, cruzando o Vouga junto das Termas de São Pedro do Sul. Apesar deste percurso obrigar à dupla travessia do Vouga (solução pouco habitual na viação antiga), o trajecto perfaz de facto as dezoito milhas indicadas no miliário de Vouzela. Esta solução permite acertar a marcação miliária subsequente, com o miliário da minha vinte em Vilharigues (recentemente identificado; ver respectiva entrada em Janeiro 2022), o miliário de Numeriano de Reigoso indicando 26 milhas e o miliário de Benfeitas 31, distância que corresponde a divisória entre os concelhos de Sever do Vouga e Oliveira de Frades. Apesar do traçado principal contar com mais três milhas, o objectivo seria evitar as fortes pendentes no trajecto por Carvalho do Estanho, possivelmente uma via secundária relacionada com a actividade mineira que funcionava como um atalho para quem ia de Viseu a Vouzela.

  • 2022 Junho
  • Términos: publicação de foto e interpretação do marco territorial (Terminus Augustalis) recentemente identificado em Aricera (Armamar), reutilizado numa casa da aldeia (FE 808); ver aqui
  • Miliários: publicação de foto de um possível miliário ainda inédito que serve de suporte do altar da Capela de Fraião (Braga). Caso se confirme tratar-se de um testemunho viário, assinalaria seguramente a via Bracara-Tongobriga que passa cerca de 200 m a sul da capela (rua da Boavista). Deste modo, teríamos um segundo testemunho desta via além do conhecido miliário de São Martinho de Sande. A fotografia foi retirada deste site: www.archdaily.com/983193/

  • 2022 Maio
  • Mapa de Vias: actualização do mapa de vias com a publicação da versão 4.8. Principais mudanças: inclusão do traçado da via entre a Ponte de Picões e a Foz do Rio Sabor, cruzando o Vale da Vilariça; inclusão do traçado da via entre Coimbra e Ansião passando na estação viária da Eira Velha e revisão do traçado entre Conímbriga e Bobadela; inclusão do traçado da via de Alter do Chão ao Tejo passando por Nisa; grande revisão dos traçados nos termos de Moura e Serpa em resultado da nova proposta de localização das estações de Fines e Arucci (ver abaixo mais detalhes das alterações).

  • 2022 Fevereiro
  • Miliários: publicação de fotos de diversos possíveis miliários recentemente identificados no concelho de Moimenta da Beira, servindo para delimitação do Couto de Salzedas. Estes marcos vêm (re)confirmar o percurso anteriormente proposto para esta via que vem da travessia do Rio Douro em Peso da Régua e que segue até Moimenta da Beira, bifurcando aqui para Marialva e Linhares. Ver ENCARNAÇÃO, José d', SANTOS, J. C. (2021) - "Presumíveis miliários do itinerário romano Peso da Régua - Moimenta (Arabriga?) - Marialva (Civitas Aravorum)". Antrope, 13, 82-111.

  • 2022 Janeiro
  • Miliários: publicação de um "novo" miliário dedicado ao imperador Máximo que foi encontrado por Luís André em 2019 próximo do Paço de Vilharigues. Este miliário vem (re)confirmar a passagem da via para Viseu em Vilharigues (Redentor, 2021: 215-216). Publicação de uma foto do miliário do autor.
  • Itinerário de Picões a Freixo de Numão: a existência de miliários nas aldeias de Argana e Ervedosa indiciavam a existência de uma via sensivelmente perpendicular ao Itinerário XVII derivando deste em Lamalonga rumo às Minas de Ervedosa, junto do rio Tuela (Mendes, 2006). Ora, esta via parece integrar uma grande eixo viário que partia da travessia do rio Rabaçal na Ponte de Picões (estrada para Vinhais) seguindo por Nuzede de Baixo, Lamalonga, Nozelos (onde apareceu outro miliário), rumo à Foz do Sabor passando a Vilariça ao Vale da Vilariça teria continuação para sul a partir de Lamalonga, seguindo por Nozelos (onde apareceu outro miliário), Castro romanizado de Terronha de Pinhovelo (Macedo de Cavaleiros) em direcção ao Vale Vilariça, percorrendo assim o território dos Banienses até à Foz do Sabor. Aqui cruzava o rio Douro para Monte Meão e dirigia-se para Freixo de Numão, entroncando na via que vinha da Barca do Vesúvio. Anteriormente consideramos estes troços separadamente, considerando que a via partiria da travessia do rio Tuela em Torre de Dona Chama, hipótese que se revelou inviável. Foi Sande Lemos que inicialmente alertou para a possibilidade de existência de uma via ao longo do Vale da Vilariça (Lemos, 1993), mas o seu traçado, assim como o seu destino final permanecia incerto. Com a ligação destes dois percursos forma-se assim um grande itinerário N-S que percorre o território transmontano rumo ao Douro. Ao longo do seu trajecto encontramos diversas explorações mineiras do tempo romano, mas toda esta rota era já utilizada na Idade do Ferro atendendo à sucessão de povoados fortificados desse período nas proximidades da via. Ver descrição aqui.
  • Itinerário Coimbra - Eira Velha - Ansião: a escavação da estação viária da Eira Velha (Lamas, Miranda do Corvo) evidenciou o cruzamento de duas vias neste local; uma seria proveniente de Conímbriga e segue para Bobadela (passando na Ponte da Mucela), e outra, com direcção N-S, seria proveniente de Coimbra e segue rumo a Penela (Ramos e Simão, 2012). O traçado desta última foi revisto e actualizado com marcação miliária, verificando-se que a estação viária se encontra a 10 milhas do Mondego (admitindo que cruzava o rio no sítio das Lajes). A partir da Eira Velha, a via continuava para sul por Venda de Podentes, Penela e Dueça, cruzando pouco depois o Itinerário XVI, ou seja, a estrada principal Coimbra - Tomar, junto da mutatio da Póvoa/Aljazede (Cravo; 2010). Segundo a nossa proposta de percurso, esta mutatio do Itinerário XVI encontra-se a 10 milhas da Eira Velha e a 20 de Coimbra, mostrando que a via é dividida em etapas de 10 milhas. Continuava depois até Ansião e daqui segue próximo de Almoster, Arneiro e Chão de Couros rumo à estação viária de Paialvo (a oeste de Tomar), onde reencontra o Itinerário XVI. De Ansião a Paialvo contam-se cerca de 30 milhas, confirmando a divisão do percurso em módulos de 10 milhas.

  • 2021

    2021 Dezembro
  • Itinerário XVII de Braga a Chaves: finalmente foram resolvidas as dúvidas sobre o verdadeiro percurso deste itinerário. A correcção do traçado em alguns pontos permitiu acertar a marcação miliária com os miliários conhecidos. A saber: a descida da Portela de Cambedo para a Ponte do Arco segue um trajecto mais curto que encurta o percurso em uma milha, permitindo acertar as distâncias, com a milha 34 a ser vencida na Ponte do Arco e a 35 em Padrões. Consequentemente, a localização da estação Praesidium, a 46 milhas de Braga, deverá corresponder ao Alto de Leiranque/Cruz de Leiranque, onde aliás apareceu um miliário. Toda esta área ficou submersa após a construção da barragem do Alto Rabagão, o que tem dificultado a identificação do traçado e consequentemente também a determinação da distância percorrida. Uma reanálise deste troço permitiu encurtar o trajecto de forma que a milha 48 corresponde ao sítio romano da Leira dos Padrões e a milha 50 à aldeia de Travassos, local onde a via bifurcava nas duas variantes a Chaves, uma mais setentrional pela região mineira de Solveira e Vilar de Perdizes, e outra mais meridional, seguindo por Arcos, Alto do Pindo, Malhó, Sapelos e Serra da Pastoria, percurso aliás pontuado por diversos miliários que servia a região mineira do Vale do Terva. Desta forma acerta-se a marcação miliária com as 59 milhas indicadas no miliários do Alto do Pindo e com as 65 milhas indicadas no miliário de Lapavale em Sapelos. Confirma-se que o Itinerário XVII não seguia a variante sul, mas a variante por Ciada e Vilar de Perdizes. No entanto, a localização de Caladuno a 62 milhas de Braga não coincide com o povoado romano da Ciada (onde antes propusemos a localização desta estação), mas mais adiante, ou seja, no vicus da Veiga de Vilar de Perdizes, onde de facto era vencida a 62ª milha, com uma grande concentração de vestígios relacionáveis com uma estação viária, em particular, uma ara a Júpiter e outra dedicada à divindade local Larouco, culto presente no santuário rupestre da Penascrita, onde uma inscrição colocada por soldados Legião VII Gémina dedicada a esta mesma divindade, atesta a importância deste local no contexto viário. Desta forma, pensamos que Caladuno deverá ser localizada neste vicus viarum. Notar que daqui partia um ramal de ligação a Geminas, reforçando a importância deste nó viário. Aliás, só este percurso mais a norte acerta com as 43 milhas a Chaves registadas em miliários que apareceram na Ponte do Arco, mostrando que a distância total entre Braga e Chaves era de 77 milhas e não as 80 indicadas no itinerário. Portanto, a marcação miliária é referente a este percurso mais curto, enquanto a etapa do tramo Caladuno-Aquae Flaviae referido pelo Itinerário teria de ter mais 3 milhas. De facto, se traçarmos um percurso por S. Caetano (necrópole), Alto das Coroas (povoado fortificado), Ervededo, Torre do Couto e Outeiro Seco até Chaves, obtemos esse valor. Assim, pensamos que este seria o percurso indicado no Itinerário enquanto a marcação miliária indica um percurso 3 milhas mais curto que terá suplantado o anterior trajecto.

  • 2021 Novembro
  • Mapa de Vias: actualização do "Mapa de Vias" com a publicação da versão 4.6. Agradeço que ao citar o mapa indiquem a versão e o momento da consulta. As principais alterações são as seguintes:
  • Vias da Serra da Estrela: revisão das vias que partiam de Viseu na direcção do Mondego rumo à Serra da Estrela, nomeadamente com a inclusão do Itinerário de Viseu a Seia passando no recentemente identificado miliário de Santa Comba (Seia). Este itinerário partia de Viseu rumo à travessia do rio Dão na Ponte de Alcafache. Segue depois por Abadia de Espinho, local a 7 milhas do rio Dão, valor que é o valor indicado no miliário de Cláudio da Quinta da Ponte (ver abaixo "Vias em Mangualde"); continua para a travessia do rio Mondego em Porto Senhorim (a 12 milhas de Alcafache), e daqui segue até Santa Comba (a 8 milhas do Mondego). O miliário de Santa Comba assinalava o cruzamento desta via com a via de Celorico a Bobadela. Notar o acerto da marcação miliária com os miliários conhecidos, seguindo o habitual padrão de etapas com 12 milhas. Ver Itinerário de Viseu a Seia.
  • Vias em Mangualde: O itinerário de Viseu a Mangualde foi revisto com um melhor acerto da marcação miliária com os marcos encontrados nesta rota. Deste modo o cruzamento em Mangualde com a via N-S que segue paras as travessias do Mondego e do Dão (rumo a Bobadela e a Coimbra, respectivamente) não se faria junto da Igreja de Mangualde como propusemos antes, mas a norte deste local, junto do miliário da Cruz, localizado a cerca de 11 milhas de Viseu. Daqui segue pela base do castro da Sra. do Castelo junto da mansio da Quinta da Raposeira, seguindo depois por Almeidinha, Casal de Cima (onde identificamos um miliário inédito junto da fonte da rua do Forno), continua por Cervães (miliário convertido em alminhas) e Abrunhosa-a-Velha (1 miliário da milha 18 e outro da 20) rumo à travessia do rio Mondego na Barca Velha de Poço Moirão. O miliário da Cruz em Mangualde estava no cruzamento desta via com outra na direcção N-S que segue por Senhorim rumo a Nelas, de onde poderia ligar à travessia do Mondego nas Caldas da Felgueira rumo a Bobadela, ou continuar para oeste rumo à travessia do rio Dão em Santa Comba, seguindo daí para Coimbra. Estes parecem ser os eixos principais que cruzam Mangualde, no entanto, subsistem ainda muitas dúvidas, em particular quanto ao posicionamento original de dois miliários encontrados nesta área ainda com a marcação miliária visível e ambos indicando muito provavelmente a distância ao Mondego. Se o marco de Licínio indicando 11 milhas corresponde de facto à distância entre o Mondego/Felgueira e Santa Luzia, local onde terá aparecido o marco, o mesmo não de pode dizer do marco que apareceu na Quinta da Ponte, Abadia de Espinho, pois este indica 7 milhas, distância insuficiente para percorrer o caminho entre o Mondego e Espinho que ronda as 9 milhas. Por outro lado, a possibilidade de a via proveniente de Mangualde cruzar esta ponte rumo a Senhorim não nos parece viável (contra Vaz, 1976) porque obrigaria a cruzar a ribeira do Castelo por duas vezes, situação de todo anormal na viação antiga quando existe claramente um traçado a seco entre estes pontos, passando na Fonte do Alcaide rumo a Senhorim; daqui segue até Nelas, onde cruza a via proveniente de Viseu rumo à travessia do rio Mondego em Felgueira. Deste modo, é mais provável que o miliário de Cláudio da Quinta da Ponte tivesse outra referência para a contagem miliária, integrando portanto uma outra via. Ora, esta via com directriz O-E vinha de Alcafache por Lobelhe e Moimenta até à Abadia de Espinho, percurso com cerca de 7 milhas, ou seja, as mesmas que são registadas no miliário. Daqui a via segue para o Mondego, rio que cruzava em Porto Senhorim/Cambelo, percurso com cerca de 5 milhas, seguindo depois por Santa Comba rumo a Seia.
  • Biblio: Os resultados das recentes escavações na Torre Velha de Castro de Avelãs revelaram a total ausência de sinais de ocupação pré-romana, o que vem fragilizar a hipótese da sua identificação com a sede do povo Zoela. No entanto, é possível que o povoado integrasse a Ordo Zoelarum que colocou uma inscrição dedicada à divindade Aerno (hoje perdida). A epigrafia parece também apontar nesse sentido, dada que na sua grande maioria são inscrições funerárias referentes a peregrini, não havendo nenhuma que possa atestar a sua suposta capitalidade (p. 339), apesar dos autores adiantarem algumas possíveis explicações para esse facto. Estes resultados vêm reforçar o carácter viário desta estação que deverá ser identificada com Roboretum, a estação mencionada no Itinerário XVII de Antonino. REDENTOR, Armando et al. (2018) - "Torre Velha de Castro de Avelãs (Bragança): resultados arqueológicos e novidades epigráficas".

  • 2021 Outubro
  • Itinerário de Mirobriga (Santiago do Cacém) a Myrtilis (Mértola): nova proposta de traçado entre Santiago do Cacém e Mértola; antes fazia-se passar a via por Castro Verde e Santa Bárbara de Padrões, onde se supunha a existência de uma estação viária. No entanto, o percurso revelou-se inviável, em particular na aproximação a Mértola. Deste modo, parece que o trajecto seria paralelo e um pouco mais a norte, passando nas importantes Minas de Aljustrel, continuando depois junto do Castelo Velho de Cobres e da Ermida de Ns. de Aracelis rumo a Mértola, marginando o importante fortim militar romano da época republicana conhecido por Mata-Filhos. Este situa-se nos contrafortes da Serra da Alcaria Ruiva. A entrada em Mértola fazia-se pelo lado norte, confluindo pouco antes na via proveniente de Beja. Assim, a hipótese de Santa Bárbara de Padrões poder corresponder à estação de Arannis fica ainda mais fragilizada.
  • Blog: novo post sobre o projecto falhado de construção de uma ponte sobre o rio Douro entre Barqueiros e Barrô nos alvores da nacionalidade. Ver em https://viasromanas.pt/blog/index.php/2021/10/30/ponte-do-douro-um-projecto-falhado

  • 2021 Setembro
  • Vias do Algarve: grande revisão da rede viária do Algarve com base numa nova interpretação do miliário descoberto em Bias do Sul (aliás o único miliário conhecido do Algarve). Segundo a nossa proposta, este miliário não assinalava a via litoral entre Faro e a foz do rio Guadiana (como sempre se acreditou desde a sua descoberta nos anos 20 do século passado), mas a uma outra via que corria de Bias do Sul para norte, seguindo por Moncarapacho (cruzando aqui a referida via litoral) e São Brás de Alportel, nó viário e porta de entrada/saída da serra Algarvia, onde se unia à via "principal" proveniente de Faro rumo a Alcácer do Sal. Consequentemente o trajecto do Itinerário XXI da foz do Guadiana a Faro foi revisto, em particular na sua passagem por Moncarapacho e junto ao Guadiana. Nesta zona a via teria de evitar os esteiros que então penetravam até Rio Seco e São Bartolomeu, obrigando a um traçado mais interior. Corrigido o trajecto, obtivemos as 60 milhas indicadas no Itinerário que correspondem à distância entre a Ermida de São Luís em Faro e a margem direita do Guadiana próximo de Castro Marim (ver Itinerário Baesuris a Ossonoba). A nova proposta de uma via entre Querença e Bias está descrita em detalhe num post publicado no blog a 9 de Setembro que pode ser lido aqui.
  • Itinerário de Collippo (Leiria) a Eburobrittium (Óbidos): esta via bifurcaria em Aljubarrota, onde poderia existir uma mutatio (em vez do Carvalhal como anteriormente proposto). Um ramo mantém a directriz N-S e segue por Carvalhal, Fonte Santa, Zambujeira, Palhota, Tagarro e Ota, rumo a Alenquer (ver itinerário). O outro ramo segue por Alcobaça, Alfeizerão e Salir de Matos rumo a Óbidos. O traçado desta via entre Aljubarrota e Alcobaça foi também revisto, alterando a anterior proposta que fazia passar a via na Quinta dos Ingleses (seguindo uma sugestão de Vasco Mantas que menciona um troço lajeado neste local); no entanto, este trajecto será muito posterior. Tudo indica que a via seguia antes por Outeiro de Lusia, Boa Vista de Cima, Casal da Palmeira rumo à ponte sobre o rio Alcoa em Alcobaça, a 4 milhas de Aljubarrota. A via seguiria depois por Vestiaria e Cela rumo a Alfeizerão onde apareceu um miliário de Adriano. É duvidoso que seguisse propriamente até ao vicus portuário que ali existia, defronte da antiga orla costeira, sendo possível que o miliário estivesse originalmente em Casal do Pardo, dado este local estar a 12 milhas de Aljubarrota, distância típica entre estações viárias, mas também à mesma distância da cidade portuária de Eburobrittium. A marcação deste ponto da estrada no tempo do imperador Adriano, sugere possíveis reparações da via, eventualmente relacionadas com a implantação do vicus no porto de Alfeizerão. Na época o povoado assentava sobre um pequeno promontório, com um braço de mar penetrando pela foz da ribeira de Alfeizerão, não sendo possível portanto, um trajecto por Vale de Maceira e Valado de Santa Quitéria como se tem proposto. Assim, é mais provável que o percurso se fizesse em altura com a mutatio localizada em Casal do Pardo junto da milha 12, onde aliás apareceu uma estela funerária. Aliás o miliário terá sido encontrado a pouca distância, no lugar da Ramalhiça (Mantas, 1986), facto que vem reforçar a nossa proposta. Daqui seguiria depois por Charnais, Salir de Matos e a nascente de Caldas da Rainha rumo ao povoado romano de Eburobrittium próximo de Gaeiras.

  • 2021 Agosto
  • Blog: novo post sobre a possível rota romana ligando o rio Lima ao rio Minho passando no acampamento romano da Lomba de Mouro, recentemente identificado, junto da Portela de Pau em Castro Laboreiro. Ver em https://viasromanas.pt/blog/index.php/2021/08/17/a-via-da-lomba-do-mouro-castro-laboreiro

  • 2021 Julho
  • Rotas - Via militar da Lomba do Mouro: A propósito da escavação em curso no acampamento militar romano da Lomba do Mouro (Castro Laboreiro), cujos resultados preliminares apontam para o período da conquista do noroeste peninsular, tentei identificar o possível traçado da via que cruzava o acampamento romano, situado nas alturas de Castro Laboreiro, actual fronteira Galiza/Portugal, numa área também com vários monumentos megalíticos. De facto, se prolongarmos a via para sul percorrendo a linha de festo da serra vamos de encontro à Via Nova, cruzando o rio Lima num um meandro designado por Retorta, próximo da povoação de Torno (Lobios), local onde a «Via Nova» atingia a milha 45 a Bracara. Esta trajecto seria uma derivação para noroeste, ascendendo a serra por Lama e Ferreiros até à Ermida de San Benito, continua depois por alturas da serra até ao acampamento romano, situado a cerca de 13 milhas do rio Lima e a 14 da «Via Nova», distâncias habituais entre estações viárias. O campo ostenta ainda os vestígios da sua muralha com 2,2 m de espessura, fechando uma grande área com mais de 20 hectares. A existência deste acampamento implica que a via teria continuação para a Galiza, mas o seu percurso é bem mais obscuro. De facto, a continuação da via para norte vê-se muito dificultada pelo acidentado do terreno do lado Galego pelo que é bem provável que a via mude a direcção que trazia do rio Lima, descendo primeiro até próximo de Castro Laboreiro (por Alto da Picota, Queimadelo, Falagueiras, Coriscadas e Porto de Carros), para daqui rumar novamente para norte, percorrendo o vale pela margem esquerda do rio Trancoso até São Gregório (seguindo por Vido, Portelinha, Porteiro/ Porto de Asnos/ Porto de Cavaleiros, Alcobaça, A-da-Velha, Campo do Souto, Sobreira, Cristoval), para cruzar este mesmo rio na Ponte Velha/ Ponte Barxas, a antiga porta de entrada em território Galego. Depois seguia talvez por Vendas e Trado, passando junto da Ermida de San Xusto, mas o seu destino final continua incerto. Atendendo à grande dimensão deste acampamento, assim como a sua sólida muralha, indiciam que esta passagem foi extremamente importante no avanço do exército romano durante o período inicial da conquista, ocupando um local absolutamente estratégico entre o rio Lima e o rio Minho, a cerca de 14 milhas tanto da «Via Nova» como da entrada na Galiza. Embora fosse pressentido que existia uma via desviando da «Via Nova» para norte, a identificação e caracterização deste assentamento vem reforçar em definitivo a importância desta passagem, assim como a sua integração nos grandes itinerários que cruzavam esta região. Ver também entrada no blog: https://viasromanas.pt/blog/index.php/2021/08/17/a-via-da-lomba-do-mouro-castro-laboreiro/
  • Itinerário XVIII («Via Nova»): na sequência do anterior, e com o intuito de identificar o ponto onde esta via deriva do Itinerário XVIII, procedeu-se à revisão da marcação miliária da «Via Nova». Daqui resultaram diversas alterações: a milha zero foi reposicionada na antiga porta norte da cidade. Deste modo a primeira milha corresponde ao topo norte do cemitério em Areal de Baixo, a segunda à Capela das Sete Fontes, na divisória entre freguesias, e a terceira a Adaúfe. Permanecia a dúvida sobre o local de travessia do rio Cávado, mas pela marcação miliária é mais provável que esta se fizesse na Azenha do Ribeiro, seguindo depois para Barreiro onde vencia a milha seis. Mais adiante, corrigiu-se o trajecto da «Via Nova» junto a Campo do Gerês; a marcação miliária sugere que o trajecto original corresponde à actual estrada, encurtando ligeiramente o percurso e desse modo, acertando a milha 28 com a entrada da aldeia. Daqui à Portela do Homem não há alterações. A partir daqui prolongou-se a cartografia da via até Aquis Querquennis. A contagem miliária coloca a milha 51 junto do acampamento romano junto a Puerto de Quintela, a milha 52 em Baños de Bande e a milha 53 junto da travessia do rio Cadones, próximo da qual apareceu um miliário indicando essa mesma distância. Esta parte do itinerário pode ser consultada aqui.
  • Mapa de Vias: publicação da versão 3.7 do mapa de vias e sítios com, entre outras, as rectificações descritas acima.

  • 2021 Março
  • Lisboa: A chamada variante pela margem direita do Tejo da via de Lisboa a Santarém poderia não existir no período romano. É um percurso atípico na viação romana, obrigando à constante travessia dos seus afluentes. Assim, a suposta ponte romana de Sacavém referida por Francisco d'Holanda não deve passar de um equívoco deste autor, devendo ser de um período posterior. Hoje é praticamente consensual fazer passar a via por Loures, onde apareceram miliários. Daqui segue até ao Povoado do Monte dos Castelinhos, situado precisamente a 30 milhas de Lisboa (contadas a partir da margem do Tejo no Campo das Cebolas). O acerto da marcação miliária com a distância indicada no "I. A." para Ierabriga vem confirmar a proposta já adiantada por João Pimenta de identificar este povoado com o Monte dos Castelinhos. O facto deste povoado da Idade do Ferro estar precisamente no limite do concelho de Lisboa é outro indicador da importância desta estação. Por outro lado, a sua tipologia é bem mais adequada ao topónimo Ierabriga que aponta para um povoado fortificado. No entanto, é muito provável que a estação viária no período romano tivesse sido estabelecida junto da ribeira de Alenquer, na actual povoação, atendendo aos vários vestígios aí encontrados e à concentração de miliários nesta zona. O outro grande itinerário segue de Loures para Óbidos e Leiria, ou seja, por EburobrittiumCollippo. A milha zero corresponde ao largo das Cebolas junto ao Tejo onde estaria o miliário de Probo que apareceu na Casa dos Bicos. Para sul, cruzava o Tejo para Cacilhas e daqui a Coina (Aquabona), onde bifurcava rumo ao porto Setúbal (Caetobriga) (pela Serra da Arrábida) e para Alcácer do Sal (Salacia), passando junto a Palmela.
  • Artigos: Soutinho, Pedro (2021), "Ad n. 731-733". FE 210, Addenda et corrigenda, 3-5. Publicação no «Ficheiro Epigráfico» 210 de alguns comentários sobre os números FE 731 a 733 (possíveis miliários no concelho de Moimenta a Beira) - ver também Itinerário https://viasromanas.pt/index.html#regua_moimenta.

  • 2021 Janeiro
  • Item ab
    OLISIPONE
    EMERITAM

    AQUABONA
    CATOBRICA
    CAECILIANA
    MALATECA
    SALACIA
    EBORA
    AD ATRUM
    DIPONE
    EVANDRIANA
    EMERITA


    m.p. CLXI

    m.p. XII
    m.p. XII
    m.p. VIII
    m.p. XXVI
    m.p. XII
    m.p. XLIIII
    m.p. VIIII
    m.p. XII
    m.p. XVII
    m.p. VIIII

    Itinerário
    Corrigido

    Aquabona
    Caetobriga
    Caeciliana
    Malateca
    Salacia
    Ebora
    Ad Atrum
    Dipone
    Evandriana
    Emerita


    m.p. CCXIII

    m.p. XII
    m.p. XII
    m.p. VIII
    m.p. VIII*
    m.p. XXI*
    m.p. XLIIII
    m.p. LXX*
    m.p. XII
    m.p. XVII
    m.p. VIIII
  • Itinerário XII: revisão da problemática localização das estações intermédias entre Setúbal e Alcácer do Sal, nomeadamente Caeciliana e Malateca. Não há qualquer dúvida quanto à existência de erros neste itinerário, dado que as 46 milhas indicadas entre Caetobriga e Salacia ultrapassam em muito a distância real entre Setúbal e Alcácer que rondará no máximo 35 milhas. Anteriormente propusemos uma correcção na sequência de estações e nas distâncias intermédias entre estações (ver a entrada "Itinerário XII" de 2017 Novembro) de forma a justificar as incongruências do itinerário no I.A; então foi proposto uma localização de Caeciliana no sítio da Palma, antiga estação viária mencionada no «Roteiro Terrestre» do MPAM, dado que assim teríamos um acerto com as distâncias indicadas, isto é, 8 milhas a Marateca e 12 milhas a Alcácer do Sal; mas para isso era necessário não só trocar a ordem das estações como corrigir a distância de Setúbal a Marateca para 14 milhas, situação pouco comum nos Itinerários. No entanto, uma análise dos traçados mais prováveis com base em critérios geográficos levaram a uma revisão desta proposta nos moldes que passo a explicar. Para quem vinha de Alcácer do Sal para norte e depois de cruzar a ribeira de Marateca, onde situamos e mantemos a localização de Malateca (no morro adjacente), a via continuava para o Monte da Lentisqueira (@41.5329981,-8.4415129), onde deveria bifurcar, com um ramo mantendo a mesma directriz rumo a Lisboa e outro inflectia para sudoeste rumo ao porto de Caetobriga (Setúbal); ora esta bifurcação era o local ideal para instalar uma estação viária; acresce que este ponto está situado precisamente a 8 milhas de Caetobriga tornando esta proposta compatível com o indicado no Itinerário. De facto, o trajecto mais curto para Lisboa seria por Palmela até Aquabona (Coina) e daqui à travessia do rio Tejo em Cacilhas (troço conhecido por «Estrada dos Espanhóis»), evitando assim o grande desvio por Setúbal (mais 4 milhas) e consequentemente evitando também a difícil travessia da Serra do Louro. Assim propomos que estando Caeciliana junto desta bifurcação, então haveria que rever a distância até Alcácer. Assim, a distância até Malateca deve ser corrigida de 26 milhas para 8 enquanto a etapa seguinte passaria das 12 milhas indicadas para 21 milhas; desta forma há acerto total com a realidade geográfica, mantendo a sequência de estações indicada no I.A.; estes erros poderão ter origem numa transcrição errada do texto original visto que os numerais indicados podem ser facilmente confundidos; no primeiro caso o Itinerário indica 26 milhas a Malateca (distância de todo impossível) quando deveria indicar oito, ou seja, uma troca entre os numerais «XXVI» e «VIII»; no caso da distância de Malateca a Salacia temos 12 milhas quando a distância real é 21 milhas, ou seja, uma troca entre os numerais «XII» e «XXI». Em síntese, estou convicto que esta solução andará muito perto da verdade, mas de facto não temos conhecimento de qualquer vestígio romano na área do Monte da Lentisqueira, achados esses que poderiam ajudar a resolver a questão. Aliás o seu desaparecimento da paisagem poderá dever-se à relativa modéstia das suas instalações, não passando eventualmente do edifício da própria albergaria, assim como ao revolvimento de terras devido à actividade agrícola.
    Interessante notar que este local ainda hoje é utilizado para separar as freguesias de Palmela e Marateca, um indicador da sua antiguidade e do seu carácter fronteiriço; além disso a distância deste ponto a Coina que ronda as 16 milhas, é um valor típico entre estações viárias e também a dimensão habitual de uma civitas romana na Lusitânia, reforçando assim a nossa proposta. Ao longo da presumível via, actualmente designada por «Estrada dos Espanhóis» (EM533 e CM1040, ligando Palmela a Marateca), subsistem topónimos viários como «Vendas» e «Cabeço da Vigia», mas é precisamente junto deste cruzamento que surge o interessante topónimo «Rua dos Galeanos», eventualmente uma corrupção de Caelianos por Caeliana (?).
    Por último, uma nota sobre qual seria o verdadeiro nome desta estação viária. No Itinerário surge como Caeciliana, mas numa fonte mais tardia como é o «Ravennatis», surge simplesmente como «Celiana» (Rav. IV.43). Por outro lado, Ptolomeu menciona uma Caepiana precisamente nesta área geográfica, sugerindo que poderá haver corrupção do seu nome nas diversas fontes. Corrigindo Caepiana para Caeliana (erro perfeitamente aceitável) e a Caeciliana do Itinerário para Caeliana, obtemos concordância entre as fontes, sugerindo que seria este o seu verdadeiro nome.
    Ora, esta bifurcação estrada segue a norte de Palmela rumo a Lisboa, passando na base do Castro de Chibanes (ver itinerário aqui), povoado fortificado indígena onde viria a ser instalada uma guarnição militar no período republicano (Soares et al., 2019: 87), certamente para controlo destas duas estradas que davam acesso aos importantes portos de Setúbal e Lisboa. Deste modo, a relação entre os dois sítios torna-se evidente, com Caepiana/Caeliana/Caeciliana referindo a estação na planície e o Castro de Chibanes o povoado que lhe dei origem (contra Guerra, 2004), podendo nesse caso ser originalmente designado por Caelium ou Caeliobriga (?).

  • 2020

    2020 Setembro
  • Itinerário Chaves - Covelinhas: revisão do traçado entre Panóias e Covelinhas; a via passaria não em Constantim, onde supostamente teria aparecido um miliário, mas a nascente, muito próximo do Santuário Rupestre de Panóias. Daqui a via continuava para sul, mas existiam dúvidas sobre o local de travessia da ribeira de Tanha. A proposta inicial seguia junto do Castro de Abaças, cruzando a ribeira na Ponte da Ribeira; no entanto os fortes declives neste trajecto colocam em dúvida esta proposta. De facto, existe um caminho a nascente bem mais de acordo com a tipologia da viação romana, que segue a leste de Andrães para cruzar a ribeira de Tanha a jusante da Ponte Pedrinha, no sugestivo topónimo «Santiago». Ao longo do seu percurso sucedem-se pequenos santuários com topónimos viários como a Sra. da Guia, Sra. do Bom Caminho e Sra. da Boa Morte, local bifurcava por dois caminhos alternativos rumo a Covelinhas, o principal seguindo por Galafura e um ramal seguindo por Poiares, descendo depois ao rio Douro pela villa ou mutatio da Fonte do Milho (Canelas). Com estes ajustes, finalmente foi obtido um acerto da marcação miliária com os vestígios no terreno, com a estação de Panóias a 16 milhas de Jales e a 12 milhas do rio Douro, típicas distâncias intermédias entre estações viárias.
  • Itinerário Régua - Moimenta da Beira: publicação de uma foto do marco divisório do couto do Mosteiro de Salzedas da autoria de Luís Sebastian e retirada do artigo de Ana Sampaio e Castro "O Couto de Santa Maria de Salzedas: o marco territorial de Cimbres" que integra o catálogo de exposição «Cister no Douro» promovida pelo Museu de Lamego (ver aqui); esta coluna cilíndrica poderá ser um miliário reutilizado da via que ligava a travessia do rio Douro na Régua a Moimenta da Beira, eventualmente assinalando a 10ª milha ao rio Douro.

  • 2020 Julho
  • Itinerário XIX: Braga - Ponte de Lima: revisão da etapa entre os rios Cávado e Lima com alterações pontuais do percurso; como já se vem dizendo, a travessia do rio Neiva não seria feita na Ponte de Goães (ponte medieval sem sinais de romanidade), mas mais a jusante, talvez entre Monte da Ribeira e Lagoeira; esta solução permite integrar melhor os miliários descobertos na área e alinha o trajecto com a continuação da via na outra margem por Anais. O trajecto a partir da Ponte do Prado sobre o rio Cávado seria por Oleiros, Bouça de Atiães, Mata do Jerónimo, Portela das Cabras, Hospital e Monte da Ribeira. Daqui ao rio Lima fazia-se passar a via pelo actual «Caminho de Santiago», seguindo a proposta de Ferreira de Almeida por Queijada rumo à travessia do rio Trovela na chamada «Ponte Nova», ponte que já existia em 1258 (CAF, Almeida, 1968; CAB Almeida, 1990), continuando por Fornelos onde se achou um miliário; no entanto, sempre houve dúvidas se este seria o percurso romano, podendo ser uma variante medieval entretanto construída como o próprio topónimo parece sugerir. Por outro lado, em Souto de Rebordões existe um possível miliário enterrado junto da Quinta das Fontes que caso não esteja deslocado poderia assinalar uma rota alternativa cruzando esta povoação (Colmenero et al., 2004). Uma análise deste trajecto permitiu verificar que de facto esse caminho existe e que é muito antigo, seguindo uma marcação miliária que corresponde à posição do marco e das capelas e alminhas da paróquia, além de um trajecto mais de acordo com a habitual tipologia das vias antigas, evitando por exemplo a travessia da ribeira do Folinho. Outro aspecto muito relevante para validar este percurso são as várias referências a uma «via publica» que cruzava a paróquia nas Inquirições de D. Afonso III, mostrando que esta era de facto uma estrada importante; nesse documento é referido uma «Cividade» que indicia a existência de um antigo povoado tipo castro (PMH Inq. 347). Em função destes dados, é praticamente seguro que a via passaria junto a este local, cruzando depois o rio Trovela junto do sítio do «Passo». Daqui continua por Posa até Ponte de Lima. O traçado destas duas variantes é apresentado neste mapa.

  • 2020 Junho
  • Mapa de Vias: publicação da versão 3.6 do mapa de vias e sítios com a rectificação dos traçados por Amarante, Serra do Marão (descrita abaixo).
  • Miliários: publicação de uma foto actual do miliário de Santos Mártires retirada daqui.
  • Miliários: publicação de um possível miliário inédito reutilizado como suporte de uma varanda de uma casa de Vila Chã (Seia) identificado por Nuno Pinheiro (foto). Tem as seguintes dimensões visíveis (parte está enterrado): 190 cm de altura, 110 cm de diâmetro na base e 104 cm no topo. A proximidade com o marco do cemitério de Santa Comba, recentemente publicado por Vasco Mantas (vide entrada em Fevereiro de 2020), indiciam que pertenceriam à mesma via, ou seja, entre Celorico da Beira e Bobadela; eventualmente este marco estaria também junto do cemitério de Santa Comba, local a 26 milhas de Celorico e a 13 de Bobadela.
  • Miliários: inclusão de várias colunas anepígrafas encontradas nos concelhos de Moimenta da Beira e Sernancelhe, publicadas no «Ficheiro Epigráfico» (FE 731-733).
    - FE 731: "Coluna em Paçô"; possível miliário num muro de propriedade com uma cruz gravada no topo e a data 1848 na lateral.
    - FE 732: "Coluna em Cerca"; possível miliário num olival do lugar da Cerca na freguesia de Castelo (Moimenta da Beira).
    - FE 733: "Coluna em Charangões"; possível miliário descoberto num muro de propriedade no sítio de Charangões ou Chingalhões, entre Lapa (Sernancelhe) e Mouções (Aguiar da Beira), muito próximo da divisória concelhia. Actualmente encontra-se na Junta de Freguesia de Quintela.
  • Miliários: publicação de um 'novo' miliário de Conímbriga que apareceu em 2008 durante escavações da chamada "Casa do tridente e da espada" mas que só agora foi publicado (2020; FE 737); para além deste exemplar existem mais 4 miliários encontrados na cidade, actualmente depositados no Museu Monográfico.
  • Vias - Serra da Estrela: o avanço na georreferenciação dos traçados permitiu clarificar a rede viária que cruzava a Serra da Estrela; este grande obstáculo à circulação até cruzava em várias direcções, mas que aparentemente teria o grande nó viário próximo do Alto dos Carvalhos Juntos e do Casal de Melo. Aqui confluem três vias que fariam parte de grandes itinerários: o primeiro com origem no litoral Atlântico vinha por Viseu, subindo a encosta da serra por Folgosinho; a segunda teria origem no rio Douro e segue por Moimenta da Beira, Aguiar da Beira e Fornos de Algodres, subindo depois à serra por Linhares; a terceira, também com origem no Douro (Vesúvio), passava na sede da Civitas Aravorum em Marialva e ascendia a serra por Lageosa do Mondego. Este local era portanto o local de confluência destes três grandes eixos viários que desciam depois a encosta nascente para cruzar o rio Mondego na Quinta da Taberna, continuando daqui para a estação viária junto do povoado pré-romano de Barrelas (Berecum?) e daqui por «Centum Cellas» e Igaeditana rumo a Mérida.
  • Itinerário Braga - Serra do Marão - Rio Douro: grande revisão do itinerário de Braga à Régua; certamente que existia um itinerário romano ligando Braga a Trás-os-Montes cruzando a Serra do Marão, mas o seu exacto trajecto mantinha-se pouco mais que hipotético; as dúvidas surgem logo na travessia do rio Tâmega em Amarante. A construção da Ponte de São Gonçalo em Amarante parece ser de iniciativa medieval e não há sinais de uma ponte anterior romana; pelo contrário os sinais de povoamento romano surgem mais a montante na área da freguesia de Gatão, onde existe um povoado que poderia designar-se por «Atucausium» com base na ara dedicada a Júpiter pelos Vicani Atucausensis que apareceu na Quinta dos Pascoais (CIL II 6287), actualmente no MSMS, nº 44. Uma outra inscrição, uma ara dedicada a Adus entretanto desaparecida, servia de pia na Igreja de São João Batista (CIL II 2383). Ao colocar a travessia do Tâmega neste local surge uma nova rota mais de acordo com o modelo pré-romano e sem as dificuldades apresentadas pela rota por Amarante. Em particular, a passagem pela chamada «Calçada de Marancinho», troço de via antiga com profundas marcas de rodados que desce pela margem direita da ribeira do Marancinho que deverá ser uma construção (ou reparação) medieval, tal como a Ponte do Fundo da Rua em Aboadela; a continuação deste trajecto para Campeã revela-se também problemático devido às fortes pendentes dos caminhos que sobem a encosta da serra. Assim é mais provável que o itinerário romano cruzasse o Tâmega nas proximidades de Gatão, onde existiria uma ponte antiga com possível origem romana visto que é citada em documentação alto-medieval («Demarcação do bispado de Braga» em 572) como «ad antiquam pontem fluminis Tamice (…)» (apud Balsa, 2017). Daqui segue a sul e a leste de Vila Chã do Marão, onde recebia uma outra via proveniente de Tongobriga por Lomba e Moure (com origem no rio Douro). Continua por «Estalagem Velha», Covelo do Monte, Lameira e Alto de Espinho rumo a Campeã (vide Dias 1987, 1996, 1997 e 1998; A. B. Lopes, 2000, Balsa, 2017). Depois da Campeã seguia talvez até Torgueda onde entronca na via norte-sul proveniente de Chaves e que segue por Santa Marta de Penaguião para a travessia do rio Douro em Peso da Régua e daqui por Moimenta da Beira rumo a Marialva e a Mérida. Aliás este poderia constituir o itinerário privilegiado para ir de Braga a Mérida, dado ser o trajecto mais curto entre as duas cidades.

  • 2020 Maio
  • Mapa de Vias: publicação da versão 3.5 do mapa de vias e sítios com a rectificação de traçados introduzidas desde Setembro 2019 (descritas abaixo). Nesta versão foi introduzido o levantamento dos possíveis nós viários identificados através do marcador "mutationes" mesmo não havendo vestígios que o comprovem. O critério de cores foi também revisto com o objectivo de facilitar a leitura do mapa. Assim, os traçados usam agora apenas 3 cores: amarelo para os traçados principais, verde para as rotas secundárias e o azul para os ramais de interligação entre itinerários principais e suas variantes. Este código de cores visa facilitar a leitura do mapa e não pretende definir como é óbvio uma classificação absoluta do nível de importância da via que em geral é impossível determinar.
  • Itinerário XVI - Braga: a parte inicial do percurso de Braga ao Porto sempre colocou algumas dificuldades (vide e.g. Ferreira, 2012); o trajecto proposto por diversos autores passa na Ponte da Pedrinha, Lomar, Esporões, Trandeiras e Escudeiros, percurso pontuado por vestígios romanos, nomeadamente um miliário de Crispo referido por Argote na "Igreja de Lomar" ("Memórias...", I, 236). A dificuldade em conciliar este percurso com a distância de 35 milhas de Braga ao Porto indicadas no I.A. (distância aliás confirmada por um miliário encontrado em Braga), levou-me a estudar um percurso alternativo mais curto. Desse estudo resultou uma nova proposta de traçado que partindo da saída da cidade pelo Largo de Maximinos, segue pela rua do Cruzeiro, vencendo a primeira milha no lugar da Gandra, junto de bloco granítico de aparência romana, eventual cipo gromático que hoje está na berma da estrada e que saiu das ruínas da casa pegada (foto); (ver 'street view'). A segunda milha seria atingida na travessia do rio Este na ponte antiga (medieval?) no lugar da Ponte Nova; julgo aliás que o local original do miliário a Crispo referido por Argote não seria a Igreja de São Pedro associada ao antigo mosteiro beneditino como tem sido proposto, mas sim junto da Capela de Lomar situada precisamente defronte da travessia do rio Este. Daqui a via seguiria por Costa e Bemposta até às alminhas de São Miguel onde atingia a terceira milha; daqui segue para Figueiredo (onde se assinalam vestígios na «Casa da Vila» e um tesouro monetário em Pipe) e São Vicente do Peso, continuando talvez pelas Alminhas do Sr. Padrão rumo ao nó viário da Portela, de onde descia a Vila Nova de Famalicão por São Cosme do Vale.
  • Itinerário XVI - Rio Ave: a outra correcção efectuada no percurso está relacionada com o local de travessia do rio Ave, tradicionalmente colocada na Ponte da Lagoncinha; no entanto, esta ponte é uma construção medieval sem qualquer vestígio romano pelo que a travessia em período romano poderia ser noutro local mais a jusante. Assim, é possível que a via continuasse por Montezelo (mantendo a mesma directriz) passando na Igreja Paroquial de Lousado onde aliás apareceu um miliário de Magnêncio, seguindo depois para a travessia do rio Ave na «Barca da Esprela», num percurso mais directo e mais curto rumo à Trofa. Deste modo evita-se o duvidoso percurso pela margem esquerda do Ave entre a Ponte de Lagoncinha e a Trofa que foge aos padrões habituais na viação antiga. Com este acerto, a distância total do percurso proposto aproxima-se das 35 milhas mas ainda resta uma diferença significativa que só pode ser explicada por um trajecto mais directo em alguns pontos do percurso.

  • 2020 Abril
  • Itinerário XV - Monte da Pedra: revisão do traçado do Itinerário XV de Santarém a Mérida na área de Monte da Pedra, presumível localização de Fraxinum. São pequenos ajustes mas com grande impacto no acerto da marcação miliária pois vem confirmar a distância indicada no I.A. de 64 milhas a Santarém. A principal alteração foi operada na passagem pelos vincados vales antes de atingir Monte da Pedra. Assim, o percurso anterior que passava no Alto dos Carris passou a adoptar um trajecto mais a sul por São Bartolomeu, Margem e Polvorosas, encurtando o percurso em cerca de 2 milhas. De facto, os vestígios de uma via antiga que se observam no Alto dos Carris pertencem na realidade à via proveniente da travessia do rio Tejo junto a Aritium que ligava a Fraxinum, subindo a encosta pelo caminho de festo que separa as ribeiras da Lampreia e do Carregal, cujo início é aliás assinalado pelo miliário de Monte Galego, ainda hoje na berma da estrada. A via seguia então por Lamerancha e Alto do Vale da Vinha rumo ao Monte da Machouqueira, onde cruza a ribeira da Margem, continuando depois até às Polvorosas, onde conflui no Itinerário XV. A via principal funcionava como um tronco comum de onde partiam as diversas ligações ao rio Tejo que foram também revistas. Para quem vinha de Mérida estes itinerários permitiam uma passagem sem grandes dificuldades em altura, descendo depois pelas linhas de festo aos diversos pontos de travessia do rio Tejo, sendo que em dois desses locais foram identificados miliários, nomeadamente o referido marco de Monte Galego e o miliário do Crucifixo perto de Tramagal. O traçado proposto para Santarém seguia por Bemposta até ao nó viário das Mestas, onde cruza o itinerário XIV, descendo depois a Santarém pelo caminho de festo que passa no Alto da Perna Seca.
  • Itinerário XIV - rio Tejo: para quem vinha de Mértola, chegando à «Encruzilhada das Mestas» poderia optar por descer a Santarém como referido no ponto anterior, mas a directriz do Itinerário XIV que segue por Alter do Chão e Ponte de Sor mostra claramente que esta teria continuação para poente rumo à rio Tejo (Golegã), com diversos miliários ao longo do seu trajecto (Tamazim e Lagoa Grande) e uma estação viária na Galega Nova, onde um outro ramal descia à travessia do rio Tejo em Tancos Seilium (Tomar). Assim, esta constituía uma via independente que integrava o Itinerário XIV mas que não se dirigia a Santarém mas à travessia do rio Tejo nas proximidades da Golegã; a continuação da via na outra margem aponta na direcção de Collippo (próximo de Leiria), seguindo pelas estações viárias de Moitas Venda e Covão da Carvalha. Deste modo, o Itinerário XIV utiliza parte de um grande itinerário ainda mais antigo que ligava presumivelmente a meseta espanhola ao Atlântico. Possivelmente este terá perdido a sua unicidade à medida que Santarém assume o papel de sede administrativa no período romano. Mais uma vez se prova que os «Itinerários de Antonino» utilizam por norma troços de vias independentes, isto é, vias cuja marcação miliária identifica claramente um ponto inicial para contagem das milhas, um «caput viarum», e indirectamente um destino final. Assim se explica por que o I.A. apresenta dois itinerários entre Santarém e Mérida praticamente paralelos que bifurcariam na «Encruzilhada das Mestas», o XV num percurso mais próximo do Tejo sem no entanto o tocar, enquanto o Itinerário XIV seguia uma rota mais directa rumo a Mérida passando por Alter do Chão (Abelterium), num percurso mais curto e menos acidentado que a variante norte, sendo aliás a única que apresenta marcação miliária e obras monumentais como a Ponte da Vila Formosa ao longo do seu trajecto. A configuração da rede viária nesta área parece estar finalmente clarificada, no entanto, subsiste o problema da localização das estações viárias referidas no I.A., Aritium Praetorium e Tubucci. As distâncias indicadas no I.A. colocam a primeira na área da Herdade de Água de Cima e a segunda na área da «Encruzilhada das Mestas», portanto próximo do local onde os dois Itinerários se reuniam e desciam a Santarém, num percurso que rondaria as 30 milhas até ao local de travessia do rio Tejo. O I.A. indica 32 milhas (cerca de 48 km) de Tubucci a Santarém, o que coloca esta estação na Venda das Mestas. Esta posição é também compatível com as 32 milhas indicadas no I.A. daqui à estação seguinte, Fraxinum, dado que pelo percurso proposto estes pontos estão separados por cerca de 48 Km. Em suma, o avanço do estudo tem reforçado esta solução, sabendo porém que a discussão está longe de encerrada.
  • Travessias do rio Tejo: a identificação dos diversos pontos de travessia do rio Tejo segundo um critério arqueológico e geográfico permitiu uma revisão da rede viária na margem oposta, em particular nas vias que seguiam para noroeste para Conimbriga e Seilium cruzando o rio Zêzere. Formaram-se assim grandes itinerários ligando esses oppida a Mérida, apesar dos seus traçados continuarem obscuros em alguns pontos, numa área tão acidentada como é região delimitada pelos rios Tejo, Zêzere e Ocreza (ver aqui).
  • Itinerários de Collippo: em consequência do anterior os itinerários que ligam Collippo a Scallabis e a Eburobrittium foram revistos com melhor identificação das estações e revisão de alguns pontos do traçado (ver aqui). Entre estas duas rotas existia um outra que ligava Aljubarrota à Ota, estrada referida no «Roteiro Terrestre» com estações em Palhota e Tagarro; a sua utilização já no período romano parece segura interligando Collippo a Ierabriga (ver aqui).

  • 2020 Março
  • Itinerário de Eburobrittium a Olisipo: as incertezas no traçado continuam, mas é mais plausível que a antiga estrada seguisse o percurso da «Estrada Real» referida nos «Roteiro Terrestre», passando por São Gião e Ramalhal em vez do percurso pelo vale de Cadaval anteriormente proposto (ver aqui). Na área de Torres Vedras continuam as dúvidas quanto ao local de travessia do rio Sizandro; daqui a Loures, o percurso não tem sofrido grandes alterações.
  • Itinerários - Cadaval: a rota referida acima que partia de Óbidos para sudeste pelo Cadaval não rumaria portanto a Óbidos, mas dirigia-se antes para o Castro de Pragança, importante povoado de longa diacronia situado no acesso à portela da Serra de Montejunto (ver Itinerário de Óbidos a Pragança); aqui entroncava numa outra via na direcção SO-NE com possível origem no litoral Atlântico que seguia por São Gião (onde cruza a via Óbidos-Lisboa), Outeiro da Cabeça, Vilar e Castro de Pragança, cruzando depois a Serra de Montejunto para o Castro de São Salvador e daqui à estação viária de Tagarro (onde cruza a Via Collippo - Ierabriga). Este itinerário está descrito no Itinerário de São Gião a Tagarro por Pragança).
  • Itinerário de Coimbra a Tancos: este novo itinerário segue sensivelmente paralelo ao Itinerário XVI no troço entre Conímbriga e Tomar aproveitando um corredor natural que passa por Eira Velha, Penela, Ansião, Gaita, Arneiro, Rio de Couros, Chão de Maçãs e São Lourenço até Paialvo, onde cruza o Itinerário XVI, continuando depois por Curvaceiras rumo à travessia do rio Tejo em Tancos; daqui subia ao nó viário da Galega Nova onde conflui na estrada para Mérida. Este tramo final do percurso entre Paialvo e Galega Nova segue o percurso da antiga «Estrada Real» que corria por Rio de Couros e Chão de Maçãs (ver itinerário Aeminium - Tubucci).

  • 2020 Fevereiro

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